Existem diversos atletas considerados gênios do esporte devido à sua combinação de talento, visão de jogo, inteligência e resiliência. A genialidade de cada um se manifesta de forma particular e marcante em sua modalidade.
A seguir, a genialidade e as características de alguns dos maiores ícones do esporte:
Michael Jordan (Basquete)
Talento e atletismo: Seu estilo de jogo era dinâmico e forte, com jogadas aéreas espetaculares e enterradas inacreditáveis que o tornaram o jogador mais emocionante do basquete.
Mentalidade inabalável: Jordan encarava os desafios como oportunidades de crescimento, usando as derrotas e as críticas como motivação.
Instinto competitivo: Ele transformava a competitividade em uma arma para evoluir e vencer, sendo um dos jogadores que mais acumulou títulos e detendo a maior média de pontuação da história da NBA.
Lionel Messi (Futebol)
Visão de jogo e execução: Considerado um talento transcendente, Messi hipnotiza o público com sua visão de jogo e execução magistral.
Habilidade e consistência: Ele redefiniu o que é possível em campo, com uma habilidade excepcional, visão de jogo e uma capacidade consistente de marcar gols.
Autoconfiança e inteligência: Sua autoconfiança e entendimento do jogo intimidam os adversários, que muitas vezes se sentem diminuídos ao enfrentá-lo.
Roger Federer (Tênis)
Estilo e elegância: Conhecido pela sua técnica refinada e movimentação fluida em quadra, que fazia o tênis parecer fácil.
Inteligência e reinvenção: Sua longevidade no esporte, adaptando e reinventando seu jogo ao longo dos anos, é prova de sua inteligência tática.
Legado vitorioso: Além do sucesso nas quadras, deixou um legado de partidas memoráveis e uma personalidade inspiradora.
Wayne Gretzky (Hóquei no gelo)
Inteligência e leitura de jogo: Embora não fosse o mais rápido ou atlético, Gretzky possuía uma inteligência e leitura de jogo incomparáveis, antecipando onde o disco estaria.
Posicionamento estratégico: Ele se notabilizou por sua capacidade de se posicionar de forma estratégica, inclusive atrás da rede, para criar jogadas.
Representante do esporte: Além de sua habilidade no gelo, era conhecido por sua classe e dignidade fora dele, tornando-se um dos melhores embaixadores do hóquei.
Serena Williams (Tênis)
Atuação impecável: Dominava as adversárias com atuações impecáveis, conquistando múltiplos títulos de Grand Slam.
Influência e voz ativa: Além do talento esportivo, usou sua influência e voz para promover transformações sociais.
Mentalidade de campeã: É a terceira tenista que mais tempo permaneceu no topo do ranking da WTA, demonstrando sua mentalidade e competitividade.
O esporte, ao longo da história, foi palco de talentos extraordinários que redefiniram seus limites e deixaram um legado duradouro. A seguir, uma seleção de alguns dos maiores gênios esportivos em diferentes épocas e modalidades:
Futebol
Pelé (décadas de 1950 a 1970): Considerado por muitos o maior jogador de futebol de todos os tempos. Liderou a seleção brasileira em três títulos de Copa do Mundo, encantando o mundo com sua habilidade, visão de jogo e número impressionante de gols.
Diego Maradona (décadas de 1980 e 1990): Gênio argentino, conduziu a Argentina ao título da Copa de 1986 com atuações inesquecíveis. Sua técnica, dribles e domínio de bola eram únicos.
Lionel Messi (décadas de 2000 a 2020): Conquistou inúmeros prêmios individuais, incluindo várias Bolas de Ouro, e se tornou campeão da Copa do Mundo em 2022. Sua capacidade de drible e finalização o coloca entre os maiores da história.
Basquete
Michael Jordan (décadas de 1980 e 1990): Revolucionou o basquete com seu talento, competitividade e liderança, levando o Chicago Bulls a seis títulos da NBA. É um dos atletas mais influentes de todos os tempos.
LeBron James (décadas de 2000 a 2020): Conhecido por sua longevidade e capacidade atlética, é um dos jogadores mais completos da história, com vários títulos e prêmios de MVP.
Boxe
Muhammad Ali (décadas de 1960 e 1970): Além de ser um pugilista fenomenal com um estilo de luta inovador, Ali foi uma figura cultural e política importante. Seu carisma e velocidade no ringue o tornaram uma lenda.
Tênis
Roger Federer (décadas de 2000 a 2020): Conhecido por sua elegância e versatilidade em quadra, dominou o tênis por anos e é considerado um dos maiores da modalidade.
Serena Williams (décadas de 1990 a 2020): Uma das maiores tenistas de todos os tempos, com 23 títulos de Grand Slam em simples. Sua força e domínio em quadra marcaram uma era.
Natação
Michael Phelps (décadas de 2000 e 2010): O atleta olímpico mais condecorado da história, com 28 medalhas. Sua versatilidade e domínio na água são incomparáveis.
Confira abaixo. O artigo do autor Lemyr Martins.
Copyright © 2008 Lemyr martins
Supervisão editorial
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Assistente editorial
tatiana FuLas
Projeto gráfico e diagramação
caroLine Biscaino De meLo
Jana tahira
Preparação
imiDio De Pina Barros Jr.
Revisão
teLma Baeza G. Dias
cristiane GouLart
Foto da capa
Lemyr martins (acidente de maurício Gugelmin no GP da França de 1989).
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M344L
Martins, Lemyr
Histórias, lendas, mistérios e loucuras da Fórmula 1 / Lemyr Martins. - 1.ed. - São Paulo : Panda Books, 2008.
1. Corridas de automóveis - História. 2. Automóveis de Fórmula 1 -
História. I. Título.
08-0926.
2008
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agradecimentos
A Verinha Lúcia Lucas Pinto e Valdirene Mendes,
pelo apoio na pesquisa de texto, e Sissi Sdiksztejn
nas fotos, craques do DEDOC-Abril
sumário
1 De Fangio a Schumacher: do “charutinho” ao míssil 7
2 A primeira vitória 10
3 Histórias e lendas de pilotos 38
4 Curiosidades – pilotos 95
5 Largadas malucas 116
6 Bandeiradas espetaculares 134
7 Azar na pista 156
8 Pilotos barbeiros 170
9 Pilotos de prova 177
10 Segundo piloto, primeiro inimigo 179
11 O vice-campeão 182
12 Histórias de Interlagos 185
13 Histórias dos GPs do Brasil 197
14 O circo voador 206
210 O circo das máquinas 15
215 O circo em chamas 16
217 Fórmula 1 é pra mulher 17
223 Amor X tecnologia 18
227 Filhos da pista 19
230 Jóias da Fórmula 1 20
233 Curiosidades – bastidores 21
260 Curiosidades técnicas 22
295 Curiosidades – máquinas e motores 23
298 Maracutaias 24
302 Os chefões 25
317 Pistas e autódromos 26
322 Curvas famosas 27
328 Frases – os pilotos profetas 28
336 Ídolos, heróis e coadjuvantes 29
1
DE FAngiO A SChuMAChEr:
DO “ChArutinhO” AO MíSSiL
Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher dividiram a
Fórmula 1 entre dois grandes recordes: o pentacampeonato
de Fangio, entre 1951 e 1957, e o hepta de Schumi, con
quistado de 1994 a 2004. Duas fases separadas por 45 anos.
A primeira, romântica, dos “charutinhos” e baratinhas dos
heróis quase suicidas, que pilotaram máquinas possantes
em meados do século passado, com destaque para a fantás
tica Auto-Union, do barão Von Stuck, um bólido precur
sor dos F-1 com motor de 16 cilindros e 550 cv, com o qual
o barão atingiu formidáveis 320 km/h, em 1936.
Foi a era das primeiras experiências aerodinâmicas com
os “charutinhos” roliços, sem a sofisticação dos aerofólios,
cintos de segurança, do material incombustível e da eletrô
nica embarcada. Fase em que os pilotos criaram a imagem do
aventureiro de óculos de aviador e echarpe esvoaçando atrás
da cabeça, coberta pela rudimentar touca de couro. O painel
dos carros resumia-se ao velocímetro, marcador de gasolina e
temperatura do óleo. O volante tinha diâmetro próximo ao da
roda dianteira. Computador de bordo era ficção científica.
Alberto Ascari, Giuseppe Farina, Luigi Villoresi, Stir
ling Moss e Fangio, monstros sagrados dos anos 1950, nem
imaginavam um F-1 com as dezenas de controles instalados
7
num volante destacável dos anos 2000. Não se tinha noção
do sistema analógico e digital de ícones multicoloridos, que
sincroniza a ergonomia, os reflexos do homem e os progra
mas mágicos dos minicomputadores de bordo. Esses co-pi
lotos cibernéticos permitiram a Schumacher navegar seguro
a 300 km/h, nas mesmas pistas em que Juan Manuel Fangio,
guiado pelo reflexo e pela intuição, atingiu 271,4 km/h em
vôos cegos há meio século.
O próprio Schumacher admitiu que Fangio fazia mila
gres com suas máquinas. O alemão confessou que não teria
coragem nem de passear num domingo com a Ferrari D50, de
2500 cm3, com a qual Fangio ganhou o quarto título em 1956,
e que Schumi dirigiu num desfile de carros antigos, em 2005.
8
“O importante não é eu ter sido pentacampeão, mas sim
o milagre de ter saído vivo da aventura”, declarou o argentino
no circuito de Nürburgring, Alemanha, ao descer da Maserati
250F, após consagrar a 24ª e última vitória na F-1, a 4 de agos
to de 1957, dia em que emplacou o quinto título mundial.
Do penta de Fangio ao hepta de Schumacher, a Fórmula
1 percorreu um longo caminho de glórias, tragédias e dispa
rada tecnológica. Alguns gênios ficaram pelo caminho, der
rotados pela fatalidade: Jim Clark, Jo Siffert, Jochen Rindt e
Ayrton Senna. Tudo pelo amor à velocidade.
Na primeira década de 2000, os pilotos passaram a ser
espionados pela eletrônica e ligados umbilicalmente ao boxe
pelas ondas da telemetria. O habitáculo de um Fórmula 1
agora é semelhante ao do avião de caça, só não tem o radar
meteorológico dos modernos bombardeiros. Até o ar que o
piloto respira vem do tubo de oxigênio instalado no cockpit e
conectado ao capacete integral superblindado, imune a pro
jéteis balísticos e resistentes a choques de uma tonelada.
No volante destacável, há botões para as mais diversas
funções dos protótipos: o que regula o regime do motor, o
de acionamento do câmbio semi-automático, os que regu
lam o freio e o funcionamento da bomba de gasolina, o que
limita a velocidade máxima na entrada nos boxes, o inter
ruptor que dispara os extintores de incêndio do carro. No
centro da direção, uma tela de cristal líquido sinaliza gasto
de combustível, voltas percorridas, a percorrer, tempos in
termediários e velocidades dos setores parciais do circuito
nas curvas e retas. Além de todos esses controles, há um
programa – batizado pelos pilotos de “dedo-duro” – que
grava na memória do computador de bordo todas as infor
mações sobre as ações do piloto em frenagem e aceleração,
o gasto de combustível e as reações do chassi e do motor.
Essas sofisticações transformaram os pilotos da Fór
mula 1 do segundo milênio em teleguiados. Foi com elas – que inexistiam na era Fangio – que o impetuoso Michael
Schumacher chegou a seu sétimo título.
O argentino Fangio estreou na Fórmula 1 aos 39 anos,
venceu a primeira corrida na temporada de estréia, o GP de
Mônaco, e encerrou a carreira aos 47, com a proeza de ter
sido campeão por todas as marcas com que competiu: Alfa
Romeo, Mercedes-Benz, Ferrari e Maserati. Fangio venceu
24 corridas e contabilizou 245 pontos nas 51 provas que
disputou, atingindo a melhor média da história da catego
ria, com 5,44 pontos por Grande Prêmio.
Irônica, entretanto, é a coincidência que direcionou es
ses dois supercampeões para a glória na Fórmula 1. Ambos
queriam ser craques de futebol: Schumacher foi dispensado
depois de várias tentativas porque, embora fosse muito ve
loz, faltava-lhe habilidade com a bola. Já Fangio, o “Chueco”,
assim chamado por causa de suas pernas tortas, à Garrincha,
foi barrado em sua primeira grande paixão por ser gordinho.
E, por não lhes deixarem acertar o pé na bola, torna
ram-se os maiores craques que já pisaram na Fórmula 1.
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A PriMEirA VitóriA
10
Diferente de todo mundo, que não esquece a primeira vez,
o piloto italiano Giancarlo Fisichella jamais esquecerá a se
gunda. Sim, porque ao vencer o GP da Austrália de 2005, ele
comemorou a vitória por duas, porque a primeira, no GP do
Brasil de 2003, aconteceu numa corrida confusa, interrompi
da por causa da chuva a 17 voltas do final, com dez pilotos aci
dentados e o finlandês Kimi Raikkonen declarado vencedor.
O resultado foi revisto em favor de Fisichella, mas ele
só recebeu a taça 15 dias depois, na véspera do GP de San
Marino, sem festa e com desenxabidas desculpas dos carto
las da FIA. Daí o “Físico” – assim chamado por seus conter
râneos – ter sido o único dos pilotos da Fórmula 1 a fazer a
festa da primeira vitória juntamente com a da segunda, de
fato e direito. Esta, sim, com hino, pódio e champanhe, em
seu 143º Grande Prêmio disputado.
A primeira vitória não só consagra o vencedor, com a en
trada na galeria dos célebres da Fórmula 1, como também deixa
lembranças dramáticas e curiosos relatos de seus ganhadores.
Enzo FErrari dErrotou o primEiro amor
Em 1936, Enzo Ferrari foi contratado pela Alfa Romeo
para formar a escuderia oficial das ágeis Alfeta e ser seu diretor
esportivo. No entanto, por força de contrato, ele ficava proibi
do de usar o sobrenome como marca de qualquer tipo de auto
móvel ou símbolo de equipe esportiva por dez anos.
Porém, tão logo venceu o impedimento contratual
com a Alfa Romeo, Ferrari construiu a 125, com motor
1.5 V12C. Uma máquina que ele não inscreveu na corrida
inaugural da Fórmula 1, a nova categoria que teve a primei
ra largada no circuito de Silverstone, no GP da Inglaterra,
em 13 de maio de 1950, preferindo lançar seus carros no
GP de Mônaco, com os pilotos Alberto Ascari, Raymond
Sommer e Peter Whitehead.
A Alfa Romeo dominou fácil a primeira temporada,
com Nino Farina sagrando-se campeão, Juan Manuel Fan
gio vice e Luigi Fagioli o terceiro.
Mesmo sem vitória, Enzo Ferrari aproveitou o primei
ro ano de experiência e lançou o modelo 375 de motor 4,5
litros V12, disposto a desafiar as voadoras Alfa 159B que
ele tinha ajudado a criar.
O primeiro sinal do confronto apareceu na classificação
do GP da Inglaterra, em 14 julho de 1951. Naquela corrida,
Froilán González emplacou a pole-position com o modelo 375,
cravando 1min43s4, exatamente um segundo mais rápido
que a Alfa de Juan Manuel Fangio. Mas ainda era cedo para a
Ferrari sonhar, afinal os Alfa Romeo haviam vencido as três
primeiras corridas do ano, na Suíça, na Bélgica e na França.
De qualquer forma, o duelo anunciado ocorreria em
Silverstone: as quatro Ferrari, pilotadas por Alberto Ascari,
Froilán Gonzáles, Luigi Viloresi e Peter Whitehead, contra
o quarteto das até ali invencíveis Alfa 159B de Juan Manuel
Fangio, Nino Farina, Felice Bonetto e Consalvo Sanesi. Os
Talbot e os BRM, de pilotos independentes, foram apenas
moldura para a batalha das marcas italianas. Depois de 90
voltas, percorridas em 2h42min18s, a Ferrari número 12 do
11
argentino Froilán González recebeu a bandeirada 51 segun
dos à frente da Alfa do conterrâneo J. M. Fangio.
José Froilán González, o “El Cabezón” dos portenhos,
e o “don Pepe” para o patrão, conquistou para si e dava à
Ferrari a primeira vitória na Fórmula 1. Um triunfo que di
vidiu o coração do grande capo Enzo Ferrari e que ele regis
trou dessa forma em sua autobiografia: “Fui meu próprio
algoz ao impor aquela derrota à Alfa Romeo. Tive a sensa
ção de que acabava de matar minha mãe”.
Fangio pErdEu a taça da primEira vitória
12
Quando estreou na F-1, em 1950, Juan Manuel Fan
gio já tinha 39 anos, cabelos ralos, pernas tortas e um por
te físico pouco atlético, comprometido pela barriga proe
minente. Mas aquele gorducho argentino sabia vencer, e
isso ocorreu pela primeira vez logo na segunda corrida da
existência da Fórmula 1, em 11 de maio de 1950, no GP de
Mônaco.
Luigi Fagioli, um dos parceiros de Fangio na Alfa Romeo,
contou que antes dos treinos livres o argentino fez várias vol
tas a pé pelo sinuoso circuito do Principado. Examinou cada
curva, fez cálculos das freadas e mediu as futuras manobras
na estreita entrada e saída do túnel. Era a primeira corrida da
F-1 naquele traçado, e o matreiro Fangio memorizou o circui
to antes de navegar pelas vielas de Mônaco.
Deu certo. Depois de uma hora de tentativas na classi
f
icação, ele cravou o tempo de 1min52s2, 2,5s melhor que
o favorito da prova, Nino Farina, o segundo colocado, seu
parceiro e adversário na Alfa Romeo.
Fangio tomou aquelas providências por querer largar na
frente, pois, como se não bastasse a estreiteza da pista de Mô
naco, o grid era formado por filas de 3-2-3 carros. Pensou bem
e fez melhor, pois chegou na primeira curva, a famigerada Saint
Dévote, 50 metros à frente do segundo colocado. Mas antes de
fechar a primeira volta, ele viu um inferno pelo retrovisor de
sua Alfa Romeo, mais exatamente na curva Bureau de Tabac,
local onde metade dos 22 carros do grid se envolveu num múl
tiplo acidente e nove deles viraram sucata.
Depois da prova, Fangio contou que cada vez que contor
nava a curva fatídica só não erguia as mãos para o alto para agra
decer aos céus porque tinha de mantê-las no volante, tal era o
temor de rodar no óleo que empoçou aquele trecho da pista.
O suspense durou 3h23min. Quando o argentino
completou as 100 voltas da corrida, sua mão direita esta
va cheia de bolhas, pelo esforço de segurar a alavanca do
câmbio que escapava nas milhares de trocas de marcha exe
cutadas durante a prova. Ele respirou aliviado, mas depois
confessou que questionou o valor daquele sacrifício e o ris
co para vencer um Grande Prêmio.
Juan Manuel Fangio não recebeu as honras oficiais da
primeira vitória. Ele não compareceu à festa da premiação.
Trocou o glamour do aristocrático baile do Principado, onde
deveria receber o troféu, pela solidariedade. Renunciou à
pompa para dirigir, por mais oito horas, o automóvel em
que conduziu os amigos Froilán González e Alfredo Pián –
pilotos argentinos feridos no acidente da curva Tabac – para
o Hospital Maggiore de Bolonha, Itália.
mauricE trintignant:
a vitória FEita com sanguE
Aquele GP de Mônaco foi a segunda corrida da tempo
rada de 1955 e a 43ª da Fórmula 1. A grande atração era o
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14
enfrentamento entre 18 máquinas italianas (cinco Ferrari,
oito Maserati e cinco Lancia) contra o quarteto das voado
ras Flechas Prateadas germânicas, da Mercedes-Benz.
Maurice Trintignant já sabia que não seria fácil posi
cionar bem a sua Ferrari 625-2.5 no grid, por isso não ha
via se decepcionado com a nona posição na largada. Lá na
frente, dominando a primeira fila, estava o trio de favoritos
formado pelo pole-position Juan Manuel Fangio, Stirling
Moss, ambos a bordo da Mercedes-Benz W196, e Alberto
Ascari, da Lancia D50.
Mas o simpático e corajoso Pétoulet foi à luta. Pétoulet
(cocô de rato, em francês) foi um apelido que Trintignant
ganhou no GP da Libertação, disputado em Bois de Bou
logne, em Paris, em 1945. Aquela era a primeira corrida de
carros Grand Prix após a Segunda Guerra Mundial, mas
Trintignant não largou por causa das fezes dos ratos que
impregnaram o tanque do seu Bugatti na longa inatividade.
Jean-Pierre Vimille, piloto francês, então apelidou o amigo
de “Pétoulet”, apodo que ele assumiu, carregou pelo resto
da vida e com o qual batizou os vinhos chateau que produ
ziu após abandonar o automobilismo.
O GP de Mônaco, naquela fase romântica da F-1, era
disputado em 100 voltas e 318 quilômetros, completa
dos em três horas de sacrificada competição. Portanto, era
preciso, além de um carro forte e competitivo, um piloto
rápido e técnico, para enfrentar as armadilhas do sinuoso
circuito urbano do Principado, e uma pitada de sorte.
Maurice Trintignant teve tudo isso e muita coragem.
Ele não desistiu de competir, nem após presenciar a morte
do irmão Louis na pista, tampouco depois do terrível aci
dente que sofreu no GP da Suíça de 1948. Naquela corrida,
ele voou fora do carro, foi declarado clinicamente morto
durante um minuto e meio, caiu em coma, mas recuperou
se em uma semana. Já no GP de Mônaco de 1955, Trintig
nant precisou sangrar para consumar duas primeiras vitó
rias históricas na Fórmula 1: a sua e a de um piloto francês.
Ele largou muito bem. Aproveitou as confusões nas
freadas da primeira volta entre os Lancia de Alberto Asca
ri, Eugenio Castellotti e Luigi Villoresi para subir de nono a
quinto colocado. Depois, poupou a máquina e o físico até
a metade da prova, preparando-se para ultrapassar a Ferra
ri de Giuseppe Farina e a Maserati de Jean Behra. Na 49ª
volta, quando Alberto Ascari errou uma tomada de curva
e caiu no mar, e a Mercedes-Benz de Juan Manuel Fangio
quebrou a transmissão, o francês assumiu a ponta.
Trintignant venceu, mas cruzou a bandeirada depois
de 2 horas e 58 minutos, ensopado de suor e quatro quilos
mais magro. A palma da mão direita estava em carne viva,
dilacerada pelo esforço das 4.760 trocas de marchas, execu
tadas no câmbio endurecido da sua Ferrari durante a prova.
Foi o único piloto a completar as 100 voltas (uma à frente
do quinto colocado; 14, do oitavo, o parceiro de Ferrari,
Piero Taruffi; e 19, da Mercedes-Benz de Stirling Moss,
nono e último classificado).
Maurice Trintignant morreu aos 87 anos, em fevereiro
de 2005. Ele só venceu mais uma corrida nos 82 Grandes Prê
mios que disputou, entre 1950 e 1964, ironicamente na mes
ma pista, no GP de Mônaco de 1958. Porém, ficou famoso
pelo primeiro triunfo, não só pelas cicatrizes eternas na mão,
mas por outro fato pitoresco que contou em Monte Carlo, em
1995, no 40º aniversário da primeira vitória. Assim que ele
parou a sua Ferrari no boxe, quase imobilizado pela fadiga,
o médico do Grande Prêmio assustou-se ao ver a perna di
reita do macacão do piloto encharcada de sangue e apressou
se em pedir uma maca para transportá-lo ao hospital. O que
o doutor não sabia é que aquelas manchas surgiram porque
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Trintignant enxugava o sangue da mão ferida pela alavanca
do câmbio. “Pétoulet” ainda divertiu-se com a confusão, im
plorando ao médico que não lhe amputasse a perna.
EmErson Fittipaldi:
tributo ao hErói morto
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Emerson Fittipaldi tinha conquistado o terceiro lugar
na classificação do GP dos Estados Unidos de 1970, em
Watkins Glen, e estava na primeira fila, porque a largada,
na época, era dada em filas de três e dois carros. Ele tinha
ganho o posto de primeiro piloto da Lotus havia três sema
nas, desde o acidente fatal que vitimara Jochen Rindt, seu
parceiro de equipe no GP da Itália, na pista de Monza.
Já dentro do carro, Emerson examinou os pilotos que
largavam com ele naquele grid e se sentiu numa ilha de ce
lebridades. Ao seu lado, alinhavam-se o bicampeão Jackie
Stewart, da Tyrrell, e o pole-position Jacky Ickx, numa fla
mante Ferrari.
Pelo retrovisor direito, reconheceu três campeões do
mundo: Graham Hill, John Surtess e Denny Hulme. No
espelho esquerdo, viu outras feras: Clay Regazzoni, Jean
Pierre Beltoise, Jo Siffert e Chris Amon, mas não desco
briu Jack Brabham, embora soubesse que o australiano tri
campeão estava lá, na oitava fila.
Antes da largada, Colin Chapman, o carismático chefão
da Lotus, fez questão de renovar os parabéns pela terceira co
locação de Emerson no grid e ainda cutucou o ego do piloto
com um elogio apropriado para o momento: “Ninguém faria
nada melhor que você com este carro”, afagou Chapman.
Emerson não sabe se foi contaminado por algum vírus
ou se era puro nervosismo, mas teve febre de 40 graus na
véspera da corrida. Durante os dois dias que antecederam
os treinos, o piloto sentiu náuseas, tonturas, dormiu mal e
confundia lembranças com pesadelos. Esteve tão ruim que
o próprio Chapman bancou o enfermeiro, aplicando-lhe
injeções. Depois ele mesmo admitiu que não fora simples
mente uma gripe.
Quando foi exibida a placa de cinco minutos para a
largada, Chapman deu um tapinha no ombro do seu pilo
to e apelou novamente à psicologia: “Você foi brilhante até
agora, o resto vai ser fácil”. Aquele “fácil”, Emerson tradu
ziu como “vá fundo”, “use todos os 440 cv do motor Ford
Cosworth até vencer os 399 quilômetros da prova”.
Emerson largou bem. Foi arrojado para pular à fren
te de Jacky Ickx e prudente para não dividir a freada da
primeira curva com Jackie Stewart. Agora estava na luta.
Não era mais sonho nem pesadelo, tinha encarado realida
de adentro. Manteve um ritmo rápido e seguro. Quando
o motor da Tyrrell de Jackie Stewart estourou, na 82ª das
108 voltas da corrida, ele já estava senhor da situação. Co
locou voltas nos velhos ídolos Jack Brabham e Graham Hill
e executou outra dúzia de ultrapassagens, na maior natura
lidade. Mas deixar a Ferrari de Jacky Ickx uma volta atrás
foi atingir as nuvens.
Quando Emerson cruzou a bandeirada e viu Colin
Chapman cumprir o ritual de jogar o tradicional boné pre
to para o ar nos triunfos da Lotus, lembrou que aquela sua
primeira vitória valia um título mundial. Dava a coroa de
campeão post mortem ao ex-companheiro de equipe Jochen
Rindt. Uma proeza estupenda para marcar a primeira das
suas 14 vitórias da carreira de bicampeão. Aí Emerson vol
tou à Terra e chorou: por Rindt, pela primeira vitória e pela
felicidade de ser piloto, inaugurando o roteiro que o levaria
à galeria dos grandes vencedores da Fórmula 1.
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lauda, a vitória do piloto-computador
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Luca di Montezemolo, então diretor esportivo da Ferrari,
causou surpresa geral quando anunciou que seus pilotos para a
temporada de 1974 seriam Clay Regazzoni e Niki Lauda. Não
por Regazzoni, piloto já experiente, mas por Lauda. Afinal,
aquele austríaco de 25 anos não fora um fenômeno nas fór
mulas menores e também não brilhara em seus dois primeiros
anos na Fórmula 1. Tinha estreado a bordo de um March-Ford
711, no GP da Áustria de 1971, e disputado o campeonato de
1973 pela BRM, sem fazer nada de notável além de um discre
to quinto lugar no GP da Bélgica.
Aí surge Montezemolo, dá aura de primeiro piloto
àquele austríaco caladão de dentes incisivos à mostra e pro
fetiza: “Ele vem para a Ferrari para ser campeão”. O circo,
então, ficou de prontidão, à espera da resposta de Andreas
Nikolaus Lauda.
Já na terceira corrida, com a Ferrari 312B3, no GP da Áfri
ca do Sul, Lauda fez a volta mais rápida e marcou a primeira das
nove pole-positions conquistadas nos 15 Grandes Prêmios de
1974. Era um indício de que a Ferrari tinha acertado na aposta,
e o primeiro grande momento do jovem austríaco ia acontecer
no GP da Espanha, em Jarama, na 30ª corrida de sua carreira.
Niki Lauda fez tudo que era possível: pole-position e vol
ta mais rápida, consagrando a primeira vitória numa corrida
perfeita. No pódio, ao lado de Clay Regazzoni e Emerson
Fittipaldi, o austríaco parecia criança. Assediado por um ba
talhão de jornalistas italianos, Niki tinha dificuldades em re
produzir os detalhes daquela primeira vitória, que, para ele,
parecia uma façanha simples. Elogiava a máquina, agradecia
o trabalho dos boxes, com deferência especial ao carismático
Hermano Coghi, seu mecânico-chefe e decano na Ferrari. A
festa foi longa, e Lauda suportou tudo olimpicamente: posou
para centenas de fotos, foi paciente nas entrevistas, curtiu o
primeiro triunfo com risos e incisivos à mostra, como se os
dentes não lhe coubessem na boca.
A profecia de Luca di Montezemolo seria questão de tem
po: Niki Lauda se transformaria no homem-computador da
F-1 pela regularidade da pilotagem. Foi tricampeão mundial,
vencendo outros 24 Grandes Prêmios. O triunfo se tornou
uma rotina em sua vida, a ponto de, na 25ª vitória, no GP da
Holanda de 1985, ele sequer comparecer ao pódio.
JacquEs laFFitE, hErói da França
A primeira vitória de Laffite, no GP da Suécia de 1977,
f
icou famosa por marcar também o primeiro triunfo de um
carro com motor e piloto franceses na história da Fórmula
1. A façanha foi alcançada com o Ligier JS7, apelidado de
“Quasímodo”, por causa da enorme tomada de ar sobre o
motor, impulsionado pelo melódico propulsor Matra de
12 cilindros.
Jacques Henri Laffite, que se tornou herói nacional,
com nome de rua em Paris, embebedou-se com champanhe
e glória, e a França, embalada pelas manchetes pirotécnicas
de seus jornais, comemorou o grande feito daquele 19 de
junho como uma nova Queda da Bastilha.
alain prost, o pEquEno grandE campEão
A estréia em vitórias do Le Petit Alain foi totalmente tri
color. Aconteceu em território francês, no circuito de Dijon
Prenois, no GP da França de 1981, com o Renault RE30, o
19
20
primeiro carro com motor turbocomprimido da F-1 a vencer
um Grande Prêmio. Foi uma vitória difícil, porque Nelson
Piquet liderou com folga 58 das 80 voltas previstas, até a cor
rida ser interrompida por causa da chuva. Na segunda larga
da, Prost tomou a ponta e comandou a prova nas 22 voltas
restantes. Nem no topo do pódio o francesinho parecia acre
ditar na façanha. Sua pequena silhueta parecia flutuar entre
Piquet e John Watson, e, enquanto soou a Marselhesa em
Dijon-Prenois, Prost segurou as lágrimas com caretas entre
cômicas e emocionadas. Naquele 5 de julho de 1981 nascia o
maior herói francês da Fórmula 1.
Jean Sage, diretor esportivo da Renault, deu um depoi
mento profético na ocasião. “Esse triunfo de Alain Prost”,
disse ele, “é o presságio de que está nascendo o campeão
que a França espera há três décadas”.
Sage acertou. O pequeno Alain, de 1,62 metro – um
piloto com gabarito de jóquei, como diziam os franceses –, se tornaria tetracampeão e o segundo maior vitorioso da
existência da Fórmula 1. Prost venceu 51 Grandes Prêmios
e só foi batido por Michael Schumacher.
nElson piquEt E a primEira molEcagEm
É inesquecível a cara fechada e grave, até meio encabu
lada, de Nelson Piquet em sua primeira vitória, no GP dos
Estados Unidos-Leste de 1980, em Long Beach. Ao contrário
do semblante costumeiramente maroto, Piquet tinha a cara
do menino que cometera uma travessura, não descontraindo
nem no ritual do champanhe. Mas quando viu Emerson Fit
tipaldi, que tinha fechado a corrida em terceiro com o Coper
sucar-Fittipaldi, ao seu lado no pódio, ele resistiu e ironizou,
f
ingindo surpresa: “Ué! O que você está fazendo aqui?” O artigo do autor Lemyr Martins
Confira no Site Tudo sobre Fórmula 1 .ttps://www.tudosobreformula1.
Tanto o talento natural quanto a inteligência são aspectos cruciais para o sucesso de um piloto na Fórmula 1.
Aqui está uma comparação dos dois:
Característica Talento Natural Inteligência
O talento natural é a Habilidade inata ou dom natural para a pilotagem, incluindo reflexos rápidos, coordenação motora excepcional e sensibilidade ao comportamento do carro. . A inteligência é capacidade do piloto de processar informações, tomar decisões estratégicas, compreender o carro e a corrida, aprender rapidamente e se adaptar a diferentes condições.
Exemplos de F1 Michael Schumacher no seu primeiro treino na F1, sendo 0.7s mais rápido que o colega de equipe Andrea De Cesaris. Max Verstappen, descrito por Jenson Button como "o piloto mais naturalmente talentoso que ele já viu". Andrea Stella, chefe da McLaren, destacou que grandes pilotos possuem capacidade mental, além de talento. O empresário de Yuki Tsunoda, Diego Menchaca, ressaltou a inteligência do piloto japonês.
Papel no Sucesso Permite que o piloto execute manobras precisas, reaja rapidamente a situações inesperadas e atinja o limite do carro. Ajuda o piloto a entender o carro e a pista, otimizar a estratégia de corrida, adaptar-se às mudanças nas condições da pista, gerenciar pneus e combustível, e se comunicar efetivamente com a equipe.
Em resumo, o talento natural pode fornecer uma base sólida, mas a inteligência é o que permite ao piloto maximizar esse talento e ter sucesso a longo prazo na Fórmula 1.
Confira a História da Fórmula 1 .https://pt.wikipedia.org/wiki/
O talento e a inteligência dos super gênios e gênios na Fórmula 1, se manifesta de acordo com as formações técnicas e intelectuais de cada década na Fórmula 1.
Confira meu artigo. .Link: https://leandroliveiraribeirob
O que torna comparações entre super gênios e gênios inviável quando se tratam de décadas muito distintas.
confira as Estatísticas Pilotos da Fórmula 1 .https://www.statsf1.com/pt/ Imagem ; Site tudo sobre Fórmula 1. |
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