O fator económico nos clubes de futebol engloba diversas fontes de receita, como direitos de transmissão (TV), patrocínios, vendas de jogadores, e receitas de bilheteira, que financiam as operações e o investimento desportivo, gerando um impacto económico significativo na sociedade, incluindo o emprego e a contribuição para o PIB. Contudo, o setor enfrenta desafios financeiros, como altos níveis de endividamento, e problemas como a sonegação de impostos e a má gestão de receitas, que podem levar a dificuldades financeiras e a um impacto negativo na economia do esporte.
Fontes de Receita
Direitos de Transmissão (TV):
A principal fonte de receita da maioria dos clubes, proveniente da venda dos direitos de transmissão de jogos e premiações por desempenho em competições.
Patrocínios e Publicidade:
Contratos com empresas de patrocínio e publicidade que rendem valores significativos aos clubes, como o patrocínio do Palmeiras com a Sportingbet, mencionado na Poder360.
Venda de Jogadores:
Transações milionárias de jogadores entre clubes geram uma receita expressiva para os clubes.
Receitas de Bilheteira:
Dinheiro arrecadado com a venda de ingressos para os jogos, que é uma receita relevante, embora não seja a maior do mercado.
Ações de Marketing:
Venda de produtos licenciados, merchandising e outras ações de marketing também geram receita para os clubes.
Défices e Endividamento
Muitos clubes brasileiros enfrentam altos níveis de endividamento, com dívidas fiscais significativas, muitas vezes motivadas pela apropriação indébita de valores destinados aos impostos.
A má gestão financeira e a falta de recolhimento dos impostos sobre os salários dos atletas são causas importantes de endividamento e problemas fiscais.
Impacto Económico Geral
O futebol é um grande negócio que movimenta bilhões globalmente, atraindo a atenção de diversos estudos acadêmicos.
Representa uma parcela significativa da economia de países como o Brasil, contribuindo para o Produto Interno Bruto (PIB) e sendo uma importante fonte de emprego.
O setor de transferências e a atração de turistas pelo esporte também impulsionam as economias locais. Segundo especialistas nos veiculos de imprensa no Brasil.
Exemplos no Brasil
Clubes como Corinthians, Atlético Mineiro, Cruzeiro, e Vasco da Gama figuram entre os mais endividados do Brasil, de acordo com a CNN Brasil.
O Flamengo foi o clube com maior receita em 2024, segundo a Sports Value.
O financiamento dos clubes na Europa assenta principalmente na receita de receitas geradas através de direitos de transmissão, patrocínios, venda de bilhetes e merchandising, complementado por investimentos de acionistas e proprietários. O sistema é regulado pela UEFA, que impõe o seu modelo de Fair Play Financeiro (FPF) para garantir a sustentabilidade financeira dos clubes, limitando o endividamento e os prejuízos, com a recente implementação da regra de custos com o plantel, que restringe gastos com salários, transferências e agentes a 70% das receitas a partir da época 2025/26.
Principais fontes de financiamento:
Receitas comerciais:
Venda de direitos televisivos, acordos de patrocínio, merchandising e bilhética.
Investimento de proprietários e acionistas:
Capital injetado pelos donos dos clubes para cobrir défices ou financiar investimentos em infraestruturas.
Pagamentos de solidariedade da UEFA:
Uma percentagem das receitas da UEFA é redistribuída para clubes que não participam nas suas competições, destinados a programas de desenvolvimento juvenil ou comunitário.
Regulação e controlo:
Fair Play Financeiro (FPF):
Conjunto de regras da UEFA para garantir a saúde financeira dos clubes.
Os clubes não podem gastar mais do que arrecadam nem acumular dívidas insustentáveis.
Existem limites para os prejuízos acumulados ao longo de um período de três anos.
Desde a época 2025/26, os clubes estão limitados a gastar 70% das suas receitas em salários, transferências e honorários de agentes.
O não cumprimento das regras pode resultar em sanções financeiras e medidas desportivas, como a exclusão de competições.
Impacto do FPF:
Promove a sustentabilidade: Ajuda a criar clubes financeiramente saudáveis a longo prazo, capazes de honrar os seus compromissos.
Evita a acumulação de dívidas: Controla a dívida e a dependência de gastos excessivos.
Melhora a equidade: Cria um ambiente mais equilibrado, impedindo que clubes mais ricos simplesmente gastem mais para ter sucesso. Segundo especialistas nos veiculos de imprensa no Brasil.
European Journal of Applied Business Management, 9(4), 2023, pp. 53-70
ISSN 2183-5594
Research Paper
O impacto do desempenho desportivo e financeiro dos clubes de futebol
europeus no preço das suas ações
The impact of the sports and financial performance of European
football clubs on their share prices
Submitted in 15 th, November 2023
Accepted in 13 th, December 2023
Evaluated by a double-blind review system
LUÍS FERNANDES1*
LUÍS COSTA2*
RESUMO
Objetivo: A presente investigação tem como objetivo a análise das ações dos clubes de
futebol europeus cotados em bolsa de valores.
Desenho/metodologia/abordagem: Este trabalho examina de modo empírico a relação
entre indicadores de desempenho desportivo e de desempenho financeiro e a
determinação do preço de mercado de um conjunto de 9 clubes de futebol europeus, no
período entre 2016 e 2022. A metodologia empírica selecionada foi a de dados em painel.
Resultados: Os resultados indicam que o desempenho desportivo dos clubes de futebol
desempenha um papel crucial na determinação dos preços de mercado das suas ações.
Adicionalmente, as variáveis de desempenho financeiro tais como a dimensão, o
endividamento e a rendibilidade líquida das vendas também exercem uma influência
estatisticamente significativa na determinação do preço das ações dos clubes de futebol
europeus.
Originalidade/valor: Este trabalho pretende contribuir para o desenvolvimento da
literatura que aborda os fatores determinantes do preço das ações dos clubes de futebol
negociados no mercado de capitais e pode ser uma ferramenta muito útil para os
potenciais investidores de clubes de futebol.
Palavras-Chave: Preço das ações, clubes de futebol, desempenho desportivo,
desempenho financeiro, rácio de solvabilidade.
1 ISCTE, Portugal. E-mail: ljfss@iscte-iul.pt
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2* Corresponding autor. Universidade de Aveiro. E-mail: miguelveloso-7@hotmail.com
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ABSTRACT
Purpose: The aim of this research is to analyse the shares of European football clubs
listed on the stock exchange.
Methodology: This paper empirically examines the relationship between sports
performance and financial performance indicators and the determination of the market
price of a group of 9 European football clubs between 2016 and 2022. The empirical
methodology selected was panel data.
Findings: The results indicate that the sports performance of football clubs plays a crucial
role in determining the market prices of their shares. In addition, financial performance
variables such as size, indebtedness and net return on sales also have a statistically
significant influence on determining the share price of European football clubs.
Originality: This work aims to contribute to the development of the literature on the
determinants of the share price of football clubs traded on the capital market and can be
a very useful tool for potential investors in football clubs.
Keywords: Share price, football clubs, sports performance, financial performance,
solvency ratio.
1. Introdução
O futebol profissional deu os seus primeiros passos na Inglaterra durante a revolução
industrial, quando as pessoas começaram a ter mais dinheiro e tempo de lazer suficiente
para assistirem aos jogos (Gerrard, 1999). Trata-se de um dos desportos mais populares
em todo o mundo e que tem a capacidade de interligar as pessoas, independentemente da
sua cultura, religião, preferência política ou estrato socioeconómico (Ahtiainen, 2018).
O futebol é simultaneamente um desporto e uma indústria que mudou de forma
considerável nos últimos anos, sendo que para além do espetáculo desportivo e da paixão
que gera entre os adeptos, tem vindo a movimentar uma quantidade crescente de recursos
financeiros (Findikçi & Tapsin, 2015). Desta forma, o aumento da profissionalização dos
clubes de futebol fez com que muitos deles passassem a ser empresas cotadas com as suas
ações admitidas em negociação na bolsa de valores. Este facto fez com que eles passassem
a ser avaliados em duas dimensões: i) desempenho desportivo e ii) desempenho financeiro
(Duque & Ferreira, 2005).
Estas mudanças estruturais criaram uma forma diferente de compreender o futebol, tanto
para os adeptos como para os gestores e acionistas dos clubes. Por um lado, os adeptos
precisam de ter uma perceção mais realista da responsabilidade financeira e da gestão.
Por outro lado, os acionistas e gestores precisam de descobrir a fórmula para equilibrar
um bom desempenho desportivo e um bom desempenho financeiro (Urdaneta-Camacho
et al., 2022). A literatura sobre o desempenho dos clubes de futebol parece sugerir que
para garantir a viabilidade a médio e longo prazo dos clubes, estes devem ser geridos de
modo profissional e eficiente e devem tentar alcançar o alinhamento necessário entre os
resultados desportivos e os resultados financeiros (Abbas, 2022).
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Plumley et al. (2017) indicam que os clubes de futebol cotados não apresentam uma
conduta diferente das outras empresas cotadas, na medida em que a maioria das
estratégias concebidas e implementadas pela sua gestão, tanto a curto como a longo prazo,
visam maximizar o preço das suas ações. Johnson e Soenen (2003) indicam que os preços
das ações são o principal indicador quando se pretende analisar o desempenho de uma
empresa.
Neste contexto, é importante estudar as variáveis que influenciam o preço das ações dos
clubes de futebol na bolsa de valores. A análise dessas variáveis pode ajudar a gestão dos
clubes a identificar pontos de melhoria e a tomar decisões estratégicas de modo a
maximizarem os seus resultados. Além disso, esta investigação pode ajudar investidores
e analistas presentes no mercado a tomarem decisões informadas sobre a compra ou venda
de ações de clubes de futebol.
A análise do preço das ações dos clubes de futebol ainda não foi completamente explorada
pela literatura. Nessa medida, este estudo tem como objetivo investigar a influência do
desempenho desportivo dos clubes europeus de futebol cotados no preço das suas ações.
Adicionalmente, esta investigação tem também como objetivo completar a literatura
quanto à análise entre o desempenho financeiro dos clubes europeus e o preço das suas
ações. O estudo analisa 9 ações de clubes europeus durante o período entre 2016 e 2022
e é utilizada a metodologia de dados em painel.
Este trabalho pretende contribuir para a literatura a vários níveis. Em primeiro lugar, a
relevância deste estudo cifra-se no facto de existir um número muito reduzido de estudos
que combinam indicadores desportivos e indicadores financeiros na determinação do
preço das ações dos clubes de futebol. De igual modo, existe ainda um número ainda mais
reduzido de estudos que utilizam a metodologia de dados em painel, pelo que este trabalho
enriquece a literatura a esse nível. Em segundo lugar, a taxa de câmbio pode ter um
impacto significativo nas decisões de investimento em ações, com consequência no seu
preço (Wu, 2000). Desta forma, e ao contrário de todos os estudos que foram realizados
até então, este estudo irá desconsiderar as ações que não foram transacionadas em Euros.
Esta abordagem foi aplicada por Costa (2022a) e Costa (2022b) nos seus estudos para
empresas não financeiras europeias. Este estudo permite a inclusão e análise de clubes
que têm sido pouco estudados nesta literatura, como por exemplo o clube Sporting Clube
de Braga, no caso português. Este trabalho também é diferente dos demais porque utiliza
um indicador de endividamento que nunca foi utilizado nos estudos sobre clubes de
futebol. Trata-se do rácio de solvabilidade, que é obtido através do rácio entre o capital
próprio e o passivo dos clubes e foi um indicador utilizado por Ribeiro e Quesado (2017).
Por fim, este trabalho também é pioneiro no sentido em que considera o período desde
que a tecnologia do videoárbitro começou a ser utilizada na Europa. A utilização desta
tecnologia na Europa teve início em agosto de 2016, num jogo amigável entre a seleção
italiana e a seleção francesa e, desde então, o seu uso foi gradualmente expandido para
todas as outras ligas e competições europeias sendo reconhecida a sua utilidade para a
verdade desportiva (Spitz et al., 2021).
Este trabalho está organizado da seguinte forma: a secção 2 faz uma breve revisão da
literatura sobre as variáveis que influenciam o preço das ações dos clubes de futebol.
Posteriormente, a secção 3 descreve os dados e a metodologia a utilizar na estimação do
modelo. A secção 4 discute os resultados empíricos. Por último, são apresentadas as
principais conclusões deste trabalho.
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2. Revisão de Literatura e Hipóteses
2.1 Enquadramento
Os clubes de futebol profissionais são organizações desportivas que participam em
competições profissionais e possuem jogadores que são pagos para jogar em competições
profissionais (Kringstad et al., 2018). Estes clubes podem ter outro tipo de modalidades
e podem obter rendimentos financeiros de várias formas. Neste sentido, é importante
realçar que as vendas de bilhetes representam uma parte significativa das suas receitas,
especialmente para aqueles que possuem estádios próprios. Os preços dos ingressos
podem variar de acordo com a liga, a equipa e o jogo específico. Outra importante fonte
de receitas para estes clubes são os direitos de transmissão, especialmente para aqueles
que participam nas principais ligas e competições europeias. As transmissões dos jogos
podem ser vendidas para canais de televisão locais e internacionais, com valores que
variam de acordo com a dimensão da audiência e o interesse na liga ou competição em
questão (Schreyer & Ansari, 2022).
Zoccali (2011) indicam que para além das vendas de bilhetes e dos direitos de
transmissão, os clubes de futebol podem também obter receitas através dos patrocínios,
da venda de jogadores, do merchandising e do aluguer dos seus espaços para os mais
variados tipos de eventos. Contudo, a literatura sugere que a afluência dos adeptos e
simpatizantes aos estádios está positivamente correlacionada com todas as outras fontes
de rendimento (Késenne, 2014).
O desempenho desportivo dos clubes possui um papel fundamental nos seus resultados
financeiros, uma vez que os bons desempenhos em campo geralmente desencadeiam um
aumento das receitas dos clubes nas fontes de rendimento mencionadas. Além disso, um
forte desempenho desportivo ao longo da temporada provavelmente garantirá o título da
liga nacional ou, pelo menos, um lugar nas primeiras posições da tabela. Isto permitirá
não só receber o prémio pelo título da liga, mas também garantir uma verba financeira
pelo acesso às competições europeias do próximo ano, quer da UEFA Europa League
quer da UEFA Champions League (Ahtiainen, 2018).
As ações dos clubes de futebol são instrumentos financeiros que representam uma parte
do capital social das sociedades anónimas desportivas (Maci et al., 2020). Numa fase
inicial, os clubes emitem ações no mercado primário geralmente com auxílio de um
intermediário financeiro. Este procedimento tem como finalidade captar recursos
financeiros sob a forma de capital de risco. Depois da sua emissão, estes ativos tendem a
ser negociados no mercado secundário mais precisamente nas bolsas de valores, sendo
que o seu preço evolui segundo as forças da procura e da oferta (Prigge & Tegtmeier,
2019; Pinho et al., 2019). Os acionistas têm somente duas formas de remuneração nos
investimentos em ações, que são os dividendos e os ganhos de capital (Prigge &
Tegtmeier, 2019). Os dividendos são uma parte dos lucros das empresas que são
distribuídos aos seus acionistas (Neves et al., 2020). Já os ganhos de capital acontecem
quando o preço de venda da ação é superior ao seu preço de compra (Pinho et al., 2019).
Nos mercados financeiros e mais precisamente na formação dos preços das ações
coabitam as expectativas de curto prazo e as expectativas de longo prazo dos investidores.
Estas expectativas são sequência do processo de tomada de decisão que, muitas das vezes,
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não são totalmente racionais (Costa 2022a). A literatura indica que os investidores em
ações podem ter uma conduta muito distinta entre si. Por um lado, existem investidores
que têm um interesse meramente financeiro, ou seja, são investidores que têm muito
pouco ou nenhum interesse no negócio específico da empresa na qual investem e que só
procuram obter o máximo de retorno possível, seja via dividendos seja via ganhos de
capital (Prigge & Tegtmeier, 2019). Por outro lado, existem investidores que colocam em
segundo plano o desempenho financeiro sendo que esta estratégia de investimento está
muito presente no caso dos clubes de futebol (Morrow, 2013). Alguns investidores
decidem investir em ações de clubes de futebol por razões extra financeiras mais voltadas
para os benefícios sociais ou para satisfazer as suas próprias necessidades pessoais
(Buchholz & Lopatta, 2017). Samagaio et al. (2009) relembram Fama (1970) e indicam
que num mercado de ações regulamentado, para ser considerado eficiente, o preço das
ações negociadas deverá refletir todas as informações disponíveis relevantes sobre os
emitentes. Assim, se o preço das ações refletir toda a informação relevante, espera-se que
os preços das ações só mudem quando forem conhecidas novas informações sobre os
clubes de futebol.
Demir e Danis (2011) estudaram a relação entre os preços das ações dos clubes de futebol
da Turquia tendo em consideração os resultados dos jogos, o seu local (em casa ou fora)
e o tipo de competição (nacional ou internacional). As conclusões do estudo indicam que
as vitórias causam um efeito positivo no preço das ações, enquanto que os empates e as
derrotas um efeito negativo. Adicionalmente, os resultados indicam que uma vitória numa
competição europeia não influencia o retorno das ações dos clubes e que o efeito de uma
vitória no campeonato nacional é expressivamente maior do que um efeito de uma vitória
numa competição europeia.
Neste sentido, a literatura sugere que as ações dos clubes de futebol são influenciadas
pelo desempenho desportivo dos clubes e pelo seu desempenho financeiro (Abbas, 2022).
De seguida são apresentados estudos que se debruçaram sobre o desempenho desportivo
no preço das ações dos clubes. Posteriormente são apresentados estudos que se debruçam
sobre o impacto que o desempenho financeiro exerce no preço das ações dos clubes.
2.2 Estudos que abordaram o desempenho desportivo no preço das ações dos clubes de
futebol
Vários estudos têm analisado o impacto que o desempenho desportivo exerce no preço
das ações, sendo que da revisão da literatura de futebol realizada, um dos estudos que se
considera pioneiro nesta área é o de Renneboog e Vanbrabant (2000). Estes autores
pretendiam saber se os preços das ações dos clubes de futebol cotados na bolsa de valores
de Londres e no mercado de investimentos alternativos eram influenciados pelo
desempenho desportivo semanal de dezassete equipas de futebol que competiam na
Premier League. Durante o período de estudo, entre 1995 e 1998, e tendo em conta uma
amostra de 840 jogos, foi descoberto que uma magnitude de retorno anormal positivo
seguido de uma vitória é menor do que o retorno anormal negativo depois de uma derrota.
Na investigação financeira sobre clubes de futebol, destaca-se também o estudo de Ashton
et al. (2003) que retrata a forte relação dos resultados em competições internacionais e os
retornos do mercado de ações. Este estudo afirma que bons desempenhos desportivos da
equipa de futebol são seguidos de bons retornos de ações. Sendo que o contrário também
se verifica, isto é, maus desempenhos desportivos de um clube são seguidos de maus
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retornos das ações no mercado. Adicionalmente, uma caraterística que se salienta desta
relação é a influência dos jogos. Na verdade, quanto mais importantes são os jogos, como
por exemplo, jogos do campeonato, maiores os movimentos no preço das ações, tendo
como ponto de comparação os jogos menos importantes, como por exemplo, os jogos
amigáveis.
Bernile e Lyandres (2011) examinaram se o desempenho desportivo dos clubes europeus
cotados em bolsa afeta o preço das suas ações. Os resultados sugerem que os
desempenhos desportivos são determinantes do comportamento do preço das ações dos
clubes, sendo que as vitórias muitas vezes levam a uma variação positiva no preço das
ações, enquanto que um empate ou uma derrota tem o efeito oposto.
O objetivo do estudo de Findikçi e Tapsin (2015) era investigar a relação entre os
resultados desportivos e o preço das ações das sociedades anónimas desportivas
pertencentes aos clubes de futebol que eram negociadas na Bolsa de Valores de Istambul.
A amostra foi constituída pelos clubes Besiktaş, Galatasaray, Fenerbahçe e Trabzonspor
e foram utilizados como indicadores desportivos, os resultados dos jogos bem como a
diferença entre o número de golos marcados e sofridos em cada jogo. Adicionalmente,
foram incluídos no modelo os índices bolsistas Istanbul Stock Exchange 100 (BIST 100)
e o BIST Sports Index, entre 2010 e 2015, sendo utilizada a metodologia de análise de
dados em painel. Os resultados sugerem que as vitórias e o comportamento dos índices
bolsistas exercem um efeito positivo e estatisticamente significativo no preço das ações
dos clubes. Por outro lado, os empates e as derrotas, exercem uma influência negativa e
estatisticamente significativa no preço das ações.
Mais recentemente, existe uma maior consciência acerca do impacto que a análise
financeira pode ter na previsão dos preços das ações. Neste sentido, os estudos mais
recentes têm feito uma análise conjunta onde são incluídos indicadores desportivos e
indicadores financeiros na determinação do preço das ações dos clubes de futebol.
Noonan e Silicaro (2019) tinham como objetivo investigar os fatores críticos de sucesso
para os investidores de clubes de futebol. Para tal analisaram 23 clubes de futebol
europeus cotados entre os anos de 2009 e 2019, estudando a relação entre o rácio market
to book e seis variáveis explicativas nomeadamente as vendas, a rendibilidade líquida das
vendas, o rácio de liquidez geral, o rácio de endividamento, a posição no campeonato e o
desempenho na UEFA Champions League. Um dos principais resultados do artigo sugere
que a redução do endividamento tem um efeito positivo no preço das ações dos clubes.
Um resultado surpreendente é que a rendibilidade medida através da rendibilidade líquida
das vendas exerce um impacto negativo e estatisticamente significativo no preço das
ações dos clubes de futebol.
Maci et al. (2020) no seu estudo investigaram os impactos do desempenho desportivo e
financeiro dos clubes de futebol no preço das suas ações. A amostra abrangeu todas as
empresas europeias de futebol cotadas na Bolsa de Valores durante o período de 2012
2017. O processo de formação do preço das ações das empresas de futebol cotadas foi
investigado através de um modelo econométrico que incluiu como variáveis
independentes o histórico dos clubes nas competições da UEFA, o valor das vendas, o
valor do ativo, o endividamento, o retorno sobre o capital próprio, o índice de
diversificação das receitas e o resultado líquido. Os testes realizados ao modelo indicaram
que o modelo de regressão de efeitos fixos com erros padrão robustos é o mais adequado.
Os resultados sugerem que existe uma causalidade positiva e estatisticamente
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significativa entre os resultados desportivos e o preço das ações. Os indicadores
financeiros dos clubes como a dimensão, o retorno sobre o capital próprio e o resultado
líquido também apresentam uma influência positiva e estatisticamente significativa no
preço das ações. Os autores sugerem que os gestores dos clubes de futebol devem ter
simultaneamente atenção aos resultados desportivos e ao desempenho financeiro.
Prayoga et al. (2022) no seu estudo analisaram o efeito do desempenho desportivo e do
desempenho financeiro no preço dos clubes de futebol europeus. A variável dependente
utilizada foi o preço das ações na data de reporte dos clubes, sendo a moeda Euro utilizada
para uniformizar a base de dados. Os clubes de futebol que não eram transacionados em
Euros foram convertidos para a moeda de acordo com a taxa de câmbio no dia em questão.
Os dados da pesquisa incidiram sobre o período compreendido entre o ano de 2016 e 2021
e a metodologia utilizada foi a de regressão linear simples. Os resultados empíricos
mostram que o desempenho desportivo tem um efeito positivo e estatisticamente
significativo no preço das ações dos clubes de futebol. De igual modo, o rácio de liquidez
geral tem um efeito positivo e estatisticamente significativo no preço das ações dos clubes
de futebol. O rácio de endividamento tem um efeito negativo e estatisticamente
significativo no preço das ações dos clubes de futebol. Por último, a rendibilidade líquida
das vendas não apresentou um efeito significativo no preço das ações dos clubes.
Abbas (2022) procurou determinar se existe uma relação entre o desempenho desportivo
e o desempenho financeiro no preço das ações da Juventus, Borussia Dortmund e Lyon.
Para tal reuniu uma amostra com dados trimestrais entre 2007 e 2016 e utilizou a
metodologia de dados em painel. O desempenho desportivo foi representado através da
diferença entre golos marcados e sofridos e através da percentagem de vitórias face ao
total de jogos realizados. Por outro lado, o desempenho financeiro foi representado pelo
rácio de liquidez geral, rácio de endividamento e pelo resultado líquido por ação. Os
resultados sugerem que os indicadores financeiros são mais importantes na determinação
do preço das ações do que os resultados desportivos, sendo que o rácio de liquidez geral
e o resultado líquido exercem um efeito positivo e estatisticamente significativo. Por outro
lado, o rácio de endividamento apresenta um valor negativo e estatisticamente
significativo na determinação do preço das ações. A percentagem de vitórias apresenta
um efeito positivo, mas com um nível de significância estatística de apenas 10%.
Face ao exposto, propomos a primeira hipótese de investigação:
H1: Existe uma causalidade positiva entre o desempenho desportivo e o preço das ações
dos clubes de futebol europeus cotados em bolsa.
2.3 Estudos que abordaram o desempenho financeiro no preço das ações dos clubes de
futebol
A literatura refere que a dimensão das empresas é um dos principais determinantes do
desempenho de qualquer ação (Olaoye et al., 2016). Um clube de maior dimensão tem
geralmente uma maior experiência acumulada por parte dos seus gestores, é mais
propenso a registar aumentos de produtividade e a exibir um nível inferior de risco para
os acionistas. De igual modo, a dimensão fornece a informação para os investidores de
que o clube pode gerir bem as suas atividades de negócio (Ha & Minh, 2020; Pertiwi &
Wiagustini, 2020). Face ao exposto, propomos a segunda hipótese de investigação:
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H2: Existe uma causalidade positiva entre a dimensão e o preço das ações dos clubes de
futebol.
Costa (2022a) indica que é relevante neste tipo de estudo monitorizar o indicador de
liquidez dos clubes com vista a certificar a sua estabilidade de curto prazo. Noonan e
Silicaro (2019) indicam que o risco dos clubes pode aumentar se os seus passivos de curto
prazo aumentarem, uma vez que isso irá pressionar a sua capacidade para cumprir com
as suas obrigações financeiras a curto prazo. Estas dificuldades poderão levar os clubes a
aumentarem a sua dívida, o que poderá restringir a capacidade de crescimento dos
mesmos no longo prazo, com consequências negativas no seu preço de mercado. Face ao
exposto, propomos a terceira hipótese de investigação:
H3: Existe uma causalidade positiva entre a liquidez e o preço das ações dos clubes de
futebol.
Apesar de a indústria europeia do futebol ter sido encarada como fortemente
regulamentada e organizada, os clubes e ligas de futebol europeus têm-se caracterizado
por uma instabilidade financeira crónica derivada, em parte, da priorização dos resultados
desportivos em detrimento dos financeiros (Urdaneta-Camacho et al., 2022).
Com a intenção de melhorar a saúde financeira dos clubes, os órgãos dirigentes das
comissões decidiram estabelecer medidas para o seu controlo financeiro (Dimitropoulos,
2011). Estes regulamentos tentam evitar possíveis adulterações no resultado das
competições devido a uma diferença entre as despesas de algumas equipas e as receitas
que geram. Assim, em 2010, a UEFA adotou o regulamento conhecido como "financial
fair play (FFP)", que monitoriza a informação financeira publicada nas contas anuais dos
clubes que participam nas competições europeias e impõe limites às dívidas, despesas e
responsabilidades. Desde então os clubes que se desviam da disciplina financeira exigida
pela UEFA estão sujeitos a sanções que podem mesmo resultar na sua exclusão das
competições europeias. Contudo e tal como refere Dimitropoulos et al. (2016), a
introdução do FFP é um elemento que pode levar à introdução de práticas contabilísticas
criativas por parte dos clubes para acomodar a informação financeira apresentada nas suas
demonstrações financeiras aos requisitos da UEFA. Contudo, a literatura parece unânime
a referir que a introdução do FFP levou a melhorias significativas da situação financeira
dos clubes nos últimos anos (Calahorro-López et al. 2022; Ahtiainen & Jarva, 2022).
Para Costa et al. (2022a), é importante analisar o endividamento de cada empresa de modo
a aferir a sua robustez ao nível do capital, sendo que uma empresa será mais endividada
quanto maior for a percentagem de capital alheio face ao seu capital próprio.
Face ao exposto, propomos a quarta hipótese de investigação:
H4: Existe uma causalidade negativa entre o endividamento e o preço das ações dos
clubes de futebol.
O aumento das receitas pode não se traduzir necessariamente num aumento dos resultados
líquidos por causa do aumento dos gastos, e, por isso, é muito importante estar atento à
rendibilidade líquida das vendas. Quando um clube gera uma maior rendibilidade líquida
das vendas, mostra aos investidores que tem uma grande eficiência na gestão dos seus
custos e, por isso, consegue converter uma maior percentagem das vendas em resultado
líquido (Fernandes et al., 2019). Neste sentido propomos a quinta hipótese de
investigação: European Journal of Applied Business Management, 9(4), 2023, pp. 53-70
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H5: Existe uma causalidade positiva entre a rendibilidade líquida das vendas e o preço
das ações dos clubes de futebol.
3. Dados, Variáveis, Metodologia
3.1 Amostra
Este trabalho incidiu no período compreendido entre o ano de 2016 e 2022. Tal como fora
realizado no estudo de Prayoga et al. (2022), o valor das cotações das ações foi obtido
junto do site investing. Por outro lado, os dados financeiros dos clubes de futebol foram
provenientes dos seus relatórios e contas anuais e os resultados financeiros foram
extraídos do site zerozero. Tal como fora referido na introdução deste trabalho, e tendo
por base os estudos de Costa (2022a) e Costa (2022b) apenas foram introduzidas na
amostra os clubes de futebol com ações que são negociadas em Euros.
A Tabela 1 exibe os nove clubes europeus que fazem parte da amostra final.
Tabela 1 - Lista dos clubes que constituem a amostra
Ajax
Braga
Dortmund
FC Porto
Juventus
Lazio
Lyon
SL Benfica
Sporting CP
Fonte: Elaboração própria
De seguida, a tabela 2 identifica as variáveis usadas nesta investigação bem como a sua
fórmula de cálculo.
Tabela 2: Variáveis utilizadas na análise
Dimensão
Indicador
Abreviatura
Fórmula
Variável
dependente -
Valor da
cotação
dos
clubes no dia
30 de junho do
ano t
Cot
ln(Pt)
61
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Desempenho
desportivo - Percentagem
de vitórias no
campeonato
nacional
Vit
º 𝑑𝑒 𝑣𝑖𝑡ó𝑟𝑖𝑎𝑠 𝑛𝑜 𝑐𝑎𝑚𝑝𝑒𝑜𝑛𝑎𝑡𝑜
𝑁º 𝑑𝑒 𝑗𝑜𝑔𝑜𝑠
Dimensão -
Valor do
Ativo
Tam
Logaritmo natural do ativo
Liquidez -
Rácio
de
liquidez geral
LG
𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒
Endividamento -
Rácio
de
Solvabilidade
Sol
𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑜
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜
Rendibilidade -
Rendibilidade
líquida
das
vendas
RLV
𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠
Fonte: Elaboração própria
3.2 Metodologia
Tal como recomendam Anwaar (2016), Findikçi e Tapsin (2015), Maci et al. (2020),
Costa et al. (2021), Pessoa et al. (2021) e Abbas (2022), a metodologia mais adequada
para este estudo empírico é a de dados em painel, pelo que de seguida é exposto o modelo
estocástico:
𝑜𝑡𝑖𝑡 = 𝛽0 + 𝛽1𝑉𝑖𝑡𝑖𝑡 + 𝛽2𝑇𝑎𝑚𝑖𝑡 + 𝛽3𝐿𝐺𝑖𝑡 + 𝛽4𝑆𝑜𝑙𝑖𝑡 + + 𝛽5𝑅𝐿𝑉𝑖𝑡 +ε𝑖𝑡
Sendo que os coeficientes β são os parâmetros a calcular. 𝛽0 é o valor da constante e ε𝑖𝑡
o erro do modelo. O software estatístico utilizado foi o R.
4. Resultados empíricos
4.1 Estatísticas descritivas
A tabela 3 evidencia as estatísticas descritivas das variáveis analisadas na revisão de
literatura e implementadas no presente estudo.
Tabela 3: Estatísticas descritivas
Média
Mediana
Desvio
Padrão
Mínimo
Máximo
N
Cot
0,62
0,37
1,08 -1,45
2,92
62
63
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Vit
0,65
0,68
0,13
0,29
Tam
19,60
19,80
0,74
0,85
63
17,20
LG
0,71
0,58
0,43
20,90
63
0,17
Sol
0,26
0,22
0,35
2,30
63 -0,48
1,27
63
RLV -0,05
0,01
0,47 -2,28
Fonte: Elaboração própria
1,92
63
A tabela 3 deixa claro que em média os clubes de futebol têm uma percentagem de vitórias
no seu campeonato nacional de 65%.
O rácio de liquidez geral apresenta um valor médio de 0,71 e o rácio de solvabilidade
apresenta um valor médio de 0,26. Segundo Fernandes et al. (2019), estes valores deviam
ser superiores a 1,3 e 0,5, respetivamente. Estes dados indicam que em média, os clubes
europeus de futebol desta amostra apresentaram dificuldades em cumprir com as suas
responsabilidades de curto, médio e longo prazo. Por último, estes resultados também
indicam que em média os clubes apresentaram uma rendibilidade líquida negativa, o que
significa dizer que em média, por cada 100€ de vendas, os clubes registavam um prejuízo
de 5€.
4.2 Sumário dos resultados
O primeiro procedimento realizado foi o teste de raiz unitária para dados em painel
recomendado por Levin et al. (2002). Através da consulta da tabela A, em apêndice,
podemos indicar que à exceção da rendibilidade líquida das vendas, não é possível dizer
que rejeitamos a hipótese nula para as variáveis utilizadas no estudo e, por isso,
concluímos que essas variáveis são estacionárias. Deste modo, neste estudo iremos
utilizar as primeiras diferenças para a variável da rendibilidade líquida das vendas. De
seguida, as tabelas B e C em apêndice permitem concluir que o modelo de efeitos fixos
com erros padrão robustos é o tipo de regressão mais adequada. A tabela 4 exibe os
principais resultados.
Tabela 4: Resultados da estimação
Coeficiente
Erro Padrão
const -14,260
rácio-t
valor p
6,250
Vit
1,122 -2,282
0,052*
0,420
Tam
0,7184
2,668
0,028**
0,316
LG -0,193
2,274
0,053*
0,300
Sol
0,847 -0,644
0,537
0,310
2,729
0,026**
63
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ΔRLV -0,156
0,083
Nº de observações = 54 -1,887
0,096*
Nº de clubes = 9
2 (Overall) = 0,098
Fonte: Elaboração própria
Nota: Estatísticas t; *** nível de significância de 1%, ** nível de significância de 5%, *
nível de significância de 10%.
Os resultados revelam que os preços das ações dos clubes de futebol europeus são
influenciados de forma positiva e estatisticamente significativa pelo desempenho
desportivo e pela sua dimensão. Por outro lado, o endividamento e a rendibilidade líquida
das vendas exercem um efeito negativo e estatisticamente significativo no preço de
mercado das ações dos clubes de futebol.
De acordo com Maci et al. (2020), o impacto positivo do desempenho desportivo medido
através da percentagem de vitórias em função dos jogos realizados no campeonato, pode
ser justificado por vários fatores. O primeiro prende-se com uma componente pouco
racional, mais precisamente pelo lado emocional que impulsiona as escolhas dos
investidores, que muitas vezes são também adeptos dos clubes e, portanto, extremamente
sensíveis no curto prazo aos desempenhos desportivos. Um segundo fator para este
resultado prende-se já com uma vertente mais racional, uma vez que melhores resultados
desportivos tendem a ter um impacto significativo na valorização de mercado dos ativos
dos clubes, tais como os valores de mercado dos jogadores de futebol. De igual modo,
uma melhoria dos resultados desportivos também pode contribuir para um aumento dos
valores apresentados na demonstração de resultados graças ao presumível aumento das
vendas relativamente a patrocinadores, publicidade e direitos televisivos. Neste sentido,
os clubes que aumentam a sua percentagem de vitórias têm uma maior probabilidade de
serem campeões nos campeonatos nacionais e, por isso, de manterem os seus adeptos
envolvidos e entusiasmados, o que pode levar a um aumento das vendas de bilhetes e
merchandising.
Além disso, os clubes de futebol também podem beneficiar do aumento do valor das suas
marcas, caso tenham sucesso em campo, o que pode ser refletido no preço de mercado
das suas ações. Outro fator que o sucesso desportivo pode promover é a participação em
competições importantes, como a UEFA Europa League ou a UEFA Champions League.
A participação nestas competições não só atrai mais adeptos como também possibilita aos
clubes a oportunidade de ganharem mais dinheiro através de obtenção de prémios
monetários, da distribuição de direitos televisivos e da contratualização de contratos com
novos patrocinadores (Ahtiainen, 2018).
Este estudo empírico demonstra, no entanto, que obter bons resultados desportivos é uma
condição necessária, mas não suficiente para alcançar o sucesso no investimento em ações
de clubes de futebol. Assim, e para além do impacto dos resultados desportivos, os
resultados também estão alinhados com o estudo de Pertiwi e Wiagustini (2020) uma vez
que a dimensão dos clubes de futebol medida através do ativo parece exercer um efeito
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positivo e estatisticamente significativo no preço das suas ações negociadas em mercado
de capitais. Estes resultados podem ser explicados porque quanto maiores forem os
clubes, maior será a probabilidade de terem uma base de adeptos maior, o que pode ser
um garante de uma maior quantidade de vendas. Uma outra possível explicação para estes
resultados prende-se com a perceção de que clubes de maior dimensão são mais propensos
a gerirem bem as suas atividades de negócio e a serem entendidos como menos arriscados
para os investidores (Pertiwi & Wiagustini, 2020).
Os resultados também estão em linha com o estudo de Ribeiro e Quesado (2017) na
medida em que o rácio de solvabilidade apresenta um efeito positivo e estatisticamente
significativo com o preço de mercado dos clubes. Uma das principais razões pelas quais
o rácio de solvabilidade pode afetar o preço das ações é centrado no facto de ser um
indicador que avalia a capacidade que os clubes apresentam para cumprirem com as suas
obrigações financeiras a médio e longo prazo. Estes resultados sugerem que os
investidores consideram os clubes que apresentam maiores níveis de solvabilidade menos
arriscados, e por isso, estão dispostos a pagar mais por ações de clubes financeiramente
estáveis, e isso é particularmente verdadeiro para clubes de futebol que operam num
ambiente altamente competitivo. Se um clube de futebol estiver com dificuldades
financeiras, poderá ter dificuldades em atrair patrocinadores, jogadores e em envolver os
adeptos, o que pode afetar negativamente o preço das suas ações. Adicionalmente, o rácio
de solvabilidade também pode ser um indicador da capacidade dos clubes para investirem
em jogadores e infraestruturas, o que pode afetar a sua competitividade desportiva no
futuro.
Já rendibilidade líquida das vendas apresenta um efeito negativo e estatisticamente
significativo no preço das ações dos clubes. Assim, e apesar de os resultados não estarem
em linha com esperado, os mesmos corroboram com o estudo de Noonan e Silicaro
(2019).
Desta forma o estudo sugere suporte das hipóteses de investigação H1, H2 e H4. Por outro
lado, não apresenta suporte para as hipóteses H3 e H5, uma vez que os resultados sugerem
que não existe uma influência estatisticamente significativa do rácio de liquidez geral,
bem como que não há suporte de que a rendibilidade líquida das vendas tem um efeito
positivo no preço das ações dos clubes de futebol europeus, visto que o efeito obtido é
negativo.
5. Conclusões
Este trabalho incidiu sobre o mercado acionista, mais precisamente sobre as ações dos
clubes da zona euro e procurou analisar o impacto que o desempenho desportivo e o
desempenho financeiro exerce no preço das ações dos clubes de futebol europeus. A
análise incidiu no período entre 2016 e 2022. A metodologia empírica usada foi a de
dados em painel, com a regressão de efeitos fixos com estimação robusta de erros-padrão.
Os resultados sugerem que os preços das ações na amostra dos nove clubes de futebol
europeus são influenciados de forma estatisticamente significativa pelo desempenho
desportivo e pelo desempenho financeiro.
Parece existir uma causalidade entre a percentagem de vitórias e o preço das ações dos
clubes analisados, o que significa que os investidores parecem preferir os clubes que
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melhoram os resultados desportivos, uma vez que esta melhoria está muitas vezes
associada a um aumento das vendas relativamente a patrocinadores, publicidade, direitos
televisivos, vendas de bilhetes e merchandising. Adicionalmente esta melhoria pode
garantir o título de campeão da liga nacional e uma participação nas competições
internacionais como é o caso da UEFA Europa League ou a UEFA Champions League.
Os resultados também sugerem que existe uma causalidade entre a dimensão destes
clubes e o preço das suas ações. Estes resultados sugerem que os clubes maiores da
amostra tendem a administrar melhor as suas atividades de negócio e a serem entendidos
pelos investidores como menos arriscados.
Por último, estes resultados sugerem que o endividamento dos clubes exerce um efeito
negativo no preço das suas ações. Este resultado indica que os gestores devem estar
atentos ao nível de endividamento dos clubes uma vez que os investidores tendem a
preferir alocar o seu capital em clubes que melhoram a sua capacidade para cumprir com
as suas obrigações financeiras de médio e longo prazo em detrimento dos clubes mais
endividados.
Esta investigação pode ser útil para orientar a conduta dos gestores dos clubes de futebol,
dos investidores e de outros stakeholders no contexto específico analisado. A perceção
do modo como o desempenho desportivo e financeiro afeta o preço das ações dos clubes
de futebol pode ajudar na tomada de decisões e a implementação de estratégias que
maximizam o valor das ações dos clubes de futebol.
A realização deste estudo não esgota esta temática, neste sentido é importante ressalvar
que este trabalho não analisou a política de dividendos dos clubes (Salman, 2019). De
forma a colmatar a limitação identificada, seria interessante numa investigação futura,
incluir a política de dividendos dos clubes na análise econométrica.
De igual modo, esta investigação tem uma limitação relativamente à sua dimensão, facto
que limita a generalização dos resultados para as ações de futebol. Estudos futuros podem
tentar minimizar esta limitação por exemplo utilizando informação financeira mais
desagregada como por exemplo semestral, em vez da utilização dos relatórios e contas
anuais.
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Apêndice
Variáveis
Tabela A: Teste de Levin-Lin-Chu
Níveis
Primeiras diferenças
Estatística
valor p
Estatística
Cot -13,9004
0,0000
valor p
Vit -6,9167
0,0000
Tam -4.0356
0,0000
LG -25,0166
0,0000
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European Journal of Applied Business Management, 9(4), 2023, pp. 53-70
ISSN 2183-5594
Sol -2,4186
0,0078
RLV -1,2458
0,1064 -14,0269
Fonte: Elaboração própria
Tabela B: Resultados dos testes F e Hausman
Teste
0,0000
Resultado
Teste F
F ((8,40)) = 15,913 com p = (0,00)
Hausman: H
H = 69,906 com valor p = (0,00)
Fonte: Elaboração própria
Tabela C: Resultados do teste de Wooldridge (Wooldridge, 2010)
Teste
Resultado
Wooldridge
(1,8) = 17,969 com p = (0,00)
Fonte: Elaboração própria
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