Um clube desportivo é uma associação privada, sem fins lucrativos, dedicada à promoção e prática de atividades desportivas para os seus membros. Organizado sob forma associativa, visa fomentar o desporto e o lazer, embora possa ter um foco específico em competição, desenvolvimento de atletas ou atividades sociais e culturais ligadas ao desporto.
Características principais:
O objetivo principal não é o lucro, mas sim o fomento da atividade desportiva, como explicado em algumas fontes.
É uma entidade de direito privado, aberta à adesão de membros, que paga uma taxa anual para ter acesso às instalações e desfrutar das atividades oferecidas.
A sua missão é promover e facilitar a prática de diversas modalidades desportivas.
Além do desporto, podem organizar atividades sociais, culturais e de lazer para os seus associados, como mencionado por cbclubes.
Desempenha um papel importante na comunidade, criando laços e promovendo o convívio através de eventos e atividades.
Fontes de financiamento:
Taxas de associados:
Os pagamentos regulares feitos pelos membros são uma fonte essencial de receita.
Patrocínio:
Contratos com patrocinadores podem financiar as atividades e a manutenção do clube.
Merchandising:
A venda de produtos licenciados da equipa ou clube pode gerar receita.
Direitos de transmissão:
Em alguns casos, os clubes podem obter rendimento através dos direitos de transmissão dos seus jogos ou eventos.
Eventos e bilhetes:
A organização de eventos e a venda de bilhetes para as partidas também são fontes de financiamento.
Diferenças com outras entidades:
Associação Desportiva:
No Brasil, a legislação utiliza o termo "associação desportiva" para se referir aos clubes desportivos.
Sociedade Desportiva:
Em alguns contextos, como Portugal, um clube desportivo pode criar sociedades com fins desportivos para gerir setores comerciais da sua atividade, mantendo o seu estatuto de associação sem fins lucrativos.
O financiamento dos clubes de futebol baseia-se em receitas de patrocínios, direitos de transmissão, venda de atletas e bilheteria, mas muitos clubes acumulam dívidas significativas, especialmente com a recente consolidação das casas de apostas, o que tem levado à busca por profissionalização e à criação de modelos de Fair Play Financeiro, como o anunciado pela CBF, para garantir a sustentabilidade do setor.
Fontes de Receita e Despesa
Receitas Principais:
Patrocínios: O crescimento de casas de apostas e de outros patrocinadores tem sido fundamental para aumentar as receitas dos clubes.
Direitos de Transmissão: A receita gerada pela venda dos direitos de transmissão de jogos e competições é uma das maiores fontes de financiamento.
Venda e Negociação de Jogadores: O mercado de atletas movimenta cifras importantes e contribui significativamente para o orçamento dos clubes.
Bilheteria: A receita gerada pela venda de ingressos para os jogos também é uma fonte de renda importante.
Salários e Encargos: O pagamento dos salários de jogadores, técnicos e outros funcionários representa uma despesa considerável.
Dívidas e Financiamentos: O pagamento de dívidas antigas e financiamentos é um dos principais custos para os clubes.
Manutenção e Infraestrutura: A manutenção de estádios, centros de treinamento e outros ativos do clube também gera despesas.
Endividamento e Endividamento
Apesar do aumento das receitas, os clubes brasileiros têm apresentado um crescimento expressivo de suas dívidas, que somaram R$ 14,6 bilhões em 2024, segundo o relatório da Galapagos Capital.
O Corinthians lidera a lista dos clubes mais endividados, seguido por Atlético-MG SAF e Cruzeiro SAF, conforme levantamento da VEJA e CNN Brasil.
Profissionalização e Fair Play Financeiro
A CBF está desenvolvendo um modelo de Fair Play Financeiro para o futebol brasileiro, com o objetivo de criar um ecossistema financeiro mais sustentável e autossuficiente, controlando os gastos e combatendo o endividamento.
Um grupo de trabalho com representantes de clubes, federações e especialistas está atuando na criação deste regulamento, que visa estabelecer práticas de governança e gestão financeira mais responsáveis.
A criação de cursos e a demanda por profissionais qualificados em gestão financeira para clubes de futebol são passos importantes para atrair investimentos e garantir a sustentabilidade do setor, aponta a CBF Academy. Segundo especialistas nos veiculos de imprensa no Brasil.
Os clubes de futebol no Brasil, enquanto Associações Civis sem fins lucrativos, tradicionalmente não dividem lucro, reinvestindo qualquer sobra de caixa na própria estrutura do clube, em vez de distribuí-la aos membros. Contudo, a introdução da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) representa uma mudança significativa, pois permite que os clubes se transformem em empresas que podem, sim, distribuir lucros, emitir ações e atrair investimentos, o que antes era dificultado pela antiga estrutura.
Clima de associação sem fins lucrativos:
A maioria dos clubes de futebol brasileiros operava como associações civis sem fins lucrativos, formadas por pessoas físicas que se organizavam para um fim comum.
Não há distribuição de lucros:
O lucro não era distribuído aos membros, mas sim reinvestido na estrutura do clube.
Dificuldade de investimentos:
Essa falta de estrutura lucrativa afastou investimentos e tornou as dívidas mais caras.
O surgimento da SAF:
A SAF foi criada como uma alternativa para permitir que os clubes operassem como empresas, podendo gerar lucro e distribuir dividendos aos acionistas.
O modelo de SAF facilitou a captação de investimentos, a emissão de ações e a renegociação de dívidas, aspectos antes difíceis para a gestão dos clubes.
A SAF também impõe uma responsabilidade fiscal maior, destinando parte das receitas para o pagamento de dívidas, e muda a gestão, com o dono escolhendo o diretor executivo.
Com a SAF, os clubes podem, finalmente, ter um modelo de negócio voltado para o lucro, o que não era possível no regime de associação.
A SAF abre portas para que o futebol brasileiro se organize de forma mais moderna e corporativa, atraindo capital e trazendo maior sustentabilidade financeira para as agremiações. Segundo especialistas nos veículos de imprensa no Brasil
Um banco é um tipo de instituição financeira especializada em guardar dinheiro (depositar), conceder empréstimos, oferecer contas correntes e realizar outras operações financeiras, atuando como intermediário entre quem tem dinheiro e quem precisa. No entanto, "instituição financeira" é um termo mais amplo que abrange várias organizações autorizadas a oferecer serviços financeiros, como corretoras de valores, seguradoras, e bancos de investimento, todas com o objetivo de gerenciar e circular recursos financeiros.
O que é uma Instituição Financeira?
Uma instituição financeira é qualquer empresa ou organização que atua no setor financeiro, oferecendo serviços como:
Empréstimos e Financiamentos: Concessão de crédito para pessoas e empresas.
Investimentos: Intermediação de recursos para compra de ativos financeiros.
Gestão de Dinheiro: Custódia e administração de recursos financeiros de terceiros.
Outros Serviços: Operações de câmbio, seguros, entre outros.
O que é um Banco?
Um banco é um tipo específico de instituição financeira com características próprias:
Intermediação:
Capta dinheiro de quem tem (poupadores) e o empresta para quem precisa, ganhando com os juros.
Contas Correntes:
Oferece a capacidade de abrir e manter contas para depósitos, saques e pagamentos.
Ampla gama de serviços:
Além dos serviços básicos, oferece produtos como financiamentos, crédito imobiliário, operações de câmbio e investimentos.
Todo banco é uma instituição financeira, mas nem toda instituição financeira é um banco .
A principal diferença é que os bancos oferecem contas correntes e uma rede de agências, o que nem sempre ocorre em outras instituições financeiras.
Outras instituições financeiras, como corretoras e seguradoras, têm funções mais específicas dentro do mercado financeiro.
Ambos são regulados por órgãos governamentais, como o Banco Central do Brasil (BC), que estabelece regras e fiscaliza as operações para garantir a estabilidade do sistema financeiro.
Os bancos dividem os seus lucros principalmente através de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP), que são pagos aos acionistas de acordo com a política de cada instituição financeira e a legislação em vigor. A porcentagem do lucro distribuída, conhecida como payout, pode variar entre os bancos e ao longo do tempo, sendo influenciada pela necessidade de caixa, metas de capital e perspectivas de mercado.
Como funciona a divisão dos lucros dos bancos:
Os bancos obtêm seus lucros principalmente da intermediação financeira, ou seja, da diferença entre os juros que cobram dos empréstimos e os juros que pagam em depósitos.
Cada banco tem uma política de distribuição de dividendos e JCP, que define a porcentagem do lucro a ser paga aos acionistas.
Essa porcentagem é chamada de payout e varia entre os bancos e até mesmo dentro do mesmo banco ao longo do tempo, como demonstram os dados históricos do Banco do Brasil.
O restante do lucro, após o pagamento de dividendos e JCP, pode ser retido para reservas, reinvestido na expansão das operações e em tecnologias ou utilizado para outras finalidades estratégicas do banco.
A divisão dos lucros não beneficia apenas acionistas privados, mas também o governo, no caso de bancos estatais como o Banco do Brasil, que repassam parte desses recursos.
O Banco do Brasil, por exemplo, reduziu a sua projeção de payout de 40%-45% para 30%, uma decisão tomada com base em diversos fatores internos e de mercado, segundo o InfoMoney.
Essa distribuição de lucros é um processo fundamental para o funcionamento das instituições financeiras e para o retorno aos seus investidores, mas também pode gerar debates sobre o impacto dessas políticas no desenvolvimento econômico do país. Segundo o Jornalista e Mestre Edson Rossi, no sétimo período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAAM FAAM).
Porto. Faculdade de Economia Universidade do Porto.
Internacionalização dos clubes de futebol João Pedro Barbosa Malpique de Paiva Lopes
Dissertação
Mestrado em Economia e Gestão Internacional
Orientado por
Professor Doutor Óscar Afonso
2023.
João Pedro Barbosa Malpique de Paiva Lopes, nascido a 12 de Abril de 1999, natural de São
Vitor, Braga, residente em Matosinhos, Porto.
Licenciou-se em Gestão pela Católica Porto Business School, em 2020, com média de
final de 14 valores. Adicionalmente, a procura pela expansão dos seus horizontes culturais e
académicos levaram-no a participar no programa ERASMUS+ em Varsóvia, na universidade
Akademia Leona Kozminskiego.
Meses após ter concluído a sua licenciatura, em Outubro de 2020, iniciou o seu
percurso profissional com um estágio de 6 meses no Novo Banco no Departamento de
Corporate Banking no Porto, onde viria a ser promovido para o cargo de gestor de carteira
nesse mesmo departamento. Mais tarde, em Novembro de 2021, viria a assumir funções
como Junior Credit Officer na Natixis in Portugal onde se encontra até ao dia de hoje assumindo
a função de Senior Credit Officer.
Em paralelo, em Setembro de 2021, viria a ingressar no Mestrado em Economia e
Gestão Internacional da Faculdade de Economia do Porto, onde desenvolveu a presente
dissertação.
ii
Agradecimentos
Gostaria de começar por deixar um agradecimento ao meu orientador, Professor Doutor
Óscar Afonso, no sentido que sem o seu apoio e voto de confiança no meu trabalho, a
presente dissertação não seria possível. Não só pelo constante acompanhamento e
disponibilidade, mas também pelos valiosos ensinamentos que me providenciou no
desenvolvimento da corrente dissertação, o meu muito obrigado.
Aos meus pais e à minha irmã, gostaria de dirigir uma palavra de apreço, pela presença
constante e pelo incentivo permanente ao meu desenvolvimento pessoal e profissional.
Agradeço sinceramente por tudo o que me proporcionaram.
Por fim, à minha namorada, Alexandra, a quem estou imensamente grato, gostaria de
expressar um agradecimento especial por estar sempre ao meu lado e pelos valiosos
contributos que me providenciou ao longo desta etapa que partilhamos juntos.
iii
Resumo
Nas últimas décadas verificaram-se alterações significativas na indústria do futebol,
nomeadamente no que ao seu crescimento diz respeito. A elevada competitividade que se
faz sentir no universo do futebol leva os clubes a repensar as suas estratégias, os seus
investimentos e a forma como podem expandir o seu alcance. A dificuldade em encontrar
um equilíbrio entre os resultados financeiros e desportivos obrigou, por um lado, à
profissionalização da gestão dos clubes e, por outro lado, a alteração de práticas com vista a
alcançar esse fim. Nesse sentido, a internacionalização dos clubes, quer seja ela através da
marca ou da criação de redes mundiais de clubes, foi adotada como uma das principais
estratégias. O objetivo desta dissertação passa por olhar para duas estratégias de
internacionalização, adotadas por alguns clubes de topo. (i) através da marca; (ii) do
fenómeno de Multi-Club Ownership (MCO). Este último é um fenómeno que tem vindo a
registar uma tendência de crescimento uma vez que promove uma série de vantagens
competitivas para os clubes. A metodologia para analisar o desempenho ao nível da
internacionalização dos clubes foi qualitativa e teve como objetivo averiguar o impacto da
internacionalização no sucesso dos clubes. Para tal, foram analisados três casos de estudo, o
do F.C. Barcelona, associado à internacionalização através da marca e o do City Footbal Group
(CFG), grupo detentor do Manchester City e da Red Bull, detentora do RB Leipzig, sendo estes
os dois casos mais notórios no panorama atual na esfera de MCO.
Palvaras Chave ; Globalização; Internacionalização; Indústria do futebol; Multi-Club
Ownership; Internacionalização através da marca; Performance desportiva; Performance
financeira;
Abstract
In recent decades there have been significant changes in the football industry, due to its
growth. The high competitiveness that is felt in the world of football leads clubs to rethink
their strategies, their investments and how they can expand their reach. The difficulty in
finding a balance between financial and sporting results forced the professionalization of the
club’s management, and the practices adopted to achieve this goal. In this sense, the inter
nationalization of clubs, whether through the brand or the creation of world networks of
clubs, was adopted as one of the main strategies. The objective of this dissertation is to look
at two internationalization strategies, adopted by some top clubs, such as internationalization
through the brand and the phenomenon of Multi-Club Ownership (MCO). The latter is a
phenomenon that has been registering a growing trend since it promotes several competitive
advantages for the clubs. The methodology to analyze the performance at the level of the
internationalization of the clubs was the qualitative one and aimed to ascertain the impact of
internationalization on the success of the clubs. To this end, three case studies were analyzed,
the F.C. Barcelona one, associated with internationalization through the brand and the City
Football Group (CFG), the group holding Manchester City and Red Bull, holder of RB
Leipzig, these being the two most notorious cases in the current landscape in the MCO
sphere.
Keywords: Globalization; Internationalization; Football industry; Multi-Club Ownership;
Internationalization through the brand; Sports performance; Financial performance;
v
vi
Índice
Nota Biográfica ............................................................................................................................. ii
Agradecimentos ........................................................................................................................... iii
Resumo......................................................................................................................................... iv
Abstract ......................................................................................................................................... v
Lista de abreviaturas .................................................................................................................... ix
1. Introdução ............................................................................................................................ 3
2. Revisão de Literatura ........................................................................................................... 8
2.1. Fenómeno de Globalização – Conceitos Básicos ......................................................... 8
2.2. Indústria do Futebol ....................................................................................................... 9
2.2.1. Principais fluxos de receitas dos clubes..................................................................... 9
2.2.2. Estrutura de custos dos clubes ................................................................................ 12
2.3. Internacionalização dos clubes de futebol................................................................... 12
2.3.1. Motivações para a Expansão Internacional ............................................................ 13
2.3.1.1 Procura de Mercados ................................................................................................ 13
2.3.1.2 Procura de Recursos ................................................................................................. 14
2.3.1.3 Procura de Eficiência ................................................................................................ 14
2.3.1.4 Procura de Ativos Estratégicos ................................................................................ 15
2.3.2 IDE na indústria do futebol ..................................................................................... 15
2.4 Multi-Club Ownership (MCO) .................................................................................... 16
2.4.1.1 Regulação MCO ........................................................................................................ 18
2.4.1.2 Adesão por parte dos adeptos a MCO .................................................................... 19
2.5 Internacionalização dos clubes de futebol enquanto Marcas .................................... 19
3 Análise empírica ................................................................................................................. 23
3.1 City Football Group e Manchester City: Um caso de estudo .................................... 25
3.1.1 Eficiência económica ................................................................................................ 26
vii
3.1.2 Performance desportiva............................................................................................ 31
3.1.3 Alcance global da marca ........................................................................................... 32
3.2 Red Bull e RB Leipzig: Um caso de estudo ................................................................ 33
3.2.1 Eficiência económica ................................................................................................ 34
3.2.2 Red Bull e Transferências de jogadores numa ótica de MCO............................... 36
3.2.3 Performance desportiva............................................................................................ 38
3.2.4 Alcance global da marca ........................................................................................... 38
3.3 Internacionalização do F.C. Barcelona através da marca: Um caso de estudo ........ 40
3.3.1 Eficiência económica ................................................................................................ 42
3.3.2 Performance desportiva............................................................................................ 44
3.3.3 Alcance global da marca ........................................................................................... 44
4 Conclusões ......................................................................................................................... 46
Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 49
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Número de clubes inseridos num sistema de MCO por confederação .............. 18
Tabela 2 - Dimensão dos sistemas de MCO ........................................................................... 18
Tabela 3 - Clubes detidos pelo CFG ....................................................................................... 25
Tabela 4 - Desempenho desportivo Manchester City ............................................................. 31
Tabela 5 - Performance desportiva RB Leipzig ....................................................................... 38
Tabela 6 - Performance desportiva F.C. Barcelona ................................................................. 44
Índice de Figuras
Figura 1 - Dimensão Financeira da Indústria do Futebol na última década em mil milhões de
euros .............................................................................................................................................. 4
Figura 2 - Número de transações de investimento MCO nos últimos 11 anos ..................... 5
Figura 3 - Peso das receitas nas 5 principais ligas europeias – Temporada 2021/2022 ........ 9
Figura 4 - Clubes com maior fluxo de receitas comerciais em milhões de euros na temporada
2021-2022 ................................................................................................................................... 10
viii
Figura 5 - Receita do Manchester City entre 2008 e 2022 em Milhões de euros ................. 27
Figura 6 - Rede económica CFG ............................................................................................. 29
Figura 7 - Saldo de transferências de jogadores em milhões de euros .................................. 30
Figura 8 - Percentagem da receita do clube alocada a salários e prémios de jogadores em
milhares de Libras ..................................................................................................................... 30
Figura 9 - Valor da marca dos clubes em milhões de euros.................................................... 33
Figura 10 - Receita do RB Leipzig entre 2014 e 2022 em milhões de euros ........................ 35
Figura 11 - Resultado Líquido RB Leipzig em milhões de euros entre o ano de 2014 e 2022
..................................................................................................................................................... 35
Figura 12 - Saldo líquido de transferências RB Leipzig ......................................................... 36
Figura 13 - número de transferências entre clubes do grupo Red Bull ................................. 37
Figura 14 - Impacto financeiro da internacionalização da marca nas receitas dos clubes, em
milhões de euros ........................................................................................................................ 40
Figura 15 - Rede de escolas e parceiros comerciais FCB ....................................................... 41
Figura 16 - Resultados financeiros F.C. Barcelona em milhões de euros ............................. 42
Figura 17 - Receita F.C. Barcelona entre 2010 e 2022 em Milhões de euros ....................... 42
Figura 18 - Saldo de transferências F.C. Barcelona entre 2016 e 2021 ................................. 43
Figura 19 - Teto salarial F.C. Barcelona em milhões de euros .............................................. 43
Lista de abreviaturas
FIFA - Federação Internacional de Futebol
UEFA - União das Federações Europeias de Futebol
CAF - Confederação Africana de Futebol
CONCAF - Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe
CONMEBOL - Confederação Sul-Americana de Futebol
OFC - Confederação de Futebol da Oceânia
AFC - Confederação Asiática de Futebol
ENIC - English National Investment Company
MCO – Multi-Club Ownership
CFG – City Football Group
RB Leipzig - RasenBallsport Leipzig
ADUG – Abu Dhabi United Grup
ix
1. Introdução
Nas últimas décadas, com a liberalização de barreiras ao comércio, assistiu-se a uma crescente
intensificação do fenómeno de globalização. A globalização, impulsionada pelas tecnologias
de informação, que reduziram drasticamente o custo de mover bens e serviços entre
fronteiras (Baldwin, 2016), levou a que as empresas começassem a comportar-se de maneira
diferente, tendo ao seu alcance um mercado muito mais vasto e dinâmico (Berger, 2000).
As principais organizações que compõem a indústria do futebol seguiram o mesmo
rumo tendo-se tornado rapidamente em verdadeiras empresas multinacionais, com as marcas
a serem trabalhadas a uma escala global, levando a que as suas receitas crescessem de forma
exponencial (Biscaia & Correia, 2019). O fenómeno da profissionalização da gestão dos
clubes implicou que estes se focassem cada vez mais na estabilidade financeira de longo prazo
e no desenvolvimento das melhores práticas de gestão, com o objetivo de serem o mais
competitivos possível (Zülch et al., 2020).
O aumento da competitividade de uma equipa reflete-se num aumento do número
de vitórias, o que irá impactar de forma positiva os fluxos de receita do clube, bem como as
receitas associadas a direitos televisivos, receitas comerciais, venda de bilhetes e prémios da
UEFA, enquanto que, em simultâneo, a atratividade para receber novos jogadores de topo é
fortalecida (Biancone & Solazzi, 2012).
Durante a temporada 2021/22, novos países, investidores e empresas de
entretenimento voltaram-se para a indústria do futebol olhando para a mesma como uma
oportunidade de expansão dos seus negócios. Esta foi uma época em que a bilhética e as
receitas comerciais apresentaram valores recorde em toda a Europa. As cinco grandes ligas
europeias impulsionaram a melhoria do desempenho financeiro em todas as restantes ligas
europeias, o que proporcionou aumento de 7% em termos de receitas para o mercado
europeu de futebol, atingindo 29,5 mil milhões de euros (Deloitte, 2023).
São as crescentes receitas dos clubes nas últimas épocas, assim como a dimensão da
indústria, demonstrada na Figura 1, que cada vez mais despertam o interesse económico de
investidores estrangeiros. Traverso, diretor financeiro da UEFA, considera que não é uma
surpresa que os fundos de investimento e os investidores de private equity se tenham tornado
altamente ativos na indústria do futebol, dada a atual crise financeira sofrida por um setor
em que a divida bancária aumentou 51% e os analistas consideram que se encontra altamente
subvalorizado (UEFA, 2023). Tendo em consideração os clubes de futebol na Europa,
3
verifica-se que menos de metade, 46%, são detidos por indivíduos/grupos/entidades
europeias, outros 25% por norte americanas, 21% por asiáticas e os restantes 8% são
associados a outros continentes (Ginesta & Faedo, 2022).
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Non-'big five' other leagues
2012/13 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22
FIFA, UEFA and National Associations
'Big five' countries' other leagues
Non-'big five' top leagues
'Big five' European leagues
Figura 1 - Dimensão Financeira da Indústria do Futebol na última década em mil milhões de euros (Deloitte, 2023)
Nos últimos anos, o investimento na propriedade de clubes e na implementação de
sistemas de Multi-Club Ownership (MCO) aumentou acentuadamente como resultado de uma
combinação de razões macroeconómicas e tendências de investimento mundiais, conforme
será explicado ao longo da presente dissertação. O investimento em MCO expandiu-se
significativamente, tendo-se tornado numa das tendências mais proeminentes naquilo que
diz respeito ao investimento realizado na indústria, conforme é visível através da Figura 2
(UEFA, 2023).
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2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Investimento minoritário
Investimento maioritário
Figura 2 - Número de transações de investimento MCO nos últimos 11 anos (UEFA, 2023)
O investimento através de um sistema de MCO, consiste em um
indivíduo/grupo/entidade ter o controlo e/ou influência decisiva sobre mais de um clube
de futebol em simultâneo (UEFA, 2022). A entrada de multinacionais pode gerar efeitos
spillover que promovam um impacto nos ganhos de eficiência para as empresas da economia
local, nomeadamente quando estas empresas não podem internalizar a totalidade destes
benefícios (Blomström, 2002).
O facto de os clubes de futebol se estarem a tornar cada vez mais globais obriga-os
a ter uma estrutura que permita dar uma resposta global e ser o mais eficiente aquando da
exploração das suas fontes de rendimento, de forma a aumentarem a competitividade no
mercado internacional.
Tendo em conta o supramencionado, na corrente dissertação proponho-me analisar
o processo de internacionalização dos clubes de futebol, respondendo à seguinte questão de
investigação: Qual o impacto do fenómeno de Multi-Club Ownership nos ganhos de
competitividade dos clubes quando comparado à internacionalização de um clube através da
marca.
Com vista a responder à questão de investigação colocada, surge como objetivo
analisar o processo de globalização na indústria do futebol, usando uma metodologia que
permita compreender quais os principais fluxos de receita que os clubes exploram na
indústria e quais procuram ver desenvolvidos no mercado internacional, de forma a se
tornarem mais competitivos. Dada a dificuldade em ter acesso à informação financeira
pormenorizada dos demais clubes e a opacidade ainda existente naquilo que diz respeito à
5
internacionalização dos clubes de futebol através do sistema de MCO, fez sentido adotar
uma metodologia qualitativa. A implementação de uma rede aprofundada de clubes e marcas,
alinhadas com a estratégia de um grupo, é algo que surgiu numa maior dimensão aquando da
implementação do City Football Group (CFG) e da participação da Red Bull (RB) na indústria
do futebol, pelo que, de forma a olhar para o impacto de um sistema de MCO nos ganhos
de competitividade dos clubes, faz sentido analisar estes dois casos e os resultados que advém
dos mesmos.
Este estudo é pertinente na medida em que estamos perante um panorama em que o
setor futebolístico tem vindo a alcançar uma dimensão do ponto de vista financeiro nunca
vista. Cada vez mais, os clubes de futebol comportam-se como empresas, acreditando que o
seu sucesso financeiro acabará por se refletir posteriormente naquilo que é o seu sucesso
desportivo, e vice-versa. De forma a se aproximarem da possibilidade de alcançar o sucesso
financeiro, os clubes de futebol, nos últimos anos, tal como as empresas, têm-se voltado para
o mercado internacional, mas ainda é pouco concreto quais as melhores estratégias a adotar
de forma a maximizarem as suas receitas para lá das suas fronteiras. O facto de as fontes de
receita não serem muito diversificadas obriga os clubes a desenvolverem e otimizarem estes
mesmo fluxos em mercados emergentes como o continente americano, asiático e o médio
oriente que vão apresentando um crescente interesse nesta indústria.
Com a presente dissertação será possível ter acesso a um novo e atualizado ângulo
sobre as melhores práticas de gestão a serem adotas pelos clubes de forma a que o seu
processo de internacionalização promova maiores taxas de crescimento, do ponto de vista
financeiro e desportivo.
O desenvolvimento da corrente dissertação será organizado em secções. A secção 2
será dedicada à revisão de literatura, nesta secção, será abordado o fenómeno de globalização
e internacionalização, enquadrando posteriormente esta temática na esfera da indústria do
futebol. Adicionalmente, ainda nesta secção, olharemos para aquilo que é o sistema de MCO
assim como a internacionalização de clubes de futebol enquanto marcas, tentando perceber
a forma como estes surgiram e o seu impacto na indústria. A secção 3 apresenta a
metodologia a ser aplicada neste estudo e os respetivos casos de estudo que servirão de
pilares da análise das estratégias de internacionalização adotadas pelos clubes de futebol a ser
estudados. Nesta secção será explorado o impacto que a adoção das respetivas estratégias
teve nos clubes do ponto de vista financeiro e desportivo assim como em relação ao alcance
das suas marcas. Por último, na secção 5 serão apresentadas as principais conclusões desta investigação as limitações que surgiram e sugestões que se enquadram como sendo pertinentes para estudos futuros.
2. Revisão de Literatura
2.1.
Fenómeno de Globalização – Conceitos Básicos
A globalização é vista como um processo natural de uma sociedade. De um ponto de vista
económico, a globalização seguiu o caminho histórico do desenvolvimento do comércio e
da interdependência e integração das economias mundiais (Kostiuk et al., 2021).
De forma a melhor compreender as atuais e futuras dinâmicas da globalização, é
relevante analisar as mesmas ao longo dos anos de forma a ser-nos possível integrar esses
padrões no contexto da indústria futebolística. Baldwin (2016) separou a globalização em
duas etapas. A primeira, ocorreu por volta de 1820, na sequência da emergência do
Liberalismo económico explicitado nas vantagens absolutas de Adam Smith e nas vantagens
comparativas de David Ricardo, com os países europeus a colonizarem a Ásia e a África
subsaariana, transformando as suas colônias em fornecedores de matérias-primas para
fabricantes europeus, bem como mercados para produtos europeus. Ao mesmo tempo, as
economias dos colonizadores acabavam por se tornar em zonas de comércio livre ente si,
levando a uma queda dos custos comerciais à medida que iam surgindo as primeiras
multinacionais. A segunda etapa surgiria por volta de 1990, com a revolução das tecnologias
de informação e comunicação. Os países que até então apresentavam altos níveis
tecnológicos mudaram as operações para países onde eram praticados salários mais baixos,
emergindo fenómenos de offshoring, outsourcing internacional e investimento direto estrangeiro.
Este fenómeno deu-se maioritariamente devido à redução dos custos de transação, sendo
este um impulsionador da globalização. Desta forma, foi possível a inovação e
desenvolvimento de novos modelos de negócios e relacionamentos com novas estratégias
setoriais e regionais de forma a dar resposta à procura global e ao posicionamento dentro das
redes globais (Little et al., 2017)
Dados estes fenómenos, a economia mundial foi impactada do ponto de vista daquilo
que é a eficiência e competitividade das empresas. Estas viram-se obrigadas a adaptarem-se
de forma a superar desafios, alcançar vantagens competitivas no curto prazo e aumentar a
competitividade no longo prazo (Juščius & Lekavičienė, 2007).
Juščius and Lekavičienė (2007), definem a internacionalização como um fenómeno,
que ainda não sendo recente, tem se vindo a intensificar nos últimos anos dado o fenómeno
da globalização supramencionado. A internacionalização, está relacionada com a extensão
das atividades económicas de uma empresa para um outro país que não o seu de origem.
8
Desta forma, através do processo de internacionalização, são oferecidas às empresas
oportunidades valiosas de crescimento e lucro em mercados estrangeiros (Musteen et al.,
2014).
2.2.
Indústria do Futebol
De forma a compreendermos o processo de internacionalização e de desenvolvimento
económico e comercial do futebol, é importante previamente olharmos para as organizações
que estão inseridas nesta indústria. Existem seis confederações, associadas a cada continente
(UEFA, CAF, CONCACAF, CONMEBOL, OFC, AFC). Estas seis confederações são
governadas por um órgão principal, a FIFA. Cada confederação gere as associações membro
pertencentes a essa confederação, estando responsáveis pela organização das provas de cariz
desportivo (Tomlinson, 2014).
Segundo Proni (1998), o ano de 1970 marca a primeira alteração do posicionamento
da FIFA no mercado global. Esse é o ano que inicia a transmissão dos jogos de futebol ao
vivo e a cores com recurso a satélite. Como consequência, verificou-se um aumento no
número de adeptos de futebol e em simultâneo patrocinadores e estações de televisão à escala
global também olhavam com bons olhos para esta inovação. O futebol começava então a ser
percebido a uma escala global. Este interesse fez disparar não só o valor dos direitos
televisivos, mas também o desejo das empresas em investir na indústria, sendo que no final
da década de 1990 esta já era considerada uma indústria altamente rentável.
2.2.1. Principais fluxos de receitas dos clubes
Na indústria do futebol, existem 4 principais fluxos de receitas: (i) direitos televisivos, (ii)
receitas comercias e acordos de patrocínio, (iii) prémios da UEFA e (iv) Bilhética (Maguire,
2021).
20%
17%
36%
27%
Comerciais Direitos televisivos UEFA Bilhética
Figura 3 - Peso das receitas nas 5 principais ligas europeias – Temporada 2021/2022 (UEFA, 2023)
9
Em 2021/22, as cinco grandes ligas europeias geraram receitas agregadas de 17,2 mil
milhões de euros, superando o valor pré-pandemia, fixado nos 17 mil milhões de euros
estabelecido em 2018/19, impulsionado pelo crescimento das receitas comerciais em 815
milhões de euros durante esse período (Deloitte, 2023).
Conforme o apresentado na Figura 3, as receitas comerciais (36%) ocupam a primeira
posição na lista de fluxos de receita mais preponderantes para os clubes das principais ligas
europeias. Adicionalmente, ao longo da última década, registou-se uma diferença significativa
no crescimento das receitas comerciais entre clubes que são considerados "globais" e os que
não o são (UEFA, 2022). De acordo com a Figura 4, o clube com a maior valor de receita
associado a esta rúbrica reportou mais do dobro da receita quando comparado com o décimo
clube desta lista (UEFA, 2022).
400
350
300
250
200
150
100
50
0
Figura 4 - Clubes com maior fluxo de receitas comerciais em milhões de euros na temporada 2021-2022 (UEFA, 2023)
São consideradas receitas comerciais as seguintes: patrocínios de marcas, produtos
de merchandising, visitas ao estádio e museu do clube assim como turnês internacionais. Esta
é uma variável que os clubes conseguem influenciar uma vez que está altamente relacionada
com o grau de atratividade que os produtos comercializados apresentam para os adeptos e a
ligação que estes têm para com o clube.
A forma como os adeptos percecionam o clube não está exclusivamente relacionada
com o desempenho desportivo. Os clubes vêm-se obrigados a inovar naquilo que diz respeito
aos modelos de negócio comerciais utilizados de forma a alavancarem a sua exposição global
10
(Maderer & Holtbrügge, 2019). Este facto é um dos principais fatores que leva os clubes a
expandirem a sua base de adeptos fora do seu país de origem (Ross & Walsh, 2011).
Os direitos televisivos (27%) correspondem não só às transmissões das competições
locais, mas também, em caso de qualificação, aos direitos correspondentes à transmissão das
competições europeias de clubes da UEFA (UEFA, 2022). É importante denotar que muita
das vezes o nível de performance dos clubes está correlacionado com a dimensão das receitas
correspondentes a direitos televisivos que auferem. Para além da qualificação para as
competições europeias garantir um encaixe extra para os clubes, o ranking que o clube ocupa,
calculado com base no coeficiente associado à performance desportiva, pode influenciar
positiva ou negativamente o valor a ser recebido pelos clubes (UEFA, 2023).
Nesse sentido, os prémios da UEFA (17%), são um fluxo de receita que está
dependente da prestação desportiva dos clubes. Ainda assim, este é um fluxo sobre o qual se
tem verificado um crescimento constante. A UEFA introduziu um novo ciclo de direitos das
competições europeias (2021/22-2023/24) onde registou um maior crescimento dos
prémios atribuídos para os clubes participantes. Parte deste crescimento surge devido à
introdução da UEFA Europa Conference League, nova competição de clubes que tem como
objetivo alargar o número de nacionalidades de clubes participantes (UEFA, 2022).
A bilhética (15%) acaba por apresentar uma dimensão semelhante à dos prémios da
UEFA. Esta é composta pela venda de bilhetes para jogos domésticos, internacionais e
amigáveis que se disputem no seu terreno de jogo. Quando a venda de bilhetes é dividida
entre dois clubes, os jogos fora também são contabilizados. Também fazem parte desta
rúbrica bilhetes de temporada assim como serviços de hospitalidade (UEFA, 2022). Este
fluxo de receita está limitado ao número de jogos realizados pelo clube no seu estádio, sendo
que este número pode sofrer um aumento em caso de participação nas competições
europeias. Adicionalmente, o número de bilhetes está também limitado à capacidade do
estádio do clube. Esta é uma variável que os clubes apenas podem manipular através do
preço, sendo que se tem verificado um aumento do preço dos bilhetes no contexto europeu
(UEFA, 2022).
Sendo as fontes de receitas dos clubes limitadas, verifica-se elevada competitividade
(Şener & Karapolatgil, 2015). Um dos paradigmas tradicionais da economia do desporto de
equipa afirma que uma queda no grau de intensidade competitiva pode produzir uma queda
significativa naquilo que são as receitas que advém do desporto, logo os clubes de futebol
necessitam de encontrar formas de adquirir vantagens competitivas (Andreff & Scelles,
11
2015). De forma a se tornarem mais competitivos, tanto financeiramente como
desportivamente, os clubes de futebol começaram a olhar para o mercado internacional
(Dolles & Söderman, 2005).
2.2.2. Estrutura de custos dos clubes
Quando falamos em custos dos clubes o maior enfoque vai para salários, prémios e
transferências de jogadores (90%) (UEFA, 2022). O aumento salarial dos jogadores
desacelerou ligeiramente durante o período pandémico, não obstante, continua-se a verificar
um aumento do mesmo, sendo esta a principal despesa dos clubes de futebol (UEFA, 2022).
Na temporada 2021/22, em média, os clubes das principais ligas europeias pagavam 221
milhões de euros semanalmente em salários de jogadores e 63 milhões associados a despesas
com Staff (UEFA, 2022). Relativamente às transferências de jogadores, estas ascenderam a
2,3 mil milhões no ano de 2021 sendo que em 2019 este valor estava fixado nos 532 milhões.
2.3.
Internacionalização dos clubes de futebol
Olhando para a jornada de internacionalização no setor do futebol, segundo Dolles and
Söderman (2005), há duas etapas consecutivas que levam à internacionalização do mesmo: a
etapa de pré-requisito e a etapa de exploração.
O desenvolvimento futebol moderno surgiu no século XIX em Inglaterra. No final
desse mesmo século, com a expansão internacional por parte de algumas empresas britânicas,
o futebol também acabou por ser exportado juntamente com as pessoas que emigravam. Foi
desta forma que o futebol ficou famoso na Europa e mais tarde noutros continentes. Esta
foi a etapa de pré-requisito que deu origem a um desporto global que mais tarde se viria a
tornar num fenómeno empresarial.
A etapa de exploração foi impulsionada nos últimos 20 anos dada a necessidade por
parte dos clubes de futebol de cobrir despesas, apresentarem o desejo de aumentar ao
máximo a sua receita e gerar lucros sempre que possível. No passado, verificava-se um
princípio de subsidiação cruzada entre os clubes de maior dimensão e mais bem-sucedidos
para com os seus homólogos de menor dimensão. Esta subsidiação cruzada era monitorizada
pela liga de cada país de forma a preservar a integridade de toda a estrutura profissional do
futebol.
Atualmente, cada vez mais esse princípio vem se dissipando promovendo uma
economia livre de jogo. Este fenómeno leva a que os clubes de futebol tenham de procurar
12
mais e novas formas de se financiarem. Ao mesmo tempo, verifica-se uma maior
competitividade económica que é refletida no sucesso desportivo dos mais diversos clubes.
De forma a se tornarem mais competitivos, tanto financeiramente como desportivamente,
os clubes de futebol começaram a olhar para o mercado internacional. Foram desenvolvidas
alianças estratégicas com parceiros em indústrias associadas ao futebol como equipamentos
desportivos, os clubes começaram a ser cotados na bolsa de valores, estabeleceram alianças
transfronteiriças entre os principais clubes, aumentaram as transações internacionais de
jogadores, e começaram a apresentar um maior esforço de forma a serem capazes de entrar
em mercados novos e lucrativos no exterior.
Por norma, as empresas mais bem sucedidas acabam por ser aquelas que são capazes
de reconhecer potenciais oportunidades e são capazes de responder rapidamente (Dana et
al., 2004), podendo estas oportunidades estarem presentes no mercado internacional.
2.3.1. Motivações para a Expansão Internacional
De acordo com Dunning and Lundan (2008) existem quatro motivações principais para a
expansão internacional: procura de mercados, procura de recursos, procura de eficiência e
procura de ativos estratégicos. Ainda assim, as motivações podem variar à medida que a
empresa se internacionaliza, ou seja, uma mesma empresa pode ter diferentes motivações em
diferentes situações.
2.3.1.1
Procura de Mercados
A motivação pela procura de mercados surge quando as empresas têm a intenção de explorar
novos mercados ou tornarem-se mais competitivas em mercados onde já operam através de
exportações, no sentido em que pode existir a necessidade de implementar uma filial de
forma a afirmar a sua presença e ganhar quota de mercado. No entanto, pode igualmente
resultar de outros motivos: acompanhar a expansão internacional de clientes ou fornecedores
importantes, adaptar os seus produtos aos mercados locais ou métodos de produção locais,
possibilidade de aceder a outros mercados nacionais ou regionais, evitar barreiras às
exportações, ou até mesmo a sua estratégia global pode obrigar a uma presença física nos
principais mercados onde se encontram os seus concorrentes para afirmar uma maior
presença.
A escolha de um determinado país para este efeito está relacionada com diversos
fatores como: o potencial de vendas que cada país candidato oferece, ou seja, o local eleito é
aquele onde aparentemente será possível aumentar mais as suas vendas, da dimensão e
13
crescimento dos mercados avaliados, da presença de segmentos de clientes atrativos, procura
pelos serviços e produtos da empresa por parte dos consumidores.
O Manchester United é um dos clubes com maior notoriedade no mercado
internacional, sendo que a procura de mercados e o benefício da mesma foi o que incentivou
o clube a proceder à expansão internacional. A sua forte presença no continente asiático,
particularmente na China e na Índia, mercados emergentes do futebol, através da organização
de turnês de pré-temporada em alguns países deste continente ao longo dos anos, permitiu a
promoção de um maior contacto com os seus adeptos internacionais. Ao proceder desse
modo, foi possível potenciar aumentos dos fluxos de receitas através de patrocínios,
contratos de merchandising e parcerias comerciais (Higham & Hinch, 2002). Desta forma foi
possível converter o sucesso desportivo em sucesso comercial e no início do Séc. XXI o
Manchester United era o clube mais rico do mundo (Boli, 2017). Para além disso, a expansão
da rede de olheiros e a aquisição de jogadores internacionais acaba por ter um impacto
positivo naquilo que é o crescimento do clube enquanto marca global (Leach & Szymanski,
2015).
2.3.1.2
Procura de Recursos
A procura de recursos surge com o objetivo de as empresas acederem a recursos mais baratos
noutros mercados, ou que sejam inexistentes no país de origem. Por exemplo, aceder a mão
de-obra a custos mais baixos comparativamente com o país de origem, matérias-primas mais
baratas ou garantir a estabilidade do seu fornecimento. Mais uma vez, uma boa
implementação da rede de olheiros permite o acesso a um leque mais alargado de jogadores
a um menor custo daqueles que já estão sondados no mercado global (Leach & Szymanski,
2015).
2.3.1.3
Procura de Eficiência
Na procura de eficiência, a internacionalização resulta da vontade de maximizar a eficiência
da estrutura de abastecimento e da distribuição multinacional, reduzindo custos de
transporte, comunicação, coordenação, diversificar o risco, explorar ganhos associados a
economias de escala, ou usufruir da cultura, sistemas políticos e económicos de um
determinado país. Por fim, a procura de ativos estratégicos, relaciona-se com a necessidade
de as empresas adquirirem recursos avançados que não existem no mercado de origem.
As redes promovidas pela existência de MCO são um dos principais benefícios deste
sistema naquilo que diz respeito à procura de eficiência. O crescimento orgânico de jogadores dentro destas redes detidas pelo mesmo clube, permite uma redução de custos uma vez que
o dinheiro das transferências circula dentro da mesma rede, há uma maior coordenação e
transparência naquilo que são as informações partilhadas pelos clubes e ao mesmo tempo os
diferentes clubes têm acesso a recursos que não existem nos seus mercados (Chadwick et al.,
2023).
2.3.1.4
Procura de Ativos Estratégicos
A procura de ativos estratégicos está principalmente associada a estratégias de longo prazo
como a aquisição de empresas locais detentoras de ativos estratégicos, aquisição de
competências locais em I&D ou outras formas de conhecimento ou aquisição de informação
sobre os mercados. O sistema de MCO utilizado pela Red Bull e o facto de o Red Bull Salzburg,
da Áustria, ter uma parceria com o New York Red Bulls nos Estados Unidos, promove a
partilha de I&D tanto para o desenvolvimento dos jogadores dos dois clubes como para a
expansão da marca em ambos os mercados (András & Havran, 2015).
2.3.2 IDE na indústria do futebol
De acordo com Dunning (1977), uma empresa opta por investimento direto estrangeiro
(IDE) se e só se, forem verificadas três condições: vantagem de propriedade, vantagem de
localização e vantagem de internalização. Vantagens de propriedade, são vantagens
especificas de propriedade da empresa relativamente a empresas que apresentem outra
nacionalidade, possuindo ou tendo acesso privilegiado a ativos que aumentem a capacidade
de criação de riqueza da empresa. A vantagem de localização é caracterizada pela vantagem
de estar presente num outro país que não o seu de origem, ou seja, existem vantagens em a
empresa se internacionalizar para uma determinada localização. Desta forma, a empresa
pretende usufruir de uma serie de vantagens presente nesse mercado selecionado como preço
das matérias-primas, mão-de-obra, qualidade dos fatores de produção, políticas
governamentais que sejam favoráveis ao processo de internacionalização. As vantagens de
internalização surgem quando a empresa procura realizar as suas atividades da empresa de
forma a evitar falhas de mercado como elevados custos de negociação, evitar que os
concorrentes tenham acesso a recursos estratégicos, tratar-se de uma atividade que implique
a coordenação de recursos a longo prazo.
No caso do futebol, um dos principais motivadores para a existência de IDE em
clubes são as expectativas de que os investidores irão ver aumentada a sua receita através de
alguns canais. Além disso, os maiores clubes são frequentemente associados a mercado locais
15
e globais de maior dimensão e consequentemente com maior alcance, logo estes investidores
podem adquirir marcas globais significativas (Buraimo et al., 2006).
De acordo com o último relatório de benchmarking de clubes da UEFA, 40% dos
clubes da Premier League, principal liga do escalão de futebol profissional inglês, são
maioritariamente detidos por investidores estrangeiros, com 35% das equipas da Premier
League a terem investidores estrangeiros que possuem uma participação minoritária (Ahern
et al., 2021). A entrada do IDE na Premier League é maioritariamente feita através de fusões e
aquisições, algo que a distingue de outros setores da economia no Reino Unido e no mundo,
em que o investimento greenfield pode ser a rota dominante de entrada no mercado. Este
crescimento do IDE no futebol levou a que jogadores aclamados no futebol mundial
pudessem ser transferidos para a liga inglesa. Fatores como o seu alcance global, o
crescimento das receitas televisas ano após ano, tornaram a liga inglesa num dos primeiros e
principais alvos de IDE na indústria futebolística (Byars et al., 2007).
Ainda assim, dado o número limitado de fluxos de receitas, existe a pressão para que
cada vez mais se adote sistemas estratégicos semelhantes aqueles que se encontram presentes
no mundo corporativo de forma aos clubes poderem potenciar os seus ganhos e se tornarem
mais competitivos (Holzmayer & Schmidt, 2020).
Recorrentemente, no futebol, os meios de comunicação concentram a maior parte
da sua atenção nas aquisições de jogadores por parte dos clubes, as chamadas transferências
de jogadores. Estas aquisições podem alterar o nível de desempenho das equipas e, assim,
gerar mais receita para os clubes, mas poucas transferências de jogadores mudam as
trajetórias futuras das organizações (Lassas, 2021).
2.4
Multi-Club Ownership (MCO)
Os clubes de futebol podem ter dois tipos de propriedade, propriedade privada e propriedade
pública. No caso da propriedade privada, o controle dos clubes é detido por um ou mais
indivíduos e/ ou organizações. A propriedade pública surge quando uma entidade jurídica,
como uma associação ou instituição pública, detém o controle do clube. Mais de metade
(53%) de todos os clubes da primeira divisão são controladas por uma entidade privada (por
exemplo, sociedades de responsabilidade limitada ou sociedades anónimas).
As formas de propriedade dos clubes variam consoante a região onde estes se
encontram. Por exemplo, clubes controlados pelo governo estão principalmente situados na
Europa Oriental, as associações são mais frequentes em países nórdicos e balcãs e os clubes
16
detidos por investidores estrangeiros, estão concentrados maioritariamente nas maiores
economias, como o caso Inglaterra, França e Itália onde 40% de todos os clubes são detidos
por investidores estrangeiros (UEFA, 2022). No ano de 2022 houve mais de 200 acordos de
fusão e aquisição na indústria desportiva (Deloitte, 2023), verificando-se a aquisição de 35
clubes, mais 5 que o número recorde referente ao ano de 2021, sendo que 46% dessas
aquisições foram feitas por investidores estrangeiros, mais 8% do que em 2021. Em
simultâneo, verificaram-se uma série de participações minoritárias em clubes europeus como
a aquisição da participação de 20% da Qatar Sports Investments no SC Braga (UEFA, 2022).
Cada vez mais, os investimentos minoritários surgem como uma estratégia de investimento
de forma a impulsionar os sistemas de MCO, em que os investidores possuem participações
em vários clubes diferentes.
O MCO é definido como um sistema em que proprietários ou investidores,
geralmente pessoas singulares ou fundos de investimento, que também podem ser outros
tipos de entidades como entidades comerciais, possuem influência decisiva sobre mais de um
clube. Esta é uma tendência que tem vindo a crescer nos últimos anos, promovendo
alterações no ecossistema estrutural e financeiro do futebol. Os investidores detêm
participações maioritárias (mais de 50% das ações) em certos clubes e, em simultâneo,
possuem uma participação minoritária em outros clubes (potencialmente fora da Europa).
Em alguns casos, o clube pode exercer influência decisiva ou até mesmo possuir outros
clubes (UEFA, 2022).
Em quatro das cinco principais ligas de futebol europeu, assim como em Portugal e
na Bélgica, mais de um terço de todos os clubes possuem pelo menos uma relação de
investimento cruzado com outro clube (UEFA, 2022). O facto de estes serem os países onde
este sistema se encontra mais presente demonstra o crescente interesse por parte dos
investidores em clubes que tenham acesso estável às principais fontes de rendimento
anteriormente descritas.
O investimento cruzado em vários clubes, surge de diversas formas. A detenção
maioritária de clubes representa a maioria dos investimentos no que diz respeito ao MCO.
Ainda que este sistema esteja presente na sua grande maioria no continente europeu, muitas
das estruturas de investimento cruzado envolvem pelo menos um clube não europeu,
conforme é visível na Tabela 1.
17
18
Confederação 1ª Divisão 2ª Divisão 3ª Divisão e inferior TOTAL
UEFA 89 44 43 176
AFC 12 5 3 20
CONMEBOL 10 2 3 15
CONCACAF 20 7 4 31
CAF 6 2 6 14
TOTAL 137 60 59 256
Tabela 1 – Número de clubes inseridos num sistema de MCO por confederação (Menary, 2023)
No corrente ano, muitas das estruturas de investimento cruzado são apenas
compostas por dois clubes, conforme é visível na Tabela 2. Tal acontece porque uma fatia
significativa dos investidores aguarda novas oportunidades de investimento em outros clubes
e em simultâneo avaliam os benefícios provenientes de investir apenas em dois clubes.
7 ou mais clubes 4
6 clubes 2
5 clubes 3
4 clubes 11
3 clubes 14
2 clubes 59
TOTAL 93
Tabela 2 - Dimensão dos sistemas de MCO (Menary, 2023)
2.4.1.1 Regulação MCO
O caso ENIC no final da década de 1990 promoveu a introdução dos primeiros artigos legais
com vista à regulamentação dos sistemas de MCO na Europa. Três clubes pertencentes ao
ENIC, empresa de investimento britânica, AEK Atenas, Slavia Praga e Vicenza, avançaram
para os quartos de final da taça dos clubes vencedores das taças da UEFA de 1997-98. Ainda
que os clubes não se tenham defrontado, a UEFA veio mais tarde a estabelecer regras que
proibiam clubes detidos pelo mesmo organismo de se enfrentarem nas competições
europeias. Estes regulamentos foram mantidos pela União Europeia e pelo Tribunal de
Arbitragem do Desporto.
Mais tarde, no ano de 2017 aquando da qualificação para UEFA Champions League
por parte de dois clubes pertencentes ao grupo Red Bull Salzburgo da Áustria e RB Leipzig da
Alemanha, a UEFA viu-se obrigada a alterar os regulamentos. Nenhuma pessoa ou entidade
jurídica foi autorizada a exercer "influência decisiva" sobre dois ou mais clubes nas
competições de clubes da UEFA, de acordo com o Artigo 5.01(c)(iv). Os dois clubes
acabariam por se enfrentar na fase de grupos.
Desde então que a UEFA não mais aprofundou a definição de "influência decisiva".
Como resultado, as ligações entre clubes em todo o mundo foram-se multiplicando. O City
Football Group atualmente detém dois clubes sul-americanos, o City Torque no Uruguai e o
Bahia no Brasil, sendo que existe a possibilidade destes dois clubes se defrontarem em
competições de clubes sul-americanas. Adicionalmente o City Football Group também possui
participações em clubes de elite na Austrália - Melbourne City e na Índia - Mumbai City FC,
existindo igualmente a possibilidade de estes dois clubes se defrontarem futuramente uma
vez que a FIFA pretende expandir o Mundial de Clubes para 32 equipas (Menary, 2023).
2.4.1.2
Adesão por parte dos adeptos a MCO
As leis atuais focam-se maioritariamente na integridade desportiva ignorando aquilo que é o
impacto destes sistemas de MCO em clubes mais pequenos quando classificados na rede
como Feeder clubs, onde a sua posição passa por canalizar recursos para o principal clube da
rede (Menary, 2023). A visão por parte dos adeptos de que o seu clube tem apenas como
objetivo servir o bem maior do clube que encabeça a rede de um MCO pode ser visto como
um entrave à expansão da rede de clubes (Ogden, 2023). No ano de 2022, o CFG viu cair a
aquisição do clube NAC Breda dada a desarmonia e hostilidade vivenciada por parte dos
adeptos do clube holandês quando confrontados com a hipótese do seu clube ser adquirido
(Ogden, 2023).
2.5
Internacionalização dos clubes de futebol enquanto Marcas
A capacidade de os clubes de futebol profissional alcançarem novos mercados aumentou
significativamente devido à globalização, aos avanços tecnológicos, assim como à extensão
das redes de media. Como consequência, os adeptos têm acesso a ligas internacionais
aprofundando o seu relacionamento com clubes e jogadores situados em qualquer parte do
mundo, independentemente do local onde habitam (Maderer & Holtbrügge, 2019).
Tendo como objetivo aumentar as suas receitas, os clubes procuram aumentar a sua
massa adepta fora do mercado nacional (Ross & Walsh, 2011). Algumas estratégias de
19
internacionalização promovem efeitos de imagem positivos no mercado internacional. As
marcas são um exemplo disso, através destas é possível desenvolver uma identidade global a
ser partilhada por pessoas que se identifiquem com a mesma (Holt et al., 2004). Para além
do IDE e das transferências de jogadores, como uma forma de internacionalização por parte
dos clubes, podemos estudar a internacionalização dos mesmos como marcas (Richelieu,
2008).
Richelieu (2008) baseou a sua análise em clubes de futebol com base em teorias
tradicionais dos negócios internacionais e acabou por restringir as diferentes estratégias
apenas a quatro que são efetivamente relevantes para olharmos para os clubes de futebol
enquanto marcas. Para tal, as teorias de Kapferer (1998) e Van Gelder (2002) foram
combinadas, resultando em quatro estratégias pertinentes: A estratégia de Brand Reputtation,
Brand Affinity, Brand Challenger e Brand Conquistador.
A estratégia de Brand Reputtation baseia-se numa marca ser construída e desenvolvida
internacionalmente sobre o sucesso do mercado nacional. Os clubes de futebol podem, por
exemplo, destacar a sua história e prestígio desportivo nacional de forma a alavancarem o
seu prestígio no mercado internacional. O F.C. Barcelona sempre contou com o seu registo
de vitórias altamente competitivo de forma a alavancar o sucesso da sua marca (Richelieu &
Pons, 2006), ainda que um registo altamente vitorioso não garanta aos clubes o registo de
super marca, as vitórias e os troféus são um fator chave uma vez que o consumidor global
reconhece mais facilmente o perfil vitorioso de um clube antes de compreender as regras do
desporto (Waltner, 2000). Quando olhamos para o coeficiente da UEFA na última década o
clube ocupa a terceira posição (UEFA, 2023).
Na estratégia de Brand Affinity, a marca é também construída com base no sucesso
local. Porém, neste caso, o enfoque é colocado na experiência única que a marca proporciona
aos consumidores. No ano de 2001, o Manchester United, realizou jogos de pré-temporada
no Sudeste Asiático, tendo disputado jogos amigáveis na Malásia, Singapura e Tailândia, de
forma a potenciar a relação do clube com a sua base de adeptos asiáticos e, em simultâneo,
expandir a sua marca globalmente de forma a comercializar os produtos e serviços de marca.
Mais tarde, em 2005, o clube realiza quatro jogos amigáveis na China, Hong Kong e
Japão. Durante este período, o clube concretizou um acordo comercial com a Air Asia,
companhia aérea asiática. (Hill & Vincent, 2006).
O Brand Challenger passa por investir bastante em publicidade e ganhar assim
notoriedade no mercado internacional. Assim, como nas duas estratégias anteriores, os
20
resultados positivos no mercado local são a base da estratégia. No caso da indústria
desportiva esta estratégia não é tão relevante uma vez que, ainda que seja importante, a
publicidade exclusivamente não assegura o destaque de um clube de futebol. Serve com
exemplo o caso do RB Leipzig, a ligação à Red Bull, e a notoriedade global da marca de bebidas
energéticas permitiram ao clube ter uma maior notoriedade no mercado internacional dada
a sua identidade destinta (András & Havran, 2015).
Por fim, observa-se uma estratégia de Brand Conquistador quando uma empresa
adquire ou realiza uma parceria com uma outra empresa no exterior de forma a aumentar o
seu reconhecimento internacional. No caso do futebol, isso é extremamente relevante uma
vez que gera uma situação de win-win, uma vez que os clubes locais beneficiam não só do
conglomerado de aspetos positivos providenciados pelo clube de maior dimensão, como
também, as equipas europeias providenciam de uma ótima plataforma para entrar num outro
mercado e expandir a notoriedade da sua marca. Como exemplo desta estratégia surgem os
casos explorados durante a corrente dissertação, tal é o caso do Manchester City como do RB
Leipzig, a ligação ao CFG e à Red Bull, permite-lhes beneficiar de um conglomerado de clubes
e ter o acesso facilitado a um conjunto de marcas direta ou indiretamente ligadas aos clubes
da rede o que irá potenciar o alcance global das marcas que representam os clubes.
De forma a analisar as perceções dos adeptos localizados em diferentes países em
relação às marcas de futebol estrangeiras, é importante olhar para aquilo que é o paradigma
do país de origem (Heinberg et al., 2018). Os efeitos do paradigma do país de origem são
descritos como as disparidades na procura dos consumidores a um produto em virtude da
forma como o país de origem do produto ou marca é percecionado. O país de origem de
uma marca pode mudar a posição de um produto na mente do consumidor, aumentando ou
diminuindo o posicionamento desejado e aquele que é percebido pelo consumidor (Adina et
al., 2015). Esta situação verifica-se muitas vezes em países em desenvolvimento onde o apoio
a ligas estrangeiras supera em muito o das ligas locais. Os clubes das ligas locais geralmente
não têm o valor da marca e a massa adepta dos clubes europeus altamente globalizados do
ponto de vista comercial (Hinson et al., 2020).
No contexto empresarial, verifica-se alguma resistência em relação a marcas
multinacionais principalmente devido ao aumento da competitividade que as empresas
domésticas irão enfrentar (Duke, 2002). Já na indústria desportiva, esta resistência é
proveniente dos adeptos dos clubes locais, os clientes, uma vez que demonstram um certo
nível de hostilidade para com as iniciativas internacionais dada a ideologia nacionalista que muitas vezes existe por de trás dos clubes de futebol (Cronin, 1997). Por outro lado, os
adeptos internacionais acolhem com agrado a iniciativa dos clubes de futebol se
internacionalizarem, uma vez que através desse processo surge a oportunidade de
acompanharem mais de perto os seus clubes que até então apenas se encontravam presentes
nos países de origem (Duke, 2002).
22
3
Análise empírica
Numa era altamente globalizada, a indústria do futebol e as receitas associadas à mesma têm
vindo a crescer constantemente. Ainda assim as fontes de receita são reduzidas o que obriga
os clubes a serem mais competitivos do que nunca de forma a marcarem uma posição neste
mercado.
Tendo em conta o objetivo da presente dissertação e dada a importância da temática
da internacionalização dos clubes futebol assim como dos diversos artigos científicos
publicados nos últimos anos relativamente a este tema, a pesquisa qualitativa assume-se como
sendo a mais adequada. Adicionalmente, ao olhar para casos concretos de clubes que
seguiram a estratégia de MCO assim como da internacionalização através da marca, é possível
perceber quais as principais motivações que levaram os clubes a seguir essas opções
estratégicas assim como os desafios provenientes das mesmas. A opacidade desta indústria
assim como a complexidade por detrás do processo de propriedade dos clubes de futebol
implica que a metodologia utilizada permita que o processo de pesquisa seja flexível.
A metodologia qualitativa permite-nos responder a questões de como e porquê
(Boeije, 2009), sendo relevante para perceber as razões por detrás das decisões de
internacionalização assim como os processos de propriedade dos clubes. O facto do recurso
à metodologia qualitativa responder de forma eficiente a questões integradas no contexto
social e cultural (Boeije, 2009) também é altamente pertinente dada a implicação que estes
fatores apresentam na indústria do futebol.
A pesquisa procura analisar as mudanças mais relevantes no futebol profissional na
última década, nomeadamente a introdução e a tendência crescente para a presença de
sistemas de MCO nesta indústria.
De forma a obter uma melhor perceção relativamente ao objetivo dos clubes de
futebol atualmente, iremos analisar alguns tipos de estratégia anteriores e encontrar novos
exemplos de estratégias existentes.
Tendo em vista a resposta à questão de investigação, optou-se pelo estudo de casos,
olhando para o processo de internacionalização já realizados por grandes clubes como F.C.
Barcelona, Manchester City e RB Leipzig. Relatórios de consultoria sobre a indústria do futebol
também foram utilizados como fontes de dados de forma a alcançar uma visão mais matizada
do tópico de pesquisa.
Esta metodologia foi assim escolhida de forma a analisar o tema proposto, visto que
este é um método que permite o resumo de um grande corpo de dados destacando assim as
23 principais semelhanças e diferenças entre si (Braun & Clarke, 2006). Adicionalmente ao
recorrer ao estudo de caso, será possível ter acesso a uma análise explorativa mais
aprofundada auxiliada em várias fontes de dados (Rashid et al., 2019).
24
3.1
City Football Group e Manchester City: Um caso de estudo
Nascido em 1970, e membro da família real de Abu Dhabi, Sheik Mansour detentor do Abu
Dhabi United Group (ADUG), liderou a aquisição do Manchester City no ano de 2008. Mais
tarde, o mesmo ADUG, viria a ser o principal stakeholder do City Football Group (CFG),
estabelecido em 2013
O CFG é uma empresa multinacional que possui um conglomerado de clubes de
futebol, tendo como principal objetivo estabelecer uma rede de clubes global encabeçada
pelo Manchester City. Liderado pelos 3 principais stakeholders, ADUG (81%), Silver Lake (18%)
e China Media Capital (1%), desde a aquisição do Manchester City o CFG expandiu o seu
portefólio, contando ao dia de hoje, conforme aprsentado na Tabela 3, com 13 clubes de
futebol localizados nos quatro cantos do mundo (Jobs In Football, 2023)
Clube
País
Ano
de
Percentagem Detida
Aquisição
Manchester City
Reino Unido
2008 (Adquirido
pelo Abu Dhabi
United group)
New York City FC
Estados Unidos
da América
2013
100%
100%
Melbourne City FC
Austrália
2014
Yokohama F. Marinos
100%
Japão
2014
Montevideo City Torque
20%
Uruguai
2017
Girona FC
100%
Espanha
2017
Sichuan Jiuniu FC
47%
China
2019
Mumbai City FC
29.7%
India
2019
Lommel SK
65%
Bélgica
2020
Troyes AC
99%
França
2020
Palermo
100%
Itália
2022
Bahia FC
80%
Brasil
2023
90%
Tabela 3 - Clubes detidos pelo CFG (Jobs in Football, 2023)
Do ponto de vista desportivo, a rede de clubes global permite ao CFG promover
uma situação de economias de escala e sinergias positivas, visto que cada clube pode
beneficiar não só do conhecimento do grupo como um todo mas também das unidades de
maior dimensão, como é o caso do Manchester City (Chadwick et al., 2023). Ao mesmo tempo, para as empresas detentoras do clube surge a possibilidade de explorarem novos marcados e
popularizem as suas marcas.
Este modelo inicialmente ideado por Ferran Soriano, antigo diretor financeiro e vice
presidente do F.C. Barcelona e atual CEO do CFG vai muito além daquilo que é o espectro
desportivo aquando da exploração de clubes de futebol (Ginesta Portet, 2020).
O modelo teve como base o conceito de Disneyficação, inspirado no crescimento
global da marca Walt Disney Corporation. Desde a sua fundação, a Walt Disney expandiu os seus
recursos de animação para parques temáticos e mais tarde estabeleceu redes de televisão em
escala global (Zukin, 1995). O objetivo deste processo passa por promover diferenciação ao
nível do consumo e do merchandising, moldando os produtos e as experiências de forma a ter
um alcance o mais amplo possível (Thani & Heenan, 2016). Esta transformação permite uma
simplificação de um maior controlo da marca e homogeneização da experiência do utilizador
(Matusitz & Palermo, 2014). Este é um modelo semelhante aquele que o CEO do CFG
acredita ser o futuro do futebol (Ahmed, 2017).
De uma perspetiva geopolítica, a criação do CFG por parte do Abu Dhabi United
Group surge como um exemplo de como o governo de Abu Dhabi através da ligação ao
grupo desportivo CFG visou desenvolver a marca do país do ponto de vista reputacional e
em simultâneo o CFG canalizou os recursos financeiros disponibilizados de forma a dar
origem a uma cadeia de valor que lhe permite reduzir o risco e aumentar a vantagem
competitiva face a outros clubes (Chadwick et al., 2023). Ainda nesta ótica, aquando da
aquisição do Sichuan Jiuniu F.C., localizado em Chengdu, por parte do CFG foi divulgado em
simultâneo que a Etihad Airways iria aprimorar o hub de passageiros no aeroporto de Chengdu
(Chadwick et al., 2023).
3.1.1
Eficiência económica
Desde a sua aquisição por parte do Abu Dhabi United Group, que mais tarde seria o detentor
maioritário do CFG, denotaram-se diversas alterações no que às finanças do Manchester City
dizem respeito. Durante este período, o Manchester City viu as suas receitas aumentar em
diversos campos como, as receitas de bilhética, receitas de direitos televisivos e receitas
comerciais, conforme é apresentado na Figura 5.
26
800
700
600
500
400
300
200
100
0
Receitas de Bilhética Receitas televisivas Receitas Comerciais
Figura 5 - Receita do Manchester City entre 2008 e 2022 em Milhões de euros (Statista, 2023)
No final da temporada 2021/2022, o Manchester City registava 99% de capacidade nos
jogos jogados em casa para a Premier League (. Não obstante, assim como aconteceu com
todos os outros clubes, dado o período pandémico, o Manchester City verificou quebras ao
nível da receita de bilhética nas temporadas 2019/2020 e 2020/2021, dada a interdição no
acesso aos estádios. Os restantes períodos de quebras, igualmente apresentados na Figura 5
estão relacionadas com as obras de expansão realizadas no estádio onde a equipa disputa os
seus jogos em casa. Ainda assim, quando comparado à temporada 2008/2009 as receitas
referentes a bilhéticas foram 2.6 vezes superiores na temporada 2021/2022. Este crescimento
foi impulsionado, não só pela conquista da liga inglesa na temporada 2011/2012, mas
também pelas presenças constantes nas competições europeias, nomeadamente na UEFA
Champions League durante o período em análise.
Quando analisados os valores referentes às receitas de direitos televisivos
apresentadas pelo Manchester City na Figura 12, verificamos que este valor aumentou 5,2 vezes
quando comparado com a temporada 2008/2009. A temporada 2011/2012 assinala a
primeira participação de sempre do Manchester City nas competições europeias, sendo que até
então nunca falhou nenhuma edição. Esta participação regular na maior prova de futebol de
clubes europeia é altamente explicativa do motivo pelo qual o Manchester City registou tal aumento ao nível das receitas correspondentes a Direitos televisivos. Este crescimento é
igualmente explicado pela valorização do futebol inglês bem como pelos mais recentes
contratos correspondentes a direitos televisivos negociados pela Premier League. É importante
também salientar que a performance desportiva entra nas contas no que diz respeito ao
montante a ser pago correspondente a direitos televisivos, algo de que o Manchester City tem
vindo a beneficiar conforme verificaremos no capítulo seguinte.
Na temporada, 2021/2022, foram as receitas comerciais o fluxo com maior peso para
os cofres do Manchester City. O clube apresentou um valor quase 18 vezes superior àquele
registado na temporada 2008/2009, ano da aquisição do clube. No ano de 2018, em pareceria
com a Amazon, o clube lança a série "All or Nothing", uma série documental que relata e
mostra os bastidores da época desportiva do clube. Desta forma, a par da estratégia de
Disneyficação os jogadores não são vistos apenas como meros desportistas, mas também
como o elenco da série. Mas isto não é caso único, outras parcerias comerciais como o
contrato a 10 anos a rondar os 760 Milhões de euros com a Puma, marca alemã que fornece
os equipamentos a toda a rede de clubes do grupo, permite padronizar e uniformizar a
imagem global por detrás do CFG.
O acordo de patrocínio entre o Manchester City e a Etihad Airways, avaliado em 79
milhões de euros ao ano, a par do acordo com a Puma de 76 milhões de euros época são dos
mais lucrativos da indústria, sendo que o segundo o ocupa o quinto lugar nos negócios mais
lucrativos da indústria no que diz respeito a fornecedores de equipamentos.
Adicionalmente, os seis acordos comerciais em vigor com empresas sediadas nos
Emirados Árabes Unidos, traduzem-se em mais de 100 milhões de euros, cerca de 27% da
receita comercial do clube, refletindo o impacto que a rede de clubes do CFG, apresentada
na Figura 6 (Football Benchmark, 2023). Podemos ainda fazer referência a um outro acordo
comercial como o patrocínio da multinacional japonesa de automóveis Nissan, que detém a
participação maioritária no clube parceiro do CFG, Yokohama.
28
Figura 6 - Rede económica CFG (Chadwick et al., 2023)
29
Relativamente às despesas com prémios, salários e transferências de jogadores, estas
assumem a maior fatia de gastos de um clube de futebol. No caso do Manchester City, aquando
da sua aquisição, foi implementada uma estratégia de investimento forte na contratação de
jogadores com vista a melhorar a performance desportiva do clube, conforme apresentado
na Figura 7. A gestão do clube acreditava que uma melhoria do desempenho do clube do
ponto de vista desportiva iria se refletir posteriormente num aumento das receitas, e assim
foi. Nas primeiras épocas, tal como podemos constatar através das Figura 8, sob a gestão do
CFG, o clube chegou a alocar mais de 100% das suas receitas ao pagamento de salários e
prémios de jogadores. Hoje em dia é o clube da liga inglesa que apresenta um maior equilíbrio
entre despesas e receitas (57%) (Deloitte, 2023).
2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015 2015/2016 2016/2017 2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021 2021/2022
Compras
Vendas
157,35
26,5
Saldo Líquido-130,85
147,3
29,2
183,61
40,15
91,05
31,2
61,95
44,3
115,5
102,8
208,47
216,25
11,3-118,1-143,46-59,85-17,65-104,2
30,3-72,5
67,44-141,03
35,35-180,9
317,5
91,35-226,15
78,59
57,6-20,99
166,82
71-95,82
Figura 7 - Saldo de transferências de jogadores em milhões de euros (Transfermarkt, 2008-2022)
De forma a que fosse possível orquestrar esta estratégia supramencionada, foram
realizadas consecutivas injeções de capital por parte do Abu Dhabi United Group, sob a autoria
de Sheikh Mansour bin Zayed que investiu cerca de 1.5 mil milhões de euros entre 2008 e
2018 (Caroli, 2023).
Esta estratégia iria culminar num valor recorde no que ao lucro diz respeito de 48,8
milhões de euros, mais do dobro do que o valor recorde anterior do clube. (Manchester City,
2022).
3.1.2
Performance desportiva
Com vista a compreender a performance desportiva do Manchester City iremos ter em conta
as duas principais competições disputadas pelo clube, o campeonato nacional e competições
europeias, sendo a UEFA Champions League a principal competição europeia de clubes.
Conforme podemos constatar através da análise da Tabela 4, durante todo o período sob a
gestão do CFG, verificou-se uma notória melhoria da performance desportiva do clube.
Durante esse mesmo período em análise regista-se a conquista inédita de um campeonato
nacional na temporada 2011/2012, ao qual se seguem mais 6 conquistas desse mesmo título
e a conquista do principal título disputado entre os mais prestigiados clubes europeus, a
UEFA Champions league. Num período de cerca de 15 anos, o Manchester city deixou de ser um
clube de meio da tabela sem qualquer tipo de ambições europeias passando a ocupar a
primeira posição do Ranking de clubes da UEFA (UEFA, 2023).
Temporada Premier League UEFA Champions League Taça de Inglaterra Taça da liga
2008-2009
2009-2010
2010-2011
2011-2012
2012-2013
2013-2014
2014-2015
2015-2016
2016-2017
2017-2018
2018-2019
2019-2020
2020-2021
2021-2022
10º
5º
3º
1º
2º
1º
2º
4º
3º
1º
1º
2º
Não qualificado
Não qualificado
Não qualificado
Fase-de-grupos
Fase-de-grupos
Oitavos-de-final
Oitavos-de-final
Meia-final
Oitavos-de-final
Terceira ronda
Quinta Ronda
Vencedor
Terceira ronda
Finalista vencido
Quartos-de-final
Segunda ronda
Meia-final
Terceira ronda
Supertaça Inglesa--
Meia-final
Terceira ronda
Vencedor
Quarta ronda
Quinta ronda
Meia-final
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Quartos-de-final
1º
1º
1º
2022-2023
Final
Meia-final
Vencedor
Quinta ronda
Vencedor
Meia-final
Meia-final
Meia-final
Vencedor
Tabela 4 - Desempenho desportivo Manchester City (Zerozero, 2008-2023)
3.1.3
Alcance global da marca
No ano de 2023, o Manchester City viu a sua marca ser considerado pela Brand Finance Football
a marca mais valiosa da indústria do futebol, apresentando um valor que rondava os 1.5 mil
milhões de euros. Isto apenas foi possível dado o sucesso em campo por parte do clube que
conta com três conquistas consecutivas do campeonato nacional e uma inédita conquista da
UEFA Champions league (Brand Finance Football, 2023).
O sucesso desportivo despoletou uma série de oportunidades comerciais levando a
que o clube apresentasse a maior receita de clubes registada na temporada 2021/2022
(Deloitte, 2023). Para além disso, ainda que na temporada 2022/2023 o equipamento
principal tenha sido o que gerou maior receitas de vendas de sempre para o clube, é
expectável que na temporada 2023/2024 este valor seja ultrapassado, uma vez que a nova
camisola principal registou uma venda a cada 12 segundos no dia do seu lançamento (Brand
Finance Football, 2023).
Em paralelo, os conteúdos audiovisuais do Manchester City estão avaliados em cerca
de 210 milhões de euros, o programa do clube de cobertura de jogos conta com 1 milhão de
expectadores e o seu canal de YouTube ocupou a primeira posição na indústria do futebol no
que a utilizadores ativos diz respeito. Também as redes sociais do clube foram classificadas
com as melhores no seu país (Brand Finance Football, 2023). Em relação ao número de
seguidores nas principais plataformas, o clube ocupa a sétima posição, com cerca de 145
milhões de seguidores, sendo o terceiro clube em Inglaterra com mais seguidores (Football
Benchmark, 2023). Este é um valor considerável tendo em conta a história recente do clube
e o facto de a sua primeira aparição nas competições europeias remeter ao ano de 2012.
Assim como nas restantes tendências analisadas, observamos uma vez mais o
impacto positivo da gestão do Manchester City levada a cabo pelo CFG. Através da análise da
Figura 9 percebemos que a marca do clube num período de 10 anos registou um aumento
do seu valor em mais de 300%.
32
Figura 9 - Valor da marca dos clubes em milhões de euros (Brand Finance Football, 2023)
3.2
Red Bull e RB Leipzig: Um caso de estudo
A Red Bull foi fundada em meados da década de 1980 por Dietrich Mateschitz. A empresa
tem como principal atividade a produção e distribuição de bebidas energéticas.
Desde a sua criação, a Red Bull esteve sempre altamente ligada a competições
desportivas radicais, sendo que nas últimas décadas expandiu o seu alcance através da compra
e reformulação de uma série de equipas desportivas, incluindo clubes de futebol e uma equipa
de Formula 1, a Red Bull Racing (András & Havran, 2015).
O envolvimento da Red Bull no futebol surge em 2005, quando adquiriu o clube
austríaco SV Austria Salzburg mudando o seu nome para RB Salzburg. Em 2007, adquirem os
New York MetroStars alterando o nome do clube para Red Bull New York. No ano de 2009,
surge a aquisição do SSV Markranstädt, clube da quinta divisão alemã, situado perto de
Leipzig. Após esta aquisição a Red bull procedeu a um rebranding do clube convertendo-o em
RasenBallsport Leipzig, dada a impossibilidade de na Alemanha se registar o nome de um clube
de futebol que faça referência a uma marca. Nas sete temporadas seguintes verificaram-se
sucessivas promoções, tendo o clube chegado à Bundesliga, principal escalão do futebol
alemão (Pastore, 2018).
Todos os clubes do conglomerado da Red Bull apresentam equipamentos que
possuem cores associadas à marca da empresa, contendo um emblema que inclui o nome e
o logotipo da empresa (dois touros vermelhos). Adicionalmente, todos os estádios são
denominados de "Red Bull Arena". Através destas aquisições a Red Bull acaba por utilizar os
clubes de futebol não só como um investimento na indústria, mas também como uma ferramenta de marketing. Ainda assim, com o passar dos anos ficou claro que este
investimento realizado pela Red Bull não se tratava apenas de uma estratégia de marketing
inovadora (Pastore, 2018).
Um dos principais objetivos da Red Bull ao promover um sistema de MCO é descobrir
e desenvolver jogadores talentosos em países como o Brasil, os EUA e a Áustria, integrando
os futuramente na equipa do RB Leipzig sem ter de desembolsar um valor significativo, face
aos valores comummente praticados no mercado de transferências. Todos os treinadores dos
clubes da Red Bull reúnem uma vez ao ano com o objetivo de uniformizar o estilo de jogo
utlizado, desta forma é possível facilitar a integração de jogadores do grupo aquando das suas
transferências entre os clubes do conglomerado. Surge então um estilo de jogo universal
(Norval, 2018).
3.2.1
Eficiência económica
Na análise deste subcapítulo é necessário termos em consideração a dificuldade de acesso a
dados financeiros do RB Leipzig, nomeadamente em relação às injeções de capital realizadas
por parte da Red Bull assim como às receitas do clube por categoria e as respetivas despesas.
Ainda assim, tendo em conta o objetivo da dissertação, o caso de estudo da Red Bull
surge como sendo altamente pertinente de forma a percecionarmos a importância da
transferência de jogadores dentro da rede de clubes do grupo e não tanto analisar o impacto
do investimento feito por parte da Red Bull de forma a acelerar o crescimento do clube.
Desde a criação do RB Leipzig por parte da Red Bull e de acordo com a Figura 10, o
clube viu as suas receitas a crescer de forma exponencial, na temporada 2021/2022 o clube
ocupou a décima quarta posição da lista de clubes europeus no que ao valor de receitas diz
respeito (UEFA,2023). Este crescimento constante dos valores de receitas deu-se
principalmente pela promoção ao primeiro escalão do futebol alemão na temporada
2016/2017 assim como às consecutivas participações nas competições europeias de clubes.
34
400
350
300
250
200
150
100
50
0
2014/20152015/20162016/20172017/20182018/20192019/20202020/20212021/2022
Figura 10 - Receita do RB Leipzig entre 2014 e 2022 em milhões de euros (Football Finance, 2023)
Em relação ao resultado operacional apresentado pelo clube, o RB Leipzig apresentou
sempre lucro desde que adquirido pela Red Bull, conforme indicado na figura 11.
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
Figura 11 - Resultado Líquido RB Leipzig em milhões de euros entre o ano de 2014 e 2022 (Fotball Finance, 2023)
35
No ano de 2019, o RB Leipzig declarou um passivo de 134 milhões de euros face à
Red bull, este era o segundo maior passivo quando comparado aos demais clubes da liga
alemã. Este dado é indicativo da necessidade de investimento por parte da Red Bull de forma
a orquestrar o projeto delineado para o clube (Penke, 2020). De qualquer das formas, quando
olhamos para as contas do clube percebemos que o mesmo apresenta bastante estabilidade
financeira. Importante ressalvar que esta estabilidade surge não só do apoio direto por parte
da Red Bull, mas principalmente pela criação de um departamento especializado em encontrar
e desenvolver talentos emergentes, tendo o grupo fomentado uma estratégia de adquirir
jovens jogadores e vendê-los por uma soma bem superior aquela pela qual foram inicialmente
comprados (Flynn, 2023). Se tivermos em consideração a temporada corrente, o clube conta
com um encaixe financeiro proveniente de transferências de 240 milhões de euros, este valor
está próximo de um terço do montante investido em compras de jogadores nas 9 temporadas
anteriores (Figura 12).
2014/2015
Compras
Vendas
23,35
0
Saldo Liquido-23,35
2015/2016 2016/2017 2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021 2021/2022 2022/2023 2023/2024
24,63
1,9
95,95
0,1
63,5
65,63
93
72
24,5-22,73-95,85-39
72,75
7,12
45,25-47,75
77,5
5,5
Figura 12 - Saldo líquido de transferências RB Leipzig (Transfermarkt, 2014-2023)
125
113,5-11,5
3.2.2 Red Bull e Transferências de jogadores numa ótica de MCO
59,5
75,82
16,33.2.2 Red Bull e Transferências de jogadores numa ótica de MCO
59,5
75,82
16,32
152,5
240,7
88,2
A possibilidade e maior facilidade em implementar um sistema de transferências dentro da
rede de clubes pertencentes a um sistema de MCO pode ser altamente benéfico não só para
a performance desportiva dos clubes, mas também, para o seu desempenho financeiro. O
caso mais obvio será o da Red Bull.
No sistema implementado pela Red Bull, os clubes de futebol do conglomerado foram
integrados verticalmente sendo encabeçados pelo RB Leipzig. Esta é uma escolha estratégica
associada ao facto de a Bundesliga ser uma das cinco principais ligas europeias, aumentando,
portanto, o potencial de comercialização. O New York Red Bull assim como o Red Bull
Bragantino, clube brasileiro, têm como objetivo potencializar jogadores que possam ser
transferidos para a Europa. Assim sendo, os jogadores jovens mais talentosos do Brasil e dos
EUA normalmente são transferidos para o FC Liefering ou RB Salzburg. O objetivo final passa
por filtrar os jogadores de topo e transferi-los através da rede até serem contratados pelo RB
Leipzig. No entanto, este método beneficia não só o RB Leipzig, mas também, os de mais
clubes do conglomerado uma vez que estes, obtêm jogadores por empréstimo do RB Leipzig
ou do RB Salzburg e, em simultâneo, financiamento proveniente do grupo para contratar
36
jogadores de forma a se tornarem mais competitivos. Isto é possível dado o excedente de
transferências promovido pelo RB Salzburg e RB Leipzig (Keech, 2021)
Desde a criação do conglomerado, cerca de 150 jogadores foram transferidos dentro
do grupo Red Bull, sendo que as transferências mais recorrentes ocorrem principalmente
entre o RB Salzburg e o FC Liefering, conforme apresentado na Figura 13 (Keech, 2021).
Adicionalmente, o facto de a Red Bull possuir um clube no Brasil vai-lhes permitir ter
maior visibilidade e conhecimento nesse mercado, reduzindo custos ao nível de olheiros e
intermediários. Como outra vantagem surge o facto de ser possível apresentar uma proposta
mais estruturada a um jogador que queira começar por se desenvolver no seu país de origem
e não correr o risco de se transferir numa fase precoce da sua carreira para o continente
europeu, onde a Red Bull já se encontra bem cimentada (MacInnes, 2017).
Figura 13 - número de transferências entre clubes do grupo Red Bull (Keech, 2021)
O facto de o grupo promover um sistema de jogo uniformizado facilita a integração
dos jogadores, tendo assim um impacto positivo do ponto de vista desportivo.
Adicionalmente, 63% de todos os jogadores adquiridos apresentam uma nacionalidade
equivalente aquela do país em que os clubes do grupo se encontram posicionados
geograficamente. É então percetível que a implementação da rede de clubes permite ter
acesso a informação mais amplificada dos mercados em que os clubes do grupo operam,
tornando mais recorrentes as transações de jogadores provenientes dessas mesmo geografias.
A maioria das transferências são provenientes de equipas internas jovens, como o caso do
FC Liefering, através de empréstimos ou transferências gratuitas de jogadores que possuem
uma média de idade de 22 anos. Desta forma, fica bem assinalada a estratégia apresentada
pela Red Bull (Keech, 2021).3.2.3 Performance desportiva
A temporada 2016/2017 marca a primeira presença do RB Leipzig na primeira divisão alemã.
Nesse mesmo ano o clube alcançou a segunda posição do campeonato, garantindo então a
qualificação direta para a UEFA Champions league. Nas temporadas que se seguiram o clube
ocupou as posições de cima da tabela tendo como melhor classificação um segundo lugar
nas temporadas 2016/2017 e 2020/2021. Já nas competições europeias o clube marcou
sempre presença nas UEFA Champions league com exceção da temporada 2018/2019 onde
disputou a UEFA Europa League. A melhor classificação do clube na maior prova de clubes
europeus foi uma meia-final na temporada 2019/2020. A nível de taças internas o clube conta
com duas conquistas da Taça da Alemanha nas temporadas 2021/202 e 2022/2023 à qual
juntou a vitória na supertaça na corrente temporada 2023/2023.
As consecutivas presenças do clube na UEFA Champions League permitiram-lhe
arrecadar prémios financeiros correspondentes à sua performance assim como aumentar a
sua visibilidade no mercado europeu. Percebe-se, portanto, que a performance desportiva do
RB Leipzig se encontra numa fase de ascensão, sendo atualmente um dos principais clubes
alemães a par do Bayern Munich e do Borussia Dortmund. No que ao ranking da UEFA diz
respeito o clube ocupa atualmente a nona posição (UEFA, 2023). Tendo em conta o período
de menos de 10 anos desde que chegou à primeira divisão alemã, é notável o facto de
atualmente o RB Leipzig se encontrar no top 10 de clubes europeus. Percebemos, portanto,
que também do ponto desportivo, tal como apresentado na Tabela 5, o RB Leipzig tem vindo
a apresentar uma evolução notável.
2015-2016
Temporada 2ª Divisão alemã
2º (Promoção para a
primeira divisão alemã)
2016-2017
2017-2018
2018-2019
2019-2020
2020-2021
2021-2022
2022-2023
2023-2024------
Bundesliga UEFA Champions League UEFA Europa League Taça da Alemanha
2º
6º
3º
3º
2º--
Fase de grupos--
Segunda eliminatória
Supertaça da Alemanha
Primeira eliminatória
Quartos-de-final
Fase de grupos
Meia-final
Oitavos-de-final
4º--
3º
Fase-de-grupos
Oitavos-de-final--
Meia-final--
Tabela 5 - Performance desportiva RB Leipzig (Zerozero, 2015-2023)
3.2.4 Alcance global da marca
Segunda eliminatória
Finalista vencido
Oitavos-de-final
Finalista vencido
Vencedor
Vencedor------
Finalista vencido
Vencedor
De acordo com a Brand Finance Football, o RB Leipzig ocupa a décima nona posição na lista
de marcas mais valiosas da indústria do futebol, com um valor a rondar os 500 milhões de
euros (Brand Finance Football, 2023). Novamente é necessário ressalvar que este é um clube
recente tendo chegado aos principais palcos do futebol europeu apenas no ano de 2015, pelo
38
que dado o curto período de tempo é de louvar o facto de o clube se posicionar entre os
principais clubes europeus mesmo a nível da dimensão da sua marca. As participações nas
competições europeias permitiram ao clube expandir o alcance da sua marca e a forma como
a mesma é percecionada. Ainda que gere alguma controvérsia na Alemanha dada a forma
como o clube surgiu, o RB Leipzig é o terceiro clube mais apoiado do país (Brand Finance
Football, 2020).
No que concerne as redes sociais, o clube conta com cerca de 5,5 milhões de
seguidores nos principais canais, ocupando a 45ª posição da lista de clubes com mais
seguidores (Football Benchmark, 2023).
39
3.3
Internacionalização do F.C. Barcelona através da marca: Um caso de estudo
Desde o início do séc. XXI que se começaram a verificar os primeiros passos de globalização
das marcas F.C. Barcelona e Real Madrid, sendo que estes dois clubes seguiram aquilo que teria
sido inicialmente feito por parte do Manchester United. O clube inglês foi o pioneiro a assinar
acordos com marcas multinacionais tal como o acordo de 30 milhões de libras com a Vodafone
AirTouch, para ser o principal patrocinador dos equipamentos na época. Também um acordo
realizado com os New York Yankees, equipa de basebol americana visava uma parceria com
vista a expansão global das duas marcas. Através de estes e outros acordos foi possível ao
Manchester United apresentar valores superiores ao nível de receitas quando comparado com
os dois clubes espanhóis à época, nomeadamente o F.C. Barcelona conforme demonstrado na
Figura 14 (Ginesta et al., 2020).
300
250
200
150
100
50
0
1996
F.C. Barcelona
2003
Manchester United
Figura 14 - Impacto financeiro da internacionalização da marca nas receitas dos clubes, em milhões de euros (Ginesta
et al., 2020)
Foi a partir deste momento que os dois clubes espanhóis, nomeadamente o F.C.
Barcelona começaram a procurar desenvolver a sua presença no mercado internacional. O
clube espanhol visou desenvolver as suas estratégias de marketing tendo como pilar a marca
do clube, associada ao seu estilo de jogo, valores e à forte ligação para com a Catalunha. O
clube procedeu à criação de uma série de escolas de futebol espalhadas pelo mundo, as quais
denominou de Academia. Estas escolas tinham como principal objetivo a formação de
jogadores com idades compreendidas entre os 6 e os 15 anos, transmitindo-lhes os valores
que servem de alicerce ao clube. Desta forma, foi possível ao clube levar a sua marca até
países como os Estados Unidos, Brasil, Tailândia, China e Japão (Biscaia & Correia, 2019).
Adicionalmente, e de forma a fortalecer sua posição no mercado americano, antes da
abertura de uma sede do clube em Nova York, o F.C. Barcelona tentou se tornar o proprietáriode um clube da MLS, principal escalão de futebol norte americano. No entanto, em março
de 2009, a MLS e o F.C. Barcelona decidiram rejeitar a candidatura de Miami, clube a ser
adquirido pelo F.C. Barcelona, como um novo entrante no processo de expansão da MLS.
Isto aconteceu devido à recessão económica vivenciada nos EUA em 2009 e à incerteza
associada a esta operação (Barcelona, 2006). Esta poderia ter sido a oportunidade de o clube
estabelecer um sistema de MCO de forma a potencializar a sua internacionalização.
Com a chegada de Sandro Rosell como novo presidente do clube em 2010, e Josep
Maria Bartomeu em 2014, a organização reavaliou a sua estratégia comercial e procurou
dinamizar os seus fluxos de receita. A principal novidade, foi o acordo com a Qatar Sports
Investment e a Qatar Airways (Ginesta & de San Eugenio, 2014), parceria mantida até à
temporada 2016/2017, em que a Rakuten, um Marketplace online japonês passou a ser o
patrocinador oficial das camisolas do clube, num negócio de 5 anos fixado em 55 milhões de
euros (Ginesta et al., 2020). Para evitar competir com os patrocinadores oficiais do clube e
alargar a rede de parceiros comerciais, a administração de Sandro Rosell também desenvolveu
um plano de parceiros regionais em várias regiões geográficas, conforme apresentado na
Figura 15 (Ginesta et al., 2020).
Figura 15 - Rede de escolas e parceiros comerciais FCB (Ginesta et al., 2020)
41
3.3.1
Eficiência económica
Ao longo deste subcapítulo será realizada uma análise não só financeira do F.C. Barcelona,
mas também da gestão do clube que levou a que um dos clubes que apresenta maior receita
na indústria, tenha vindo a sofrer uma deterioração dos valores financeiros apresentados.
Desde a conquista da UEFA Champions League na época 2014/2015, que o F.C.
Barcelona tem vindo a apresentar uma quebra no seu rendimento desportivo, mas acima de
tudo nas finanças do clube. Nas temporadas 2019/2020 e 2020/2021 o clube apresentou um
resultado operacional negativo, com perdas a rondar os 500 milhões de euros e uma divida
financeira a rondar o mesmo valor.
2015/2016 2016/2017 2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021
Receitas
Resultado Operacional
557
580
687
49
Dívida Financeira
31
21
28
32
65
837
18
271
Figura 16 - Resultados financeiros F.C. Barcelona em milhões de euros (Armenius Group, 2023)
708-105
480
575-505
533
Ao nível da receita o F.C. Barcelona apresenta um dos maiores valores da indústria
tendo sofrido algumas quebras recentes devido ao período pandémico e ao subsequente
encerrar de portas dos estádios, conforme é visível na Figura 16. Para além do encerramento
dos estádios o clube também se viu impedido de realizar as suas turnês de pré-temporada,
organizar as tours guiadas ao seu estádio/museu e ainda de comercializar os seus produtos
nas lojas físicas do clube. 3.3.1
Eficiência económica
Ao longo deste subcapítulo será realizada uma análise não só financeira do F.C. Barcelona,
mas também da gestão do clube que levou a que um dos clubes que apresenta maior receita
na indústria, tenha vindo a sofrer uma deterioração dos valores financeiros apresentados.
Desde a conquista da UEFA Champions League na época 2014/2015, que o F.C.
Barcelona tem vindo a apresentar uma quebra no seu rendimento desportivo, mas acima de
tudo nas finanças do clube. Nas temporadas 2019/2020 e 2020/2021 o clube apresentou um
resultado operacional negativo, com perdas a rondar os 500 milhões de euros e uma divida
financeira a rondar o mesmo valor.
2015/2016 2016/2017 2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021
Receitas
Resultado Operacional
557
580
687
49
Dívida Financeira
31
21
28
32
65
837
18
271
Figura 16 - Resultados financeiros F.C. Barcelona em milhões de euros (Armenius Group, 2023)
708-105
480
575-505
533
Ao nível da receita o F.C. Barcelona apresenta um dos maiores valores da indústria
tendo sofrido algumas quebras recentes devido ao período pandémico e ao subsequente
encerrar de portas dos estádios, conforme é visível na Figura 16. Para além do encerramento
dos estádios o clube também se viu impedido de realizar as suas turnês de pré-temporada,
organizar as tours guiadas ao seu estádio/museu e ainda de comercializar os seus produtos
nas lojas físicas do clube.
1200
1000
800
600
400
200
0
Figura 17 - Receita F.C. Barcelona entre 2010 e 2022 em Milhões de euros (Statista, 2023)
Tal como já mencionado, o principal canal de despesas de um clube diz respeito às
remunerações dos jogadores constituintes do plantel. Na temporada 2017/2018, o F.C.
Barcelona ultrapassava a barreira de 500 milhões de euros em remunerações, sendo um dos
clubes europeus com a folha salarial mais dispendiosa. Este valor representava um aumento
42
de cerca de 40% face à época anterior dada a contratação agressiva de jogadores de renome
como Philippe Coutinho, Ousmane Dembelé, entre outros. Estas contratações iriam
representar um gasto de mais de 350 milhões de euros para o clube. Durante o período em
análise na Figura 18, o clube gastou mais de 1.2 mil milhões de euros na aquisição de novos
jogadores, tendo tido um gasto líquido a rondar os 490 milhões de euros.
2016/2017 2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021 2021/2022 2022/2023
Compras
124,75
Vendas
Saldo Líquido-90,95
33,8
375,1
232,5
141,1
298,5
111,94
146,05-142,6
4,95
154,4-144,1
154,4
42,46
69,5
70,76
1,26
Figura 18 - Saldo de transferências F.C. Barcelona entre 2016 e 2021 (Transfermarkt, 2016-2023)
158
39,5-118,5
De forma a fazer face à estratégia de contratações agressivas, o presidente do clube
recorreu ao endividamento bancário, fazendo a divida de o clube aumentar cerca de 500
milhões de euros durante um período de 5 anos.
Algo que iria agravar ainda mais a situação do clube foi o sistema de teto salarial
introduzido pela liga espanhola no ano de 2013. O teto salarial corresponde à subtração dos
gastos com transferências e custos operacionais à receita do clube. O teto salarial do F.C.
Barcelona, conforme é visível na Figura 19 viria a registar quedas consecutivas o que
culminou na saída do seu jogador mais icónico, Lionel Messi. Tendo em conta que a presença de grandes jogadores e o estilo de jogo atrativo do
clube foram alguns dos pilares que permitiram ao F.C. Barcelona proceder à sua expansão
internacional e respetivo desenvolvimento comercial, principal fonte de receitas do clube
(Biscaia & Correia, 2019), a perda de o seu jogador mais influente devido às suas limitações
financeiras fizeram soar o alarme no clube, tanto do ponto de vista financeiro como
43
desportivo. O clube passou de apresentar a terceira maior receita comercial no ano de 2019
para ocupar a sétima posição desse mesmo ranking no ano de 2022 (UEFA, 2023).
3.3.2 Performance desportiva
Se olharmos para o ranking de clubes da UEFA a 10 anos, o F.C. Barcelona ocupa a terceira
posição atrás do seu rival direto, Real Madrid e do Bayern Munique (UEFA, 2023). Neste
período de 10 anos o clube conta com uma conquista da UEFA Champions League na
temporada 2014/2015. Ainda assim, se olharmos para o panorama atual do clube,
percebemos que existiu uma notória degradação daquilo que é a sua performance desportiva,
conforme apresentado na Tabela 6. Nas últimas 4 temporadas a melhor prestação do clube
nas competições europeias foi a chegada aos quartos-de-final da UEFA Champions League em
2019/2020, sendo que nos anos seguintes por uma vez não se qualificou para esta prova e
na última temporada o clube não consegui passar a fase-de-grupos transacionando para
UEFA Europa League onde viria a ser eliminado nos dezasseis-avos-de-final. No corrente ano,
o clube ocupa a décima quarta posição no ranking de clubes da UEFA (UEFA, 2023).
No que às provas internas diz respeito, o clube conquistou o campeonato nacional
na temporada 2022/2023, prova que não conquistava desde 2018/2019. Outrora um dos
maiores colossos do futebol europeu, o clube encontra-se atualmente a passar por uma fase
de reestruturação dada todas as adversidades financeiras que acabaram por se refletir na sua
performance desportiva.
Temporada La Liga UEFA Champions League UEFA Europa League
2010-2011
2011-2012
2012-2013
2013-2014
2014-2015
2015-2016
2016-2017
2017-2018
2018-2019
2019-2020
2020-2021
2021-2022
1º
2º
1º
2º
1º
1º
2º
1º
1º
2º
3º
Vencedor
Meia-final
Meia-final
Quartos-de-final
Vencedor
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Meia-final------
Copa del Rey
Finalista vencido
Vencedor
Semi-final
Supercopa de España
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Finalista vencido
Vencedor
Vencedor--
Quartos-de-final
Oitavos-de-final
2º
2022-2023
1º
Não qualificado
Fase-de-grupos--
Quartos-de-final
Dezasseis-avos-de-final
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Quartos-de-final
Vencedor
Oitavos-de-final
Meia-final
Tabela 6 - Performance desportiva F.C. Barcelona (Zerozero, 2010-2023)
3.3.3 Alcance global da marca
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Vencedor
Finalista vencido
Vencedor
Meia-final
Finalista vencido
Meia-final
Vencedor
De acordo com Brand Finance Football o F.C. Barcelona é a terceira marca mais forte da indústria
e a terceira mais valiosa com um valor a rondar os 1,37 mil milhões de euros (Brand Finance,
2023). Tendo em conta que a presença de grandes jogadores e o estilo de jogo atrativo do
clube foram alguns dos pilares que permitiram ao F.C. Barcelona proceder à sua expansão
internacional e respetivo desenvolvimento comercial, principal fonte de receitas do clube
(Biscaia & Correia, 2019), a perda de o seu jogador mais influente devido às suas limitações
financeiras fizeram soar o alarme no clube, tanto do ponto de vista financeiro como
43
desportivo. O clube passou de apresentar a terceira maior receita comercial no ano de 2019
para ocupar a sétima posição desse mesmo ranking no ano de 2022 (UEFA, 2023).
3.3.2 Performance desportiva
Se olharmos para o ranking de clubes da UEFA a 10 anos, o F.C. Barcelona ocupa a terceira
posição atrás do seu rival direto, Real Madrid e do Bayern Munique (UEFA, 2023). Neste
período de 10 anos o clube conta com uma conquista da UEFA Champions League na
temporada 2014/2015. Ainda assim, se olharmos para o panorama atual do clube,
percebemos que existiu uma notória degradação daquilo que é a sua performance desportiva,
conforme apresentado na Tabela 6. Nas últimas 4 temporadas a melhor prestação do clube
nas competições europeias foi a chegada aos quartos-de-final da UEFA Champions League em
2019/2020, sendo que nos anos seguintes por uma vez não se qualificou para esta prova e
na última temporada o clube não consegui passar a fase-de-grupos transacionando para
UEFA Europa League onde viria a ser eliminado nos dezasseis-avos-de-final. No corrente ano,
o clube ocupa a décima quarta posição no ranking de clubes da UEFA (UEFA, 2023).
No que às provas internas diz respeito, o clube conquistou o campeonato nacional
na temporada 2022/2023, prova que não conquistava desde 2018/2019. Outrora um dos
maiores colossos do futebol europeu, o clube encontra-se atualmente a passar por uma fase
de reestruturação dada todas as adversidades financeiras que acabaram por se refletir na sua
performance desportiva.
Temporada La Liga UEFA Champions League UEFA Europa League
2010-2011
2011-2012
2012-2013
2013-2014
2014-2015
2015-2016
2016-2017
2017-2018
2018-2019
2019-2020
2020-2021
2021-2022
1º
2º
1º
2º
1º
1º
2º
1º
1º
2º
3º
Vencedor
Meia-final
Meia-final
Quartos-de-final
Vencedor
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Meia-final------
Copa del Rey
Finalista vencido
Vencedor
Semi-final
Supercopa de España
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Finalista vencido
Vencedor
Vencedor--
Quartos-de-final
Oitavos-de-final
2º
2022-2023
1º
Não qualificado
Fase-de-grupos--
Quartos-de-final
Dezasseis-avos-de-final
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Quartos-de-final
Vencedor
Oitavos-de-final
Meia-final
Tabela 6 - Performance desportiva F.C. Barcelona (Zerozero, 2010-2023)
3.3.3 Alcance global da marca
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Vencedor
Finalista vencido
Vencedor
Meia-final
Finalista vencido
Meia-final
Vencedor
De acordo com Brand Finance Football o F.C. Barcelona é a terceira marca mais forte da indústria
e a terceira mais valiosa com um valor a rondar os 1,37 mil milhões de euros (Brand Finance,
2023). Tendo em conta que a presença de grandes jogadores e o estilo de jogo atrativo do
clube foram alguns dos pilares que permitiram ao F.C. Barcelona proceder à sua expansão
internacional e respetivo desenvolvimento comercial, principal fonte de receitas do clube
(Biscaia & Correia, 2019), a perda de o seu jogador mais influente devido às suas limitações
financeiras fizeram soar o alarme no clube, tanto do ponto de vista financeiro como
43
desportivo. O clube passou de apresentar a terceira maior receita comercial no ano de 2019
para ocupar a sétima posição desse mesmo ranking no ano de 2022 (UEFA, 2023).
3.3.2 Performance desportiva
Se olharmos para o ranking de clubes da UEFA a 10 anos, o F.C. Barcelona ocupa a terceira
posição atrás do seu rival direto, Real Madrid e do Bayern Munique (UEFA, 2023). Neste
período de 10 anos o clube conta com uma conquista da UEFA Champions League na
temporada 2014/2015. Ainda assim, se olharmos para o panorama atual do clube,
percebemos que existiu uma notória degradação daquilo que é a sua performance desportiva,
conforme apresentado na Tabela 6. Nas últimas 4 temporadas a melhor prestação do clube
nas competições europeias foi a chegada aos quartos-de-final da UEFA Champions League em
2019/2020, sendo que nos anos seguintes por uma vez não se qualificou para esta prova e
na última temporada o clube não consegui passar a fase-de-grupos transacionando para
UEFA Europa League onde viria a ser eliminado nos dezasseis-avos-de-final. No corrente ano,
o clube ocupa a décima quarta posição no ranking de clubes da UEFA (UEFA, 2023).
No que às provas internas diz respeito, o clube conquistou o campeonato nacional
na temporada 2022/2023, prova que não conquistava desde 2018/2019. Outrora um dos
maiores colossos do futebol europeu, o clube encontra-se atualmente a passar por uma fase
de reestruturação dada todas as adversidades financeiras que acabaram por se refletir na sua
performance desportiva.
Temporada La Liga UEFA Champions League UEFA Europa League
2010-2011
2011-2012
2012-2013
2013-2014
2014-2015
2015-2016
2016-2017
2017-2018
2018-2019
2019-2020
2020-2021
2021-2022
1º
2º
1º
2º
1º
1º
2º
1º
1º
2º
3º
Vencedor
Meia-final
Meia-final
Quartos-de-final
Vencedor
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Quartos-de-final
Meia-final------
Copa del Rey
Finalista vencido
Vencedor
Semi-final
Supercopa de España
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Finalista vencido
Vencedor
Vencedor--
Quartos-de-final
Oitavos-de-final
2º
2022-2023
1º
Não qualificado
Fase-de-grupos--
Quartos-de-final
Dezasseis-avos-de-final
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Quartos-de-final
Vencedor
Oitavos-de-final
Meia-final
Tabela 6 - Performance desportiva F.C. Barcelona (Zerozero, 2010-2023)
3.3.3 Alcance global da marca
Vencedor
Vencedor
Finalista vencido
Vencedor
Finalista vencido
Vencedor
Meia-final
Finalista vencido
Meia-final
Vencedor
De acordo com Brand Finance Football o F.C. Barcelona é a terceira marca mais forte da indústria
e a terceira mais valiosa com um valor a rondar os 1,37 mil milhões de euros (Brand Finance,
2023). Em relação à sua presença nas redes sociais, o clube ocupa a segunda posição no que
ao número de seguidores diz respeito nas principais plataformas, com um valor a rondar os
331 milhões de seguidores. (Football Benchmark, 2023). Isso amplia seu alcance global e
permite que o clube se conecte diretamente com os fãs em todo o mundo. Adicionalmente,
o Camp Nou, o estádio do F.C. Barcelona, com uma capacidade superior a 99 mil lugares é um
dos maiores estádios de futebol do mundo tornando-o num ponto turístico icónico para
todos os adeptos de futebol.4 Conclusões
Nas últimas duas décadas assistimos a alterações significativas na indústria do futebol. Esta
é uma indústria que gera e envolve mais dinheiro que nunca, com os clubes a passarem de
entidades desportivas com uma forte conexão e responsabilidade socioeconómica para com
a comunidade local em que se inserem, para multinacionais desportivas que procuram
expandir o alcance global da sua marca de forma a maximizar as suas receitas.
Esta transição obrigou a uma maior profissionalização da gestão dos clubes e com
isso a introdução de estratégias de internacionalização. Tal como as empresas, os clubes
voltaram-se para o mercado internacional, e num período de cerca de 20 anos, as estratégias
de internacionalização adotadas pelos clubes já sofreram evoluções significativas.
Desta forma, através da corrente dissertação, procurou-se analisar o processo de
internacionalização dos clubes de futebol, explorando a tendência crescente da presença de
sistemas de MCO na indústria e a forma como a implementação destes se difere de estratégias
anteriores, como a internacionalização dos clubes através da marca.
Tendo como base as duas estratégias de internacionalização, recorreu-se à análise de
3 casos de estudo. Dois deles associados aos sistemas de MCO (Manchester City e RB Leipzig)
e um outro associado à internacionalização através da marca, o caso do F.C. Barcelona.
Internacionalizando-se inicialmente através da marca, tal como o F.C. Barcelona, os
clubes perceberam que existiam vantagens ao expandir o alcance global das suas marcas e
quanto mais bem-sucedidos fossem nesse processo maiores seriam as suas receitas. A
estratégia de internacionalização adotada pelo F.C. Barcelona foi bem-sucedida promovendo
um aumento considerável nas receitas do clube e da exposição da marca no mercado
internacional. Ainda assim, esta estratégia não foi suficiente para colmatar os mais recentes
problemas que o clube atravessa. Inclusive, com a saída de Lionel Messi do clube, o clube
saiu ainda mais prejudicado do ponto de vista financeira, uma vez que a presença de grandes
jogadores num clube funciona como uma alavanca para o sucesso da estratégia de
internacionalização através da marca.
Mais tarde, e com a crescente profissionalização da gestão, investidores começaram
a perceber que proceder à criação de grupos desportivos que detivessem dois ou mais clubes
em geografias diferentes, poderia ser altamente benéfico do ponto de vista da expansão
internacional dos clubes. O sucesso dos clubes no mercado internacional iria então refletir
se num aumento das suas receitas e subsequentemente maiores ganhos para os investidores.Pode-se olhar para este fenómeno como uma nova etapa da internacionalização dos clubes
de futebol.
Estes tornaram-se verdadeiras multinacionais e tal como o Manchester City e o RB
Leipzig, geridos pelo CFG e Red Bull respetivamente, viram não só a sua performance
desportiva, mas também, a sua eficiência económica melhorar de forma significativa.
O Manchester City, muito também pelo significativo investimento realizado,
demonstrou resultados particularmente notáveis nessa abordagem, posicionando-se hoje em
dia como uma das maiores referências do futebol mundial, tanto do ponto de vista desportivo
como financeiro. O conglomerado de clubes do qual é líder, permitiu ao Manchester City
garantir dos melhores acordos comerciais da indústria e em simultâneo ganhar maior
visibilidade no mercado internacional, servindo ao dia de hoje como o principal exemplo de
sucesso da internacionalização de clubes através de MCO.
A par do Manchester City, também o RB Leipzig demonstrou um crescimento
interessante dentro e fora de campo, com um foco notável no desenvolvimento orgânico de
jogadores e a subsequente venda dos mesmos, gerando mais valias para o clube, sendo este
um dos pilares que permite ao RB Leipzig apresentar elevada estabilidade financeira.
Através da prsente análise é possível providenciar ao leitor um ângulo atualizado do
panorama da indústria do futebol e as principais tendências no que à internacionalização dos
clubes diz respeito. Ainda que eficiente, percebemos que a internacionalização através da
marca pode ser potencializada se contemplada numa ótica de MCO. Para além disso,
percebemos que os problemas financeiros atravessados pelo F.C. Barcelona poderiam ter sido
minimizados caso o clube fizesse parte de um conglomerado de clubes, devido todas as
vantagens enumeradas ao longo da dissertação. Tomando como exemplo a saída da estrela
do clube, Lionel Messi, talvez se o clube tivesse adquirido o clube de Miami no ano de 2009,
poderia ter sido uma escapatória à impossibilidade de inscrever o jogador na liga espanhola
dadas as dificuldades em cumprir com os requisitos de teto salarial. Tendo em consideração
um caso hipotético, se o jogador fosse transferido para o clube de Miami a ser adquirido na
altura pelo F.C. Barcelona, talvez fosse possível continuar a beneficiar do facto de ter o jogador
presente na rede a gerar mais valias para os dois clubes. Não deixa de ser irónico o facto de
hoje em dia o jogador jogar pelo Inter Miami, clube da MLS.
Não obstante, é importante ressalvar que este ainda que se bem executado possa
refletir inúmeras vantagens competitivas, a implementação de um sistema de MCO é um
processo altamente desafiante e complexo que requer uma análise aprofundada de todo o ecossistema futebolístico. Adicionalmente, é necessário ter em consideração que a aquisição
de um clube por parte de um grupo é um tema que gera muita controvérsia na esfera dos
adeptos, que são um elemento-chave para a continuidade dos clubes de futebol, podendo até
mesmo o processo de aquisição de um clube não se concluir devido a essa adversidade.
Como nota final é importante mencionar que a diferença entre os grandes clubes e
os demais tem vindo a aumentar de forma considerável. Ao dia de hoje a indústria divide-se
praticamente em dois grupos de clubes, aqueles que são capazes de explorar as suas marcas
à escala global fomentando sinergias positivas com os demais parceiros, vendo as suas
receitas e performance desportiva aumentar e do outro lado, clubes têm como principal
objetivo preservar a sua sustentabilidade financeira de forma a sobreviver na indústria. Esta
desigualdade, alavancada pelo aparecimento de sistemas de MCO que reúnem estes dois tipos
de clube num só grupo, muito provavelmente irá implicar a existência de um sistema fechado,
reunindo os melhores clubes, os melhores jogadores e dessa forma explorar ainda mais a
vertente socio económica da indústria do futebol.
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