Os clubes de futebol são organizações esportivas formadas por equipes de jogadores que competem em torneios e campeonatos, e são a base da paixão pelo esporte no Brasil e no mundo.
No Brasil
O Brasil possui uma rica cultura futebolística com centenas de clubes. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem 882 clubes registrados, dos quais 124 têm calendário nacional.
Principais Clubes: Entre os mais conhecidos e com as maiores torcidas do país estão Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Vasco, Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlético-MG, Santos, Fluminense e Botafogo.
Competições: Os clubes brasileiros disputam campeonatos estaduais, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro (dividido em Séries A, B, C e D), além de torneios internacionais como a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes.
Títulos Mundiais: Clubes brasileiros que já conquistaram o Mundial de Clubes incluem São Paulo (3 vezes), Santos (2 vezes), Corinthians (2 vezes), Flamengo e Internacional e Grêmio (1 vez cada).
No Mundo
Existem mais de 300 mil clubes de futebol profissional e amador globalmente.
Clubes de Destaque: Equipes europeias como Real Madrid, Manchester City, PSG, Chelsea, Bayern de Munique, Liverpool e Barcelona estão entre os clubes mais valiosos e vitoriosos do mundo.
Popularidade: O futebol é o esporte mais popular do planeta, com milhões de torcedores e praticantes em todos os continentes. Clubes brasileiros, como o Flamengo e o Corinthians, também estão entre os que possuem as maiores torcidas do mundo.
Os clubes de futebol não são apenas times, mas instituições com grande impacto cultural e econômico, movimentando paixões e gerando bilhões em receitas. Segundo especialistas nos veiculos de imprensa no Brasil.
A ascensão econômica do Athletico Paranaense é resultado de uma gestão financeira profissional e da exploração de ativos como a Arena da Baixada e a venda de jogadores. O clube se destaca pela capacidade de gerar superávit e investir na infraestrutura e em atletas. Balanço financeiro e receita: Em 2023, o Athletico teve um superávit de R\(383milhões,comreceitadequaseR\) 900 milhões.Em 2024, o superávit foi menor, de R$ 23,4 milhões, refletindo a queda de receitas após o rebaixamento.Apesar disso, a Fundação Athletico Paranaense (FUNCAP) registrou um superávit de R$ 575 mil em 2024, com o patrimônio praticamente dobrando. Principais pilares da ascensão: Gestão profissional: O clube tem um histórico de boa gestão, que se concentra em receitas sustentáveis e busca por investimentos.Venda de jogadores: A venda de atletas é uma importante fonte de receita. Entre 2014 e 2024, o clube teve um saldo de R$ 1,2 bilhão em transferências.Infraestrutura: A Arena da Baixada, de propriedade do clube, gera receita e é um ativo valioso. O Athletico chegou a negociar os naming rights por R$ 200 milhões, embora o acordo tenha tido um impasse em 2025.Preparo para a SAF: O clube já demonstrou interesse em se tornar uma SAF para captar mais investimentos e seguir crescendo. Desafios recentes: O rebaixamento para a Série B em 2024 impactou as receitas do clube, que viu seu superávit diminuir.O impasse com a empresa de naming rights da Arena também representou um revés financeiro em 2025.Apesar desses desafios, a gestão conseguiu reequilibrar as contas e obter o acesso de volta à Série A em 2025. Segundo especialistas nos veiculos de imprensa no Brasil.
Confira os Títulos do Athletico Paranaense .https://www.campeoesdofutebol.
O conservadorismo é um espectro de pensamento político heterogêneo que defende a manutenção de instituições sociais tradicionais, como a família, a religião e os costumes, valorizando a continuidade e rejeitando mudanças sociais bruscas. Ele não é uma ideologia monolítica e manifesta-se em diferentes tipos ou correntes, que variam em suas ênfases e prioridades.
Tipos e Correntes do Conservadorismo
As principais variações do conservadorismo incluem:
Conservadorismo Tradicionalista: Esta vertente enfatiza a preservação da tradição viva, da ordem social e das hierarquias, preferindo a razão prática (baseada na experiência de gerações) em vez da razão teórica ou abstrações políticas. Valoriza costumes, convenções e a continuidade histórica.
Conservadorismo Social: Concentra-se primariamente em pautas morais e culturais. Defende os valores familiares tradicionais, as estruturas de gênero convencionais e as tradições religiosas, opondo-se a mudanças em áreas como o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a eutanásia.
Conservadorismo Fiscal/Econômico: Frequentemente associado ao liberalismo econômico (ou neoliberalismo em alguns contextos), este tipo defende a intervenção estatal mínima na economia, o livre mercado, a redução de impostos e a rejeição ao estado de bem-estar social. Acredita na eficiência do mercado e na meritocracia.
Nacional-Conservadorismo: Esta corrente valoriza fortemente a soberania nacional, a identidade e as características culturais do país, manifestando-se frequentemente em políticas antiglobalização e, por vezes, em oposição à imigração descontrolada. Enfatiza o patriotismo e a restauração de valores e padrões nacionais.
Neoconservadorismo: Originado nos Estados Unidos, esta vertente combina elementos de conservadorismo social e nacional com uma política externa mais intervencionista e assertiva, visando promover a democracia e os valores ocidentais globalmente.
Princípios Gerais
Apesar das diferenças, a maioria das correntes conservadoras compartilha alguns princípios fundamentais:
Crença em uma ordem moral duradoura ou lei natural.
Apreço pelo costume, convenção e continuidade.
Prudência política e ceticismo em relação a utopias e mudanças radicais, preferindo reformas graduais.
Valorização das instituições sociais tradicionais como pilares da sociedade, especialmente a família e a religião.
O conservadorismo não é estático; ele se adapta aos contextos culturais e históricos de cada sociedade, resultando nas diversas manifestações observadas em diferentes partes do mundo, como no Brasil, onde possui características próprias ligadas à herança luso-ibérica e à tradição cristã. Segundo a Jornalista. Mestre e Doutora Fabíola Paes de Almeidsa Tarapanoff, no Sétimo Período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcantara Machado (FIAAM FAAM).
Confira a dissetarção da autora Jéssica da Silva Duarte *
O QUE É O
CONSERVADORISMO?
DO CONCEITO À
MENSURAÇÃO
WHAT IS CONSERVATISM? FROM
CONCEPT TO MEASUREMENT
Jéssica da Silva Duarte *
* Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas,
Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, Recife, Pernambuco, Brasil.
E-mail: jessica.sduarte@ufpe.br
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RESUMO
A história política, social e econômica do Ocidente é periodicamente marcada por crises e
mudanças. Concomitante a esse processo, identificamos também o protagonismo das
chamadas “ondas conservadoras”. A despeito de ser um fenômeno recorrente desde o século
XVIII, o desenvolvimento teórico e empírico sobre o tema dentro das Ciências Sociais, e
especialmente a Ciência Política, segue tendo lacunas relevantes. Desse modo, este artigo tem
como objetivo principal contribuir para esse tema de pesquisa. Nosso fio condutor parte da
análise teórica do fenômeno – a partir de uma revisão bibliográfica crítica e aprofundada –
seguida do desenvolvimento de ferramentas que contribuem para a tentativa de aplicar esse
conhecimento à realidade atual. A instrumentalização foi feita a partir do banco de dados do
World Values Survey (WVS) e aplicada para dois casos emblemáticos: Brasil e Estados Unidos.
Palavras-chave: Conservadorismo; Crise; Metodologia; Brasil; Estados Unidos.
ABSTRACT
The political, social, and economic history of the West is periodically determined by crises and
changes. At the same time, we also identified the advance of “conservative waves”. Despite it being
a recurrent phenomenon since the 18th century, the theoretical and empirical development on the
subject within the Social Sciences, and especially within Political Science, continues to have relevant
gaps. Hence, this article’s main objective is to contribute to this research topic. Our path starts from
the theoretical analysis of the phenomenon – from a critical and in-depth bibliographic review –
followed by the development of tools which contribute to the application of this knowledge to the
current reality. In the empirical application, we use the World Values Survey (WVS) database applied
to two emblematic cases: Brazil and the United States.
Keywords: Conservatism; Crisis; Methodology; Brazil; United States.
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INTRODUÇÃO
O início do século XXI pode ser definido política e socialmente como um período
profundamente marcado por transformações, crises e conflitos. Com efeito,
momentos conturbados e de transformações acontecem em todos os séculos desde
que temos registros. Em geral, esses mesmos contextos são caracterizados por um
crescente protagonismo dos princípios conservadores nos debates sociais e disputas
políticas ao redor do mundo. Portanto, o avanço do conservadorismo, ou a chamada
“onda conservadora”, em conjunturas instáveis não é um fenômeno absolutamente
novo em si. Contudo, o estudo desse fenômeno ainda possui longo espaço para
desenvolvimento e preenchimento de lacunas.
No Ocidente, periodicamente movimentos conservadores ganham destaque dentro
das dinâmicas política, econômica e social. É possível definir ao menos quatro
momentos na história contemporânea em que o conservadorismo foi um elemento
político e social muito relevante: 1) Revolução Francesa; 2) lutas e conquistas políticas
e sociais pelo sufrágio universal; 3) transformações sociais e econômicas impostas
pelas políticas de bem-estar social; 4) emergência, na segunda metade do século XX,
de modelos políticos, econômicos e morais alternativos ao status quo (HIRSCHMAN,
1992; VIDAL, 2013). Com efeito, é justamente a recorrência, a relativa repetição desse
panorama, que faz com que seja importante para as Ciências Sociais compreender a
gênese, as peculiaridades e o papel desse fenômeno.
No entanto, para que essa discussão possa ser realizada e traga avanços teóricos ou
aplicados, é condição inicial que se tenha clareza do que se define por
conservadorismo. Existem esforços teóricos na direção de retratar o pensamento
conservador ou os principais componentes simbólicos e estruturais presentes nos
argumentos dos autores de maior referência no conservadorismo (HUNTINGTON,
1957; HIRSCHMAN, 1992; KIRK, 1953). Contudo, essa ainda não é uma discussão
robusta teoricamente e carece de um potencial aplicado à realidade, isto é, de
capacidade empírica.
Conforme veremos na discussão crítica da bibliografia, a literatura disponível sobre o
tema é composta, principalmente, pelos próprios autores conservadores e por
autores que buscam descrever e classificar o ideário conservador de forma mais
abstrata e normativa do que analítica. Portanto, o desenvolvimento de um estudo
acerca das dimensões que o compõem contribuirá para investigações futuras mais
complexas, aprofundadas, atemporais e de maior potencial comparativo. Esperamos
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que, ao final deste texto, possamos oferecer novas ferramentas para analisar o
fenômeno de forma aplicada, mas também transcendendo conjunturas específicas ou
particulares de cada momento histórico e político.
Para tanto, este estudo exploratório propõe mapear os componentes do fenômeno a
partir da revisão profunda e crítica da bibliografia, bem como busca oferecer formas
mais didáticas de definir e classificar o conceito. A seguir, iremos propor um caminho
inicial para instrumentalizar e mensurar o conservadorismo a partir de pesquisa tipo
survey considerando a Pesquisa Mundial de Valores1 e a aplicação para dois casos
emblemáticos na conjuntura atual: Brasil e Estados Unidos.
Iniciamos descrevendo mais detalhadamente os momentos históricos nos quais o
conservadorismo se destacou enquanto ator social e político no mundo ocidental,
identificando os padrões sociais e políticos em que crises e transformações tiveram o
conservadorismo como um ator reativo importante. Na sequência, apresentamos a
revisão crítica da bibliografia e nossas construções teóricas sobre conservadorismo.
Em seguida, iremos oferecer uma instrumentalização empírica do conceito a partir
da decupagem do banco de dados da Pesquisa Mundial de Valores. Dando
continuidade, apresentamos os dois casos – Brasil e Estados Unidos – para os quais
foram feitas análises fatoriais das variáveis a fim de testar a coesão e adequação do
modelo proposto. Para finalizar, temos na conclusão o resumo de todo o
conhecimento acumulado nas etapas do estudo.
Em resumo, esta pesquisa tem como fio condutor uma estrutura lógica que parte da
análise explicativa teórica do fenômeno seguida de ferramentas que contribuem para
a tentativa de aplicar esse conhecimento à realidade prática e atual.
O CONSERVADORISMO ENQUANTO FENÔMENO POLÍTICO E SOCIAL
É conveniente iniciarmos considerando as contribuições de Hirschman (1992) na
identificação de três momentos históricos de mudanças nos quais o conservadorismo
teve destaque. O primeiro foi o movimento que se opôs às demandas crescentes por
direitos civis, políticos e sociais e à Revolução Francesa, identificando-as como maior
ameaça à suposta ordem natural dentro deste cenário. Esse movimento deu espaço
aos mais diversos argumentos conservadores. Dentre eles: o temor das consequências
de possíveis rupturas, a negação da oposição à religiosidade que o iluminismo
1World Values Survey (WVS).
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propunha, os prejuízos não mensuráveis que as mudanças em questão poderiam
trazer e o desgaste desnecessário que gerariam – uma vez que o que vinha sendo
proposto já estaria em curso de maneira ordenada e gradual (TOCQUEVILLE, 1982;
BURKE, 1982).
A segunda manifestação do conservadorismo decorreu das mudanças políticas em
direção ao sufrágio universal. Nesse caso, devido ao caráter menos radical e imediato
das medidas e dos avanços em direção à mudança, a contrapartida conservadora
também foi menos combativa e contundente, manifestando-se, fundamentalmente,
a partir de correntes da filosofia, psicologia e política que visavam evidenciar o
caráter perverso de delegar às massas o papel de participar das grandes decisões
políticas – sob o argumento de que as mesmas são desprovidas de atributos racionais
e psicológicos e afeitas a adotar medidas extremas (LE BON, 2005; MOSCA, 1982).
A terceira reação conservadora apontada por Hirschman (1992) diz respeito às
transformações sociais e econômicas propostas pelas políticas de bem-estar social
(Welfare State). Nesse momento, o conservadorismo visou expor possíveis
fragilidades e consequências negativas do processo sobre o equilíbrio natural do
campo econômico – uma vez que propunha uma distribuição não espontânea da
renda – e liberdade individual no campo político, visto que, segundo o pensamento
conservador, a ampliação do Estado exigida por esse tipo de ação política prejudicaria
a liberdade (HAYEK, 1960).
É possível identificar, na segunda metade do século XX, movimentos conservadores
em reação a modelos alternativos políticos e econômicos que emergiam. Na década
de 1950, a ascensão dos movimentos comunista, pelo aspecto político, e socialista, na
economia, personificados pela URSS, criou um alvo a ser combatido pelo
conservadorismo em prol da defesa dos valores tradicionais capitalistas e liberais
(VIDAL, 2013).
Na década de 1960, o conflito no qual o movimento conservador se inseriu girou em
torno das transformações propostas à época em termos do comportamento e da
moral dos indivíduos, destacando temas como aborto, homossexualidade e
imigração. De modo geral, os conservadores interpretaram esses movimentos como
uma ameaça à comunidade, à integração social e a valores básicos, como a crença em
Deus e a valorização da família (VIDAL, 2013).
Seguindo a linha do tempo, observa-se que o século XXI também tem sido marcado
por esse fenômeno (BURITY, 2020). Temos crises de representação, crises
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econômicas, crises sanitárias e crises de direitos humanos que têm causado
importantes impactos políticos, econômicos e sociais. Nessa conjuntura, destacamos
fatos como: a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, sob o lema de “fazer a
América grande novamente”; a eleição de Jair Bolsonaro, no Brasil, a partir de um
discurso nacionalista, religioso e nostálgico.
Além desses exemplos, tem-se movimentos que buscam limitar o que chamam de
intervenção e doutrinação do Estado sobre temas que consideram inadequados à
educação moral praticada pelas famílias. Tais reivindicações ganharam espaço no
Brasil, Peru, Equador, Chile, Argentina, Paraguai e Alemanha. Outrossim, no
continente europeu, ocorreram fatos políticos associados ao conteúdo conservador,
como o Brexit e o crescimento de movimentos e de partidos nacionalistas e
conservadores com forte impacto político na crise migratória, sendo outro fato
marcante a vitória expressiva da francesa Marine Le Pen pela Frente Nacional no
Parlamento Europeu.
Olhando especificamente para esse cenário, Norris e Inglehart (2018) propõem uma
teoria geral que explicaria o avanço de forças populistas, autoritárias e conservadoras
no Ocidente a partir da análise dos casos do Brexit no Reino Unido e da eleição de
Trump nos Estados Unidos. Para definir o fenômeno, autores criaram o conceito de
backlash cultural, algo como um retrocesso cultural, que estaria fundamentado em
três aspectos principais.
O primeiro seria a oposição entre gerações: por um lado as gerações entre guerras e
Baby Boomer, e, por outro, as gerações X e Millennials; neste contexto os primeiros
estariam reagindo às mudanças de valores, especialmente diante das lutas de
minorias e por diversidade. O segundo fator seria a possibilidade oferecida aos
indivíduos conservadores de votar em líderes autoritários e populistas por meio dos
mecanismos institucionais democráticos. Por fim, o surgimento de grupos e
movimentos políticos conservadores, autoritários ou populistas teria influenciado a
agenda política, e, em consequência, estaria em curso uma transformação lenta na
cultura cívica das sociedades desenvolvidas em direção a um posicionamento mais
congruente com essas ideologias.
De um modo geral, com base nos pressupostos teóricos estudados e nos padrões
observados na realidade a partir da contextualização, compreendemos que
transformações políticas, sociais ou econômicas podem levar à percepção de
instabilidade, incerteza, medo e insegurança. Em um efeito sequente, essas sensações
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tendem a gerar o aumento da manifestação do conservadorismo na mesma medida
de sua presença na cultura política latente dos indivíduos.
A NARRATIVA CONSERVADORA
Iremos dividir a revisão do conceito de conservadorismo em duas formas principais
de abordagem, a fim de deixá-la mais didática para qualquer tipo de leitura: a
primeira, mais focada em explicitar o que é o conservadorismo enquanto fenômeno
político e social a partir dos próprios autores conservadores, e uma segunda que busca
trazer alguns elementos analíticos para descrever em níveis teóricos e
argumentativos o pensamento conservador.
OS PENSADORES CONSERVADORES
Algumas ideias e concepções adotadas no pensamento conservador já existiam antes
mesmo de o termo existir. Com efeito, a base epistemológica conservadora já estava
presente na filosofia grega (PLATÃO, 2017; BARKER, 1959; HANS-GEORG, 2009;
ARISTÓTELES, 1997; BLOOM, 1991). Podemos citar como exemplo a presença de um
ordenamento divino capaz de compreender e definir pontos da realidade que a
humanidade não acessa. Além disso, é possível identificar a associação entre
moralidade, ética e política, e ainda a visão organicista e coletivista da sociedade, em
especial voltada ao bem comum.
Partindo para o período em que o conservadorismo já existia como uma categoria
política e teórica, começamos por Steiner (1988) e sua compreensão mais direcionada
às origens dos fundamentos e princípios morais que envolvem a visão conservadora.
Esse autor destaca a perspectiva de que o homem é naturalmente falho e todas as suas
ações para mudar a natureza das coisas está fadada ao fracasso, não havendo a
possibilidade de uma justiça ou estabelecimento de uma ordem perfeita a partir da
humanidade.
Justifica-se, para o conservadorismo, a importância das instituições já estabelecidas
ao longo do tempo enquanto símbolo do que é genuíno e dotado de legítima
autoridade (STEINER, 1988). As tradições são formas de conhecimento proveniente
das tentativas e erros anteriores. Essas respostas são implícitas, incorporadas e
compartilhadas na sociedade, por isso devem ser preservadas e reproduzidas mesmo
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quando não se é mais possível explicá-las ou justificá-las pela passagem do tempo
(SCRUTON, 2015).
A este respeito, Ortega y Gasset (1982) afirmam que é impossível iniciar o que já foi
construído e sedimentado. Esse passado seria o verdadeiro tesouro e maior fonte de
sabedoria para o homem, pois permite que os erros sejam evitados. Na concepção do
autor, provocar rupturas para reescrever a história é como dar passos atrás na
evolução humana. Nessa mesma lógica, Roger Scruton (2015, p. 8) afirma que “[...]
herdamos coletivamente coisas admiráveis que devemos nos empenhar para
preservar”.
Quando aplicado à ação política e social, o conservadorismo pode ser entendido como
um movimento que se preocupa em entender o mundo a partir de princípios morais
e, ainda, em agir de modo a preservá-lo ou reestruturá-lo em sua forma ordenada e
natural (NASH, 1976).
Entre os conservadores é predominante a ideia de que o conservadorismo jamais deve
ser compreendido como um credo ou uma doutrina, apesar de possuir um corpo
identificável de princípios e normativas (OAKESHOTT, 1991). Nessa lógica, o ser
conservador é composto de disposições tidas como naturais em se contentar com o
que existe no presente e recusar opções futuras incertas, mobilizando-se em torno
dos sentimentos de perda e medo (OAKESHOTT, 1991).
Desse modo, o governo ideal seria moderado e não abriria margem para paixões.
Notadamente, nos escritos de Burke (2012, 1982) acerca dos modos de representação
(mais especificamente sobre o parlamento inglês), e de sua crítica à Revolução
Francesa, destacam-se ideias substanciais do conservadorismo, tais como: direito
natural; sociedade dotada de uma estrutura orgânica mantida por um contrato
baseado na tradição – que tem por função organizá-la; e crença em um
condicionamento natural dos fenômenos e processos sociais que ocorrem
gradualmente.
CONTRIBUIÇÕES ANALÍTICAS SOBRE O PENSAMENTO CONSERVADOR
Seguindo a discussão sobre o conceito de conservadorismo, consideramos nesta
seção os autores que buscaram fazer uma sistematização dos elementos constituintes
do pensamento e argumento conservador, e destacamos Scruton (2015), Kirk (1953),
Huntington (1957), Hirschman (1992) e Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998). A
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escolha de Scruton (2015) e Kirk (1953) como primeiros teóricos deste segmento da
revisão se baseia no fato de esses autores serem referência dentro do próprio
conservadorismo e trazer diretamente em sua análise boa parte da retórica
conservadora. Com isso, estabelecemos uma espécie de elo entre os dois principais
eixos que organizam a seção.
Conforme sugere Scruton (2015), o conservadorismo pode ser dividido em duas
vertentes principais: metafísico e empírico. O primeiro está relacionado à crença e à
valorização dos aspectos tradicionais da sociedade e à necessidade de defendê-los. O
conservadorismo empírico é um fenômeno moderno resultante das reações
desencadeadas por movimentos de mudanças, como o Iluminismo.
Detalhando mais o cerne do pensamento conservador, temos como ponto inicial
marcante a crença conservadora em uma ordem transcendental que se reflete na
concepção de que os problemas políticos são problemas morais e religiosos.
Outrossim, liberdade e propriedade são identificadas como lados de uma mesma
moeda; consequentemente, é rejeitada a ideia de igualitarismo. Dessa forma, afirma
se que é importante a manutenção da divisão natural da ordem de classes enquanto
uma expressão saudável do princípio da diversidade social (KIRK, 1953).
Reforçando esse aspecto, Scruton (1980) argumenta que em grandes sociedades
somos interdependentes e estamos interligados inevitavelmente uns aos outros por
uma série de fatores (nacionalidade, lei, cidadania, vizinhança), e, por isso, é
imprescindível para coordenação e equilíbrio que haja uma estrutura ordenada e
disciplinada centrada na tradição.
Por fim, transformações devem ser vistas de forma desconfiada e cautelosa,
especialmente quando essas partem de abstrações, resultando em uma preferência
por reformas que sejam realmente salutares e que se deem de forma gradual. Sendo
assim, entre as principais virtudes de um estadista está a paciência (KIRK, 1953).
Kirk (1953) destaca a capacidade do conservadorismo em adaptar seu discurso frente
aos diferentes fenômenos de transformação. Contudo, o autor desenvolve uma lista
de princípios essenciais do pensamento conservador que se apresentam em qualquer
circunstância: 1) a crença de que intenções divinas governam a sociedade e a
consciência; 2) afeição pela estrutura social e modo de vida hierárquicos e
tradicionais; 3) convicção de que as sociedades civilizadas requerem ordem e divisão
em classes; 4) propriedade e liberdade como objetos inseparáveis; 5) fé na
desconfiança e prescrição em relação à racionalidade de desenvolvimento do
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pensamento e do conhecimento humano; e 6) reconhecimento de mudança e reforma
como coisas diferentes, sendo a inovação muito mais um instrumento de deflagração
de rupturas do que de avanços.
Diretamente relacionado ao quarto ponto indicado por Kirk (1953) como constituinte
do pensamento conservador, o conservadorismo liberal diz respeito à combinação da
defesa reformadora de instituições e de valores morais tradicionais com a promoção
e manutenção do livre mercado. Isto é, a soma do tradicionalismo com o liberalismo
econômico.
Na medida em que conservadorismo social e liberalismo econômico vão entrando em
simbiose, vai se consolidando e ganhando espaço o ideário defendido por liberais
conservadores, como denominou Carvalho (1991) ao descrever que: “Os liberais
conservadores eram exatamente isso, liberais conservadores. Seu conservadorismo
não eliminava o liberalismo. Seu modelo de sociedade, ou sua utopia política,
continuava sendo a sociedade liberal e a política liberal” (CARVALHO, 1991, p. 81-99).
É importante pontuar que conservadorismo está associado ao pensamento liberal
desde sua concepção, por assim dizer, uma vez que muitos de seus principais
fundadores são reconhecidos por seguidores dos dois ideários e suas obras atribuídas
a ambos os espectros, tais como o Hayek, David Hume, Alexis Tocqueville e Edmund
Burke.
A partir do estudo das ideias de autores conservadores, Ricupero (2010) reforça a ideia
de que o conservadorismo dá grande importância à história. O seu argumento se
baseia na ideia de que, diferentemente do progressismo – que vê o presente como
início do futuro, o conservadorismo o entende como o estágio mais avançado
alcançado pelo passado. Desse modo, conforme o autor, na concepção conservadora
do tempo e do espaço, o passado coexiste com o presente.
Mais afinado com o esforço de definição sistemática do conservadorismo aplicado
nesse estudo, Huntington (1957) o determina como sendo um sistema de ideias que
se mobiliza pela distribuição de valores sociais e políticos compartilhados por
determinados grupos. A partir dessa ideia, o autor define três teorias sobre as origens
do conservadorismo: 1) aristocrática – relacionado à terra, ao feudalismo e a
estruturas mais tradicionais; 2) autônoma – na qual não se está à priori filiado a
interesses de classe ou variáveis históricas; e 3) situacional – relacionada à defesa,
em determinadas circunstâncias, da ordem social vigente e suas instituições, sendo
esta última a concepção na qual se enquadra este estudo.
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A despeito dessas possíveis interpretações, elenca-se um conjunto de princípios
básicos do pensamento conservador. Primeiramente, a religiosidade, dado que o
homem seria por natureza um animal religioso, e, com isso, a religião é a base da
sociedade civil. A partir disso, a sociedade se mantém enquanto um produto natural e
orgânico do desenvolvimento gradual ao longo de sua trajetória. Aponta-se, ainda,
que a adoção de prudência e cautela são fundamentais, uma vez que a ação humana é
orientada, fundamentalmente, por emoções e instintos. A lógica da comunidade deve
sempre se sobrepor ao indivíduo, e, dentro desse contexto, os homens são
naturalmente desiguais. Além disso, as estruturas tradicionais e naturais devem
sempre ser preferíveis a qualquer modelo político novo (HUNTINGTON, 1957).
Outra forma de abordar o conservadorismo é a partir da observação e sistematização
da forma e conteúdo de seus argumentos. Nesse intento, Hirschman (1992) propôs
uma análise imparcial do discurso, deixando de lado as questões de personalidade e
dando destaque aos imperativos da argumentação. De um modo geral, o autor tem
como objetivo demonstrar que o pensamento conservador recorre sempre a uma
mesma estrutura de argumentação. Nesse esforço, são desenvolvidas três dimensões
fundamentais do discurso conservador: perversidade, futilidade e ameaça. A tese da
perversidade afirma que ações propositais com vistas a melhorar aspectos políticos,
sociais e econômicos podem acabar tendo efeito oposto e exacerbando a condição
inicial.
A tese da futilidade, por sua vez, explora a ideia de que as tentativas de transformação
são infrutíferas. Nesse ponto, observa-se claramente a lógica da impossibilidade de
se alterar de fato a ordem natural das sociedades orgânicas.
A última tese identificada por Hirschman (1992) é a da ameaça, na qual está presente
a crença de que o custo da mudança é muito alto em relação aos seus possíveis
benefícios. Igualmente, a implementação de mudanças por melhorias colocaria em
risco uma série de ganhos anteriores que estruturam e mantêm a sociedade em
ordem. Nesse ponto, evidencia-se a prerrogativa conservadora da cautela e
parcimônia mediante propostas de alteração nas instituições e valores arraigados da
sociedade.
Seguindo a lógica de estudar o discurso conservador, Bobbio, Matteucci e Pasquino
(1998) propõe uma abordagem que dê ênfase ao conteúdo do conservadorismo e não
somente à sua função. O autor também evidencia o caráter situacional e reativo do
conservadorismo ao argumentar que só é possível compreendê-lo com base na
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história, uma vez que ele surgiria enquanto um posicionamento conjuntural
alternativo ao progressismo e sua natureza dinâmica.
Contudo, o autor destaca que o conservadorismo não rejeita totalmente a ideia de
constante desenvolvimento da humanidade, mas o compreende como derivação de
um progresso evolutivo natural a partir da acumulação de experiências e da
valorização destas em relação a possibilidades futuras desconhecidas e incertas
(BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO, 1998). O avanço seria produto de um processo
que se contrapõe à lógica da autonomia do homem em construir melhorias a partir de
suas próprias capacidades.
Identificando os mesmos padrões dialéticos entre os pensamentos conservador e
progressista, Kirk (1953) elenca cinco escolas principais que buscam se contrapor às
ideias conservadoras: o racionalismo filosófico, a chamada emancipação romântica
dos utilitaristas, o positivismo, o coletivismo materialista e o darwinismo.
Com base na análise da bibliografia revisitada nesta seção, é possível identificar
alguns eixos temáticos ou focais do conservadorismo que podem ou não ser
concomitantes e estar inter-relacionados. São eles: nostálgico, moral, político e
econômico.
Com vistas a facilitar a compreensão dessa discussão mais abstrata, no Quadro 1
temos a sistematização do pensamento conservador a partir de seus principais temas.
Além disso, são resumidas a ideia central que define o segmento conservador e as
possíveis formas de expressão desses princípios em termos argumentativos e
comportamentais.
Tipo de foco
Quadro 1. Resumo dos eixos focais do conservadorismo
Ideia central
Nostálgico
Nostalgia romântica em relação ao passado.
Expressão
Revisionismo do presente com
base no passado, com vistas a
corrigir os erros.
Moral
Defesa de crenças e valores tradicionais sobre o
comportamento, atitudes e conduta.
Resistência a mudanças nos
papéis sociais e nas relações
humanas.
Político
Manutenção da ordem e da estabilidade a partir
da preservação das instituições políticas.
Defesa da hierarquia e rejeição
da possibilidade de rupturas e
revoluções.
Econômico
Proteção dos mecanismos da economia
entendidos como naturais e autorregulatórios.
Não há dissociação de
propriedade e liberdade e
rejeição à igualdade.
Fonte: Elaboração própria.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
Duarte – O que é o conservadorismo?... | 122
A partir deste ponto, é importante fazer dois comentários. O primeiro diz respeito à
relação do pensamento conservador, em especial em seu conteúdo nostálgico ou
romântico, com o termo reação. Uma vez que o conservadorismo ganha espaço
preponderantemente a partir de cenários de transformação e enquanto uma oposição
a eles, é quase que automático que se pense as expressões do conservadorismo como
ações reativas a algo.
Consequentemente, reacionarismo e conservadorismo são posicionamentos e
pensamentos que podem estar relacionados em alguns contextos. Contudo, é
importante salientar que, de modo mais amplo, eles possuem uma diferença bem
marcante: o primeiro visa, fundamentalmente, à retomada de modelos passados,
enquanto o segundo empreende uma defesa dos modelos próximos dos atuais e
enxerga a mudança como algo mais voltado para reformas lentas, graduais e naturais.
Com base nessa diferenciação, chegamos à segunda observação importante acerca do
pensamento conservador: ele não é uma negação total a qualquer mudança, mas as
vê com desconfiança e parcimônia, rejeitando modos mais diretos pelos quais tal
mudança possa ocorrer, como grandes transformações e rupturas. O
conservadorismo parte do postulado de que há uma ordem natural, evolutiva e
adaptativa da sociedade, cuja dinâmica e processos não dependem e,
preferencialmente, não devem partir do homem, devido às suas limitações. Logo,
sociedades conservadoras comportam mudanças, porém tendem a apresentar
resistência a medidas mais abruptas, especialmente se elas envolvem questões ou
instituições tradicionais reconhecidas como basilares.
Como um desdobramento dos pontos supracitados, sugere-se o questionamento da
natureza da aversão à mudança que caracteriza o pensamento conservador.
Conforme definido pela literatura (BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO, 1998;
HUNTINGTON, 1957; ROBIN, 2011) e em conformidade com a concepção adotada
neste artigo, não é qualquer reação a alterações políticas, econômicas e sociais que
pode ser definida como uma expressão do conservadorismo. Entende-se por
manifestação do conservadorismo os argumentos e ações que se oponham a
modificações nas dimensões culturais, políticas, sociais ou econômicas tradicionais.
Para tanto, são mobilizados valores e crenças específicos: relacionados a
pressupostos religiosos, tradicionais, hierárquicos/relativos à ordem, nacionalistas,
comunitários, de ceticismo em relação a melhorias e à capacidade humana autônoma
de empreendê-las.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
123 | DOSSIÊ
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
A partir do aprofundamento bibliográfico sobre o conservadorismo, cabe sintetizar e
relacionar esse eixo teórico antes de partir para a discussão do conceito assumido
neste estudo. No Quadro 2, os autores e princípios estão organizados em função de
sua abordagem. Isto é, em relação ao propósito principal dos pensamentos e
argumentos conservadores – se direcionados a definir a organização social, definir
normas morais ou determinar o funcionamento da sociedade.
Quadro 2. Pensamento conservador e autores
Abordagem Teóricos
conservadores
Estudiosos do
conservadorismo
Pensamento
Conservadorismo
social
Russell Kirk
Gilberto Freyre
Oliveira Vianna
Miguel A. Caro
Manuel Garcés
Samuel
Huntington
George Steiner
Russell Kirk
Há uma ordem divina que rege a
sociedade.
A sociedade é um fenômeno
orgânico.
Apelo ao senso de comunidade.
Conservadorismo
filosófico/moral
George Steiner
Russell Kirk
George Nash
Roger Scruton
Samuel
Huntington
Russell Kirk
Roger Scruton
Os homens são naturalmente
falhos.
A religiosidade e a fé são
fundamentos mais confiáveis do
que a racionalidade humana.
O homem é governado pelas
emoções e não pela razão.
Russell Kirk
George Nash
Russell Kirk
Todos os problemas humanos são
problemas morais.
O Estado está submetido a um
ordenamento moral divino
transcendental.
Conservadorismo
operacional
Alexis
Tocqueville
Edmund Burke
George Steiner
Gustave Le Bon
George Nash
Russell Kirk
Ortega y Gasset
Roger Scruton
Samuel
Huntington
Russell Kirk
Roger Scruton
O verdadeiro progresso é um
processo natural e gradual.
Deve-se proteger as estruturas
vigentes em relação às
possibilidades incertas para
aproveitar o presente e garantir o
futuro.
Friedrich Hayek
Russell Kirk
Samuel
Huntington
Russell Kirk
Há um direito natural que está
acima das necessidades ou
preferências individuais –
especialmente o direito à
propriedade privada.
Propriedade privada e liberdade
são indissociáveis.
Samuel
Huntington
Russell Kirk
Roger Scruton
Samuel
Huntington
Russell Kirk
Roger Scruton
As decisões devem ser orientadas à
tradição e à manutenção das
hierarquias, da ordem e das
instituições.
A diferenciação social em classes e
hierarquia deve ser mantida em
prol do bom funcionamento
natural da sociedade e da ordem.
Michael
Oakeshot
Karl Mannheim
Samuel
Huntington
Valorização do interno (nacional)
em relação ao externo
(estrangeiro/ desconhecido).
Fonte: Elaboração própria.
Duarte – O que é o conservadorismo?... | 124
O QUE É O CONSERVADORISMO
A partir de toda a discussão e reflexão feita no artigo, propõe-se definir o
conservadorismo como um conjunto de pressupostos que orientam os indivíduos à
preferência de tudo o que for tradicional e conhecido em detrimento da inovação ou
transformações. Desse modo, os princípios conservadores estão diretamente
atrelados a alguns pressupostos básicos: medo ou receio do novo/desconhecido,
desconfiança em relação à mudança e à ação puramente humana, apreço por normas
morais, hierarquias, instituições e comportamentos tradicionais. Disso deriva um
consequente apelo à preservação das estruturas da sociedade e preferência por
reformas lentas e graduais. Desse modo, o nível de conservadorismo de uma
sociedade ao longo do tempo se expressa através da forma pela qual essas crenças
estão incluídas e enraizadas nos valores e nos princípios morais e na intensidade com
que balizam as percepções, as atitudes e o comportamento dos indivíduos.
Deste modo, cabe anunciar as crenças sedimentadas pelos princípios conservadores:
1) existe uma lógica divina superior que regula os seres humanos e as normas sociais;
2) os homens são naturalmente falhos (pessimismo antropológico); 3) o progresso é
um processo natural, gradual e condicionado naturalmente; 4) a sociedade é um
fenômeno orgânico; 5) são fundamentais a tradição e a manutenção das hierarquias,
da ordem e das instituições; 6) são direitos naturais a propriedade privada e a
liberdade; 7) há um ordenamento moral divino transcendental que determina as leis;
8) o que é desconhecido é uma ameaça.
Dessas crenças, derivam valores conservadores; são eles: 1) a religião e as explicações
baseadas na fé devem se sobrepor ao conhecimento e à vontade humanos; 2) o ser
humano é preponderantemente emocional e por isso suas concepções não devem ser
tomadas como verdade; 3) os rumos da sociedade não devem estar submetidos à
decisão humana; 4) mudanças só devem acontecer a partir de processos naturais e
sem rupturas; 5) apelo ao senso de comunidade, aos papéis sociais e ao direito natural
acima das necessidades ou preferências individuais – especialmente o direito à
propriedade privada; 6) valorização da diferenciação social em classes e hierarquia
em prol do bom funcionamento natural da sociedade e da ordem; 7) devem ser
mantidas as estruturas vigentes ao invés de se aderir às possibilidades incertas do
futuro; 8) o Estado deve respeitar e ser regido por pressupostos morais
transcendentais; 9) valorização do nacional em relação ao externo.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
125 | DOSSIÊ
Tendo em mente essa estrutura teórica e analítica, iremos aplicar essa lógica a dois
casos específicos: Brasil e Estados Unidos em seguida, analisar como as dimensões
teóricas podem ser instrumentalizadas para a realidade empírica.
METODOLOGIA
UMA TENTATIVA DE INSTRUMENTALIZAR O CONCEITO DE
CONSERVADORISMO APLICADO AOS CASOS DE BRASIL E ESTADOS
UNIDOS
Os dados utilizados foram extraídos da Pesquisa Mundial de Valores (HAERPFER et
al., 2022; INGLEHART et al., 2014, 2009, 2004), ou, no idioma original, o World
Values Survey (WVS). Essa pesquisa conta com bancos de dados resultantes de
aplicações de questionários tipo survey ao longo de um período superior a 30 anos em
um total de mais de 100 países.
Os questionários da pesquisa foram examinados exaustivamente, buscando
selecionar variáveis que mensurassem dimensões relacionadas ao conservadorismo.
Foram considerados critérios como adequação empírico-teórica e a viabilidade do
uso da variável no que diz respeito a dois pontos principais: 1) a disponibilidade
dessas variáveis para uma quantidade significativa de países; 2) um recorte temporal
que permitisse comparabilidade entre as diferentes ondas executadas no século atual.
A seguir o resultado da decupagem da base de dados:
Quadro 3. Elaboração empírica/teórica
Conceitos
Operacionalização (variáveis WVS)
Crenças
Um dos maus efeitos da ciência é que ela acaba com as ideias das
pessoas sobre o que é certo e errado.
Trabalhar é uma obrigação para com a sociedade.
Homens são melhores que mulheres em: 1) política; 2) negócios.
A universidade é mais importante para meninos do que para
meninas.
Homens devem ter mais direito a emprego do que mulheres.
Nunca se justifica roubar propriedade privada de outros.
Não acredita ter capacidade de escolha.
Valores
O sistema político ideal é governado por leis religiosas, não há
partidos e eleições.
Importância da religião.
Importância de Deus.
Importância dada à tradição.
Preferência à competitividade em relação à igualdade de renda.
Importância da família.
Preferência pela iniciativa privada a empresas estatais.
Em conflitos entre a ciência e a religião, a religião deve prevalecer.
Gostaria que houvesse mais respeito pelas autoridades.
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Duarte – O que é o conservadorismo?... | 126
Uma qualidade importante nas crianças é a obediência.
Uma qualidade importante nas crianças é o senso de
responsabilidade.
Uma qualidade importante nas crianças é a fé religiosa.
Prefere segurança à liberdade.
Considera-se religioso.
Atitudes e
comportamento
Membro ativo de instituição religiosa.
Participação religiosa frequente.
Orgulho sobre a nacionalidade.
É um objetivo nacional manter a ordem.
Intolerância a vizinhos com hábitos diferentes (outra religião,
homossexuais, pessoas não casadas vivendo juntas, estrangeiros ou
de outras raças, pessoas que falam uma língua diferente).
Contra: aborto, prostituição, sexo antes do casamento
homossexualidade, eutanásia, divórcio.
Negação da contribuição da ciência e tecnologia para uma vida mais
saudável, confortável e fácil.
Não confia em pessoas de outras religiões e de outros países.
Impacto de imigrantes no país.
Nossa sociedade deve ser defendida contra uma revolução.
Nossa sociedade deve ser melhorada aos poucos por meio de
reformas.
Depende-se muito da ciência e não o suficiente da fé.
As pessoas têm dificuldade em decidir quais regras morais seguir.
A única religião aceitável é a minha.
Fonte: Elaboração própria.
Após esse processo de seleção de variáveis, elas foram tratadas de modo a se adequar
aos testes de análise fatorial. Esse método foi escolhido por ser uma importante
ferramenta para testar as construções empírico-teóricas de mensuração. Com efeito,
a partir da análise fatorial, é possível analisar a relevância empírica de cada variável
no modelo de mensuração de conservadorismo. Com isso, é oferecida a possibilidade
de se comparar teoria e realidade ao avaliar a coesão das variáveis de acordo com o
seu agrupamento resultante. Outra comparação viável diz respeito às
variações/diferenças da estrutura do conservadorismo em sociedades distintas.
Conforme ficou evidenciado na introdução, consideramos como manifestações
conservadoras atuais aquelas ocorridas neste século. Com isso, as ondas de
levantamento de dados que foram consideradas para a análise dizem respeito às
primeiras duas décadas do século XXI. Assim, foram utilizados os bancos a partir da
quarta até a sétima onda, com informações coletadas de 2001 a 2018. Antes de
partirmos para os resultados em si, é importante destacar as características dos casos
escolhidos e sustentar a escolha de comparação desses casos dentro do tema desse
estudo.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
127 | DOSSIÊ
O CONSERVADORISMO NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS
Foram selecionados dois países como unidades de análise para a aplicação do modelo
teórico desenvolvido: Estados Unidos e Brasil. A justificativa para esta escolha se dá a
partir de dois parâmetros fundamentais: 1) o significado político e social que as
manifestações conservadoras tiveram dentro e fora de seus países, isto é, seu nível de
contribuição para o avanço do conservadorismo neste século, já explicitado
detalhadamente no capítulo de contextualização; 2) a variabilidade de aspectos
estruturais e institucionais, que será mais bem detalhada nesta seção.
Destarte, dentro do campo da política comparada, seguimos a lógica identificada por
Teune e Przeworski (1970) de utilizar poucos casos com muitas variáveis com o
objetivo de aprofundar a análise de um fenômeno. O procedimento de comparação
selecionado para o estudo desses casos em específico é o método da semelhança de
John Stuart Mill. Nesta abordagem comparativa, os casos comparados devem ser
muito diferentes entre si, mas necessitam assemelhar-se na ocorrência do fenômeno
estudado e nas condições que se supõe que explicam tal fenômeno (MILL, 1886).
Aplicando essa lógica aos casos estudados, Brasil e Estados Unidos apresentam um
fenômeno em comum: avanço do conservadorismo no último século. No caso norte
americano, temos a eleição de Donald Trump a partir da implementação de uma série
de bandeiras claramente conservadoras: nacionalismo, visão moral e conservadora
da sociedade e da política, valorização da tradição. De maneira análoga, no Brasil, a
eleição de Jair Bolsonaro à presidência do país e a composição de um Legislativo
progressivamente comprometido com pautas conservadoras significaram o
fortalecimento e imposição de uma agenda política moral, tradicional e
economicamente liberal.
Em se tratando das diferenças entre os casos, comparamos resumidamente no
Quadro 4 as estruturas culturais e institucionais dos dois países.
Quadro 4. Resumo dos casos Brasil x Estados Unidos
Característica
Brasil
Estados Unidos
Colonização
Luso-ibérica
Católica
Inglesa
Religião
predominante
Protestante
Independência
1822 – Monarquia
1889 – República
1776 – República Federal
Constituição
1988 – Influência do direito
romano (rigidez).
1787 – Direito consuetudinário
(flexibilidade).
Sistema político
República
Federativa
República Federativa Presidencialista
Presidencialista
Sistema
partidário
Pluripartidarismo
Bipartidarismo
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Duarte – O que é o conservadorismo?... | 128
Eleições
Voto obrigatório e direto.
Voto não obrigatório e eleições
definidas pelo colégio eleitoral.
Cultura
Personalismo,
ceticismo
em
relação à política, rejeição à moral
do trabalho, colonialismo, moral
religiosa católica, patrimonialismo.
Puritanismo, apreço à ética do
trabalho, respeito aos códigos de
conduta, às instituições e à lei,
associativismo,
idealização
liberdade, nacionalismo.
Conservadorismo - Influência luso-espanhola; - Centrado no catolicismo; - Origem associada à monarquia,
ao unitarismo político e à moral
cristã.
da - Origem no liberalismo clássico - Principais fundamentos: defesa das
tradições
ocidentais,
liberdade,
individualismo, nacionalismo; - Duas vertentes principais:
conservadorismo
fiscal
conservadorismo social.
Fonte: Elaboração própria.
e
Definida a metodologia e instrumentalização empírica, na próxima seção são
apresentados os resultados para as análises fatoriais dos dois casos.
RESULTADOS
Nesta etapa, finalmente avaliamos os instrumentos empíricos de mensuração. Deste
modo, cumprimos os objetivos de comparar teoria/realidade e os dois casos
selecionados. Além disso, visamos contribuir com novos estudos e aplicações do
conceito ao analisar a relevância e a coesão das variáveis. Efetuamos a análise fatorial
no software estatístico JASP2. Não foram feitas limitações à quantidade de fatores,
devido ao objetivo exploratório da execução da análise fatorial neste estudo e porque
algumas dimensões já foram previamente divididas conforme a teoria. Seguindo a
definição de Hair (2009)3, as cargas fatoriais serão consideradas satisfatórias neste
estudo quando forem ≥ 0,3.
Tabela 1. Análise fatorial – crenças Brasil
Fatores
Variáveis
Papéis sociais de
gênero
Homens são melhores executivos do que as mulheres
Defesa propriedade
privada
Homens são melhores líderes políticos do que as mulheres ,686
,762
Universidade é mais importante para os meninos do que
para as meninas
,569
Em situações de escassez de postos de trabalho, homens têm
mais direito a emprego do que as mulheres
Nunca se justifica roubar propriedade privada de outros
,418
,618
Estimador: Diagonally weighted least squares. Método de rotação: promax. KMO = ,709. Bartlett's Test of
Sphericity Sig. ,001. RMSEA = ,043. TLI = ,935. Fonte: Elaboração própria.
2JASP (Version 0.14.1) [Computer software] (JASP TEAM, 2020).
3Conforme o autor: cargas fatoriais na faixa de ± 0,30 a ± 0,40 são consideradas como atendendo ao nível
mínimo para interpretação. Cargas de ± 0,50 são tidas como praticamente significantes. Cargas excedendo
+ 0,70 são consideradas indicativas de estrutura bem definida (HAIR, 2009).
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129 | DOSSIÊ
Nos dados do Brasil, a análise fatorial para a dimensão de crenças conservadoras
resultou em dois fatores com cargas fatoriais significativas. O primeiro foi
classificado como papéis sociais de gênero, por abranger questões referentes à
percepção sobre função e desempenho de homens e mulheres comparativamente. O
segundo fator contém a variável de defesa da propriedade privada, que é um princípio
diretamente associado à parte da ideologia liberal que está presente no
conservadorismo. As seguintes variáveis não atingiram carga significativa: a)
avaliação do papel da ciência na desconstrução das ideias sobre o que é certo e errado,
b) “trabalhar é um dever que temos para com a sociedade” e c) percepção acerca da
própria capacidade de escolha.
Tabela 2. Análise fatorial – Crenças Estados Unidos
Fatores
Variáveis
Papéis sociais de
gênero
Homens são melhores executivos do que as mulheres
Defesa propriedade
privada
Homens são melhores líderes políticos do que as mulheres ,825
,970
Universidade é mais importante para os meninos do que
para as meninas
,728
Em situações de escassez de postos de trabalho, homens têm
mais direito a emprego do que as mulheres
Nunca se justifica roubar propriedade privada de outros
,409
,465
Estimador: Diagonally weighted least squares. Método de rotação: promax. KMO = ,765. Bartlett's Test of
Sphericity Sig. ,001. RMSEA = ,051. TLI = ,956. Fonte: Elaboração própria.
Assim como no caso brasileiro, a análise fatorial das variáveis referentes à dimensão
de crenças no caso norte-americano resultou em dois fatores que apresentaram
cargas fatoriais significativas. Igualmente, os dois fatores são: papéis sociais de
gênero e defesa da propriedade privada. Também de forma semelhante, ambos são
compostos pelas mesmas variáveis nos dois países.
Tabela 3. Análise fatorial – valores Brasil
Fatores
Variáveis
Religiosidade
Segurança
Importância da religião na vida
,732
,439
Organização
política/social
Senso de
dever
Qualidade importante nas crianças: fé
religiosa
Importância de Deus na vida
,336
Prefere segurança à liberdade ,429
Ter um sistema regido pela lei religiosa
no qual não há partidos políticos ou
eleições
,554
Em conflitos entre a ciência e a religião,
a religião deve prevalecer.
Qualidade importante nas crianças:
responsabilidade
,478
,761
Estimador: Diagonally weighted least squares. Método de rotação: promax. KMO = ,683. Bartlett's Test of
Sphericity Sig. ,001. RMSEA = ,022. TLI = ,944. Fonte: Elaboração própria.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
Duarte – O que é o conservadorismo?... | 130
O conjunto de variáveis selecionadas para corresponder à dimensão de valores, para
o caso brasileiro, resultou em uma análise fatorial de três fatores diferentes. No
primeiro fator, as cargas significativas ocorreram para variáveis relacionadas à
religião. Em contrapartida, as variáveis sobre ter um sistema político religioso e a
preferência da religião em contraposição à ciência apresentam carga significativa no
terceiro fator, com isso, interpretamos que o conteúdo principal em comum que
caracteriza esse fator são os aspectos da organização política, econômica e social. No
segundo fator, a variável que mensura a preferência da segurança à liberdade ficou
isolada.
Variáveis
Tabela 4. Análise fatorial – Valores Estados Unidos
Fatores
Religiosidade Organização
política/social
Importância da religião na vida
,955
Preferência
empresa
privada
Importância de Deus na vida ,799
Qualidade importante nas crianças: fé religiosa
,738
Em conflitos entre a ciência e a religião, a
religião deve prevalecer.
Ter um sistema regido pela lei religiosa no qual
não há partidos políticos ou eleições
,663
,396
Prefere segurança à liberdade. ,343
Uma mudança desejada para o futuro: ter maior
respeito pelas autoridades
,519
Preferência por empresas privadas ou públicas -,308
Estimador: Diagonally weighted least squares. Método de rotação: promax. KMO = ,809. Bartlett's Test of
Sphericity Sig. ,001. RMSEA = ,050. TLI = ,932. Fonte: Elaboração própria.
A análise fatorial das variáveis que compõem a dimensão de valores para o caso
norte-americano gerou três fatores. No primeiro fator as variáveis relativas à
religiosidade obtiveram carga fatorial alta. No segundo fator, sobre organização
política/social, as variáveis referentes à preferência por um sistema regido pela lei
religiosa, à preferência pela segurança em relação à liberdade e ao desejo de que no
futuro haja mais respeito pelas autoridades obtiveram cargas fatoriais significativas.
No terceiro fator, a variável que mede a preferência por empresas privadas a públicas
apareceu isolada, podendo ser interpretada como um valor associado ao aspecto
econômico do funcionamento do país.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
131 | DOSSIÊ
Tabela 5. Análise fatorial – atitudes e comportamentos (Brasil)
Estimador: Diagonally weighted least squares. Método de rotação: promax. KMO = ,697. Bartlett's Test of Sphericity Sig. ,001. RMSEA = ,027. TLI = ,924. Fonte: Elaboração
própria.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
Duarte – O que é o conservadorismo?... | 132
Para o caso brasileiro, a análise fatorial das variáveis selecionadas para compor a
variável de atitudes e comportamentos conservadores resultou em sete diferentes
fatores, classificados como: temas sensíveis, desconfiança com pessoas diferentes,
ordem, ciência e tecnologia, religião, intolerância e nacionalismo. No primeiro fator
ficaram agrupadas as variáveis referentes às atitudes dos indivíduos em relação ao
aborto, eutanásia, prostituição e divórcio. No segundo fator, aparecem as duas
variáveis que mensuram desconfiança interpessoal. No terceiro, encontram-se as
duas variáveis que questionam a importância de manter a ordem nacional. No quarto
fator, se relacionam as variáveis que medem a percepção das pessoas sobre o papel da
ciência e tecnologia na vida pessoal e coletiva. No fator referente à religião, ficaram
as variáveis que estimam o nível de participação e religiosidade dos indivíduos. No
sexto fator, ficaram todas as variáveis que medem o nível de intolerância dos
indivíduos a vizinhos com características, hábitos e identidades diferentes dos seus.
No último fator ficou isolada a variável nacionalismo.
De um modo geral, os fatores se mostram bastante coesos, agrupando variáveis
semelhantes e com temas bem definidos.
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133 | DOSSIÊ
Tabela 6. Análise fatorial – atitudes e comportamentos (Estados Unidos)
Estimador: Diagonally weighted least squares. Método de rotação: promax. KMO = ,869. Bartlett's Test of Sphericity Sig. ,001. RMSEA = ,050. TLI = ,896. Fonte:
Elaboração própria.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
Duarte – O que é o conservadorismo?... | 134
Por fim, as cargas fatoriais referentes a atitudes e comportamentos conservadores no
caso americano ficaram divididas em cinco diferentes fatores: temas sensíveis,
intolerância, ciência versus fé, preferência pelo conhecido e religião. No primeiro fator
ficaram agrupadas as variáveis de atitudes em relação aos temas: divórcio, sexo antes
do casamento, aborto, prostituição, eutanásia e homossexualidade, juntamente com
a variável de intolerância religiosa. Assim como no caso brasileiro, esse fator parece
estar associado fortemente a dogmas religiosos e aos temas que são considerados
pelo conservadorismo como ameaças à família e à vida.
No segundo fator, estão presentes o conjunto de variáveis que dizem respeito à
intolerância com vizinhos que possuam características, hábitos ou identidades
diferentes daquelas dos entrevistados. No terceiro fator, ficou isolada a pergunta
sobre a sociedade depender mais da ciência e não o suficiente da fé. No quarto fator
temos um conjunto de variáveis que dizem respeito ao funcionamento social: o papel
da ciência e da tecnologia, regras e o impacto de imigrantes no país. No último fator,
ficou isolada a variável de nacionalidade.
Foi feito neste estudo o esforço de oferecer ferramentas para compreender e
mensurar o conservadorismo. Deste modo, o objetivo central foi analisar o fenômeno
complementando teoria e empiria.
CONCLUSÃO
A princípio, o conservadorismo parece um fenômeno facilmente identificável e
claramente definido. Nos períodos em que ascendem as chamadas “ondas
conservadoras”, é extremamente comum ver pessoas utilizando o termo para fazer
classificações, argumentações, discursos, diagnósticos e prognósticos (dentro e fora
da comunidade acadêmica). E, talvez, seja justamente esse o principal desafio para o
debate do tema. Quando, em geral, acredita-se que algum objeto político e social é
conhecido, poucos se preocupam em realmente compreender o seu papel e seu
significado.
Com efeito, a despeito da recorrência de instabilidades políticas, econômicas e sociais
concomitantes a avanços conservadores, a bibliografia tradicional ainda é incipiente
em capacidade analítica teórica e aplicada. Destarte, o esforço para olhar o fenômeno
por uma perspectiva mais pragmática é relativamente atual e ainda é um debate em
construção nas ciências humanas. Inserido nesse empenho, este estudo teve por
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
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objetivo contribuir para a construção de conhecimento mais robusto acerca das
características do conservadorismo.
Podemos começar destacando um achado importante e que suscita maior
desenvolvimento em novos estudos, a revisão teórica, a perspectiva histórica e a
contextualização do conservadorismo em suas manifestações mais atuais nos
sugerem que regularmente contextos de instabilidade e avanços conservadores
coincidem.
Nesse contexto, a realização da análise fatorial foi fundamental para filtrar e refinar
essas dimensões que aparecem no discurso conservador quando traduzidas em
variáveis. O resultado corroborou a instrumentalização elaborada, pois a maioria das
variáveis
selecionadas
apresentaram
cargas
fatoriais
significativas.
Complementarmente, os fatores formados corresponderam a temas que já haviam
sido identificados teoricamente como princípios conservadores.
Na comparação entre os casos, a análise fatorial resultante teve alguns elementos
diferentes (presença ou ausência de variáveis e composição dos fatores), tais como a
interpretação sobre a ciência ou o desempenho das variáveis relativas à religiosidade.
Destarte, essa análise indica que mesmo que Brasil e Estados Unidos compartilhem
de estruturas conservadoras, os indivíduos desses países apresentam diferentes
modelos ou tipos de conservadorismo.
Assim sendo, outro achado importante da análise fatorial exploratória foi a
identificação de quais princípios conservadores têm coesão teórica-empírica no
Brasil e nos Estados Unidos. Avaliando as dimensões conservadoras a partir de uma
divisão temática, tiveram coerência os seguintes aspectos: papéis sociais de gênero,
ideologia liberal econômica, religiosidade, formas de organização social, hierarquia,
nacionalismo, moralidade, intolerância, senso de comunidade e normas de conduta.
Esperamos que esses achados possam servir de referência a outros estudos sobre o
avanço do conservadorismo no século XXI no Ocidente.
Como continuidade deste estudo, seria importante avaliar diferentes ferramentas
analíticas e de mensuração. Fica aqui o convite para tal iniciativa, porque se o terreno
ainda é pouco conhecido, fica evidente neste artigo que o solo é fértil. O esforço para
compreender um fenômeno complexo, não profusamente explorado e ainda durante
o seu desenrolar é desafiador, mas sem dúvidas é de fundamental importância para o
campo de conhecimento e é muito estimulante à curiosidade do pesquisador.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 110-138, jan.-abr. 2023
Duarte – O que é o conservadorismo?... | 136
Com isso, esperamos ter contribuído com resultados, insights e ferramentas teóricas
e empíricas que contribuam para a execução de novas pesquisas e a construção de
conhecimento sobre o tema.
SOBRE A AUTORA
Jéssica da Silva Duarte: Pesquisadora de pós-doutorado em Ciência Política na Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), Brasil. Doutora e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Bacharel em Ciências Sociais pela mesma universidade. Membro da rede World Values Survey, do
NUPRI-USP e do Imakay Research Hub no Brasil. Trabalha com a temática de comportamento político
aplicado ao conservadorismo e à desinformação. A dissetração da autora Jéssica da Silva Duarte *
Mário Celso Petraglia, presidente do Conselho Administrativo do Athletico Paranaense, é conhecido por um estilo de gestão centralizador e intervencionista, o que frequentemente inclui cobranças diretas à comissão técnica e jogadores.
Embora não haja relatos diretos e confirmados de que ele interfira pessoalmente nas escalações dos times, sua forte presença e a pressão exercida nos bastidores são fatores significativos no dia a dia do clube:
Cobranças no CT: Petraglia tem como rotina visitar o CT do Caju e se reunir com a comissão técnica para cobrar resultados e "postura" da equipe, especialmente após resultados ruins. Essas reuniões têm um tom de alerta, vindo da autoridade máxima do clube.
Gestão Autoritária: Sua gestão é frequentemente descrita como "autoritária" e centralizadora, o que historicamente resultou em um alto número de trocas de técnicos ao longo de seus mandatos (mais de 50). Esse ambiente de alta pressão e a busca por um modelo de jogo que ele considera ideal podem levar os treinadores a se sentirem pressionados a seguir determinadas diretrizes.
Influência Indireta: A interferência pode ocorrer de forma mais sutil, através da definição de perfis de jogadores a serem contratados e da filosofia geral do futebol do clube, o que limita as opções dos técnicos.
Declarações Públicas: Petraglia já admitiu em entrevistas que a gestão deu "carta branca errada" para algumas pessoas no passado, indicando um desejo de manter controle estrito sobre as decisões do futebol.
, a influência de Petraglia é inegável e se manifesta em cobranças e na definição de rumos, mas a escalação tática e técnica do time no dia a dia geralmente fica a cargo do treinador, ainda que sob intensa pressão e escrutínio da presidência.
O conservadorismo, como ideologia política, tende a defender a manutenção das instituições sociais tradicionais, das hierarquias e da estabilidade, o que, em algumas manifestações e interpretações, pode estar associado a uma concentração de poder. No entanto, a relação entre conservadorismo e poder é complexa e varia de acordo com o contexto histórico e regional.
Princípios e Concentração de Poder
Defesa da Hierarquia Social: Uma característica comum a muitas vertentes do conservadorismo é a crença na existência de uma ordem moral duradoura e na importância da hierarquia social. A manutenção dessas hierarquias pode, por inerência, implicar a preservação das estruturas de poder existentes, que frequentemente são concentradas em determinados grupos ou instituições (como a igreja, a família tradicional e o Estado centralizado).
Centralização do Poder Político: Historicamente, algumas manifestações do conservadorismo defenderam a centralização do poder. No Brasil Império, por exemplo, o Partido Conservador defendia um regime monárquico fortemente centralizado nas mãos do imperador para garantir a estabilidade e a unidade territorial, em oposição aos liberais que buscavam a descentralização.
Classes Dominantes: Análises críticas sugerem que o conservadorismo pode atuar como uma ideologia ou estratégia política das classes dominantes para preservar seus privilégios e o status quo, reagindo a conquistas de direitos por parte de grupos historicamente marginalizados.
Variações e Críticas
Diversidade de Vertentes: O conservadorismo não é monolítico. Existem vertentes libertárias que defendem a menor intervenção do Estado na economia e nas liberdades individuais (especialmente onde esses valores fazem parte da tradição), enquanto outras são mais autoritárias. O conservadorismo se adapta às tradições locais, o que significa que um conservador indiano pode ter visões diferentes de um americano.
Controle Político vs. Religioso: Algumas escolas do conservadorismo argumentam que a diminuição do controle religioso em sociedades seculares leva a um aumento do controle político, abrindo caminho para o autoritarismo.
Mudanças Graduais: O conservadorismo, embora desconfie de mudanças sociais bruscas e revolucionárias, não é necessariamente contrário a todas as mudanças, mas busca que elas sejam graduais, necessárias e dentro da "arte do possível", visando a estabilidade política.
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Imagem ; ESPAN Brasil.
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